CÚMPLICE POR ACASO
CUMPLICE POR ACASO
. O ASSALTO
Naquela manhã, sexta-feira, último da semana, a estafa era grande, mas Henrique
tinha que cumprir suas tarefas, pois, era seu próprio patrão e não tinha motivos para desânimo; sua agência de publicidade ia de vento em popa
. Ao primeiro toque do rádio relógio acordou, nem tinha notado que Belinha, sua esposa, já
tinha acordado; ao sair do banho lá estava ela com se belo sorriso para lhe desejar um bom dia,
que seria muito especial, iriam comemorar dez anos de casamento
- Bom dia querido, feliz aniversário, disse Belinha ao lhe servir o café.
Depois um carinhoso beijo, disse que após deixar as crianças na escola
iria fazer compras para a recepção que fariam logo mais à noite para os parentes e amigos
e só à tarde poderia ir para a agência ajuda-lo.
- Tudo bem querida, respondeu Henrique,
- Hoje tenho só três contratos para renovar, já estão prontos e após colher as assinaturas vou depositar os cheques, termino cedo.
Dito isto, tomou seu café e saiu pensando no belo dia ensolarado que iria fazer. Ao caminho da agência ia pensando na tranqüilidade da sua vida; da sua cidade, como era bom morar numa cidade de porte médio, pacata, conhecia quase todas pessoas, eram todas amigas; com exceção dos funcionários da grande empreiteira da ponte sobre um grande lago; eram milhares trouxeram um grande movimento para a região.
- Bom dia Seu Joaquim, disse ao porteiro do prédio, ao entrar no elevador encontrou Dona Elvira sua secretária, e começaram a traçar as estratégias do dia, por volta das 11,00
horas, levantou-se da mesa, dizendo:
- D. Elvira, vou ao banco, mas não demoro.
Ao chegar, notou filas enormes nos caixas, era dia de pagamento da empreiteira, parecia uma festa; foi direto à gerência,
- Bom dia Seu João, hoje está complicado!
- É meu caro Henrique, banco é assim todo mundo correndo atrás de dinheiro;
aguarde-me um minuto que já estou terminando de atender Dona Ana, e preciso lhe
falar dos novos investimentos do banco.
Henrique acomodou-se numa cadeira e muito observador, olhando as pessoas pensou:
- Nossa que miscigenação, quanta gente diferente esta obra trouxe para nossa cidade.
- Por favor, sente-se aqui, disse-lhe o gerente; - parabéns pelo sucesso dos seus negócios que
estão indo tão bem; também com uma multidão para consumir as empresas precisam de
um bom trabalho publicitário para divulgar seus produtos.
Nesse momento aproximou-se uma jovem, pediu licença e abriu uma pequena pasta mostrando seu interior ao Seu João e lhe disse algo em voz muito baixa; o gerente ficou sem jeito, sem fala, a jovem tornou a lhe falar e indicou várias pessoas no interior do banco, depois sentou-se ao lado de Henrique dizendo:
-Oi bonitão, fica bem quietinho que é um assalto.
Notando a surpresa e a desconfiança de Henrique, mostrou-lhe o interior da pasta, nesse
momento ele entendeu a mudez e palidez do gerente, havia na pasta duas granadas e uma
pistola automática, dizendo:
- Bonitão ajude o gerente ficar calmo que tudo irá correr bem, não dê bandeira, tem muita
- gente e se tumultuar vai haver muitas mortes.
- Henrique dirigiu-se ao Seu João - Vamos ficar calmos e seguir as ordens.
- Si, sim balbuciou pálido e já suando muito.
Henrique dirigiu-se à jovem:
- O que devemos fazer senhorita, disse à loira, que devia ser falsa, sempre muito alerta, por trás do seu óculo escuro.
Ela os olhou por um minuto, deu uma olhada no ambiente, que ainda estava muito calmo, dizendo ;
- Fiquem normais nada de reações nervosas, Sr. Gerente peça ao chefe dos caixas que separem dinheiro para um grande saque que irá ser feito em breve, se perguntar diga que é para a empreiteira, depois chame o Sub-gerente que eu vou com ele ao cofre.
Ficaram gelados com a frieza e determinação da moça, Henrique tentou falar:- Moça isto
não vai dar certo, ela o encarou e retrucou;
- Reze para dar certo, senão as funerárias vão ter muito trabalho.
O sub-gerente chegou todo agitado, como era seu costume, mas quando viu as armas empalideceu e quase caiu, Henrique o amparou e explicou o que ocorria, pois, Seu João nem conseguia falar, disfarçava fingindo que lia um contrato.
A moça sorridente chegou ao seu lado dizendo:
Fica frio e vamos fazer o que eu lhe disser que tudo fica numa boa, colocou a mão em
seu braço e se dirigiram ao cofre. Era inacreditável ninguém tinha notado nada, os clientes,
os funcionários e nem o guarda!
Após se dirigirem ao cofre Seu João disse ao Henrique:
- Vou acionar o alarme.
- Não faça isso, respondeu Henrique, vai acontecer uma tragédia, tem muita gente; logo
- em seguida um dos caixas trouxe um grande pacote com dinheiro.
- Seu João tem duzentos mil; desconfiado perguntou: - O Sr. esta bem? está pálido!
- É o calor, respondeu ao rapaz que olhou para Henrique querendo entender o que estava acontecendo.
- É o strees da sexta-feira de pagamento, falou Henrique.
A moça voltou e mandou o Sub-gerente sentar-se ao meu lado, pegou o dinheiro que o caixa havia trazido e colocou numa mochila e pediu ao gerente um papel para assinar, simulando um saque. Nesse momento o telefone tocou, Seu João atendeu e ficou mais pálido, sem responder, olhou para a moça tapou o fone e disse quase sem voz:
- É da delegacia, o alarme disparou e eles querem saber o que está acontecendo; a
moça levantou-se olhou ao redor deu um sinal com a cabeça, virou-se para para o gerente:
- Diga que deve ser um curto-circuito, porque aqui está tudo calmo; o gerente repetiu suas palavras, pediu desculpas s desligou.
A FUGA
Mas o delegado notou a insegurança na voz do gerente e mandou uma viatura para averiguar. Logo que a viatura parou em frente ao banco, aconteceu uma ação rápida dos assaltantes: um que estava próximo do guarda, o dominou desarmando-o fazendo deitar-se, outro fechou a porta e posicionou-se atrás de dois clientes; ela sacou a automática, ficou atrás do gerente e ordenou que todos ficassem calmos que não iriam ferir ninguém. Houve muitos gritos, choros histéricos, mas logo os quatros assaltantes dominaram a situação. Seu João não conseguia nem falar, Henrique tentou acalmar a situação, mas logo a moça gritou:
Quero saber que acionou o alarme, vai ser o meu escudo contra a polícia, vai levar o primeiro tiro.
Não faça isto, a polícia não vai atirar, tem muita gente, falou Henrique; a moça muito alterada, retrucou
- Cala a boca bonitão, você sabe que cerco policial não é brincadeira, vai sair bala pra todo lado.
- Não moça, vamos manter a calma, respondeu Henrique, alterada ela respondeu
- Já te mandei calar, não me enche, se não você também vira escudo; neste momento o celular de Henrique tocou,
- Não atende gritou a moça, mas como não parava de tocar, pediu a ela que permitisse atender, concordou, mas que fosse bem rápido.
Era a mulher de Henrique, que ao ouvir a choradeira quis saber o estava acontecendo no interior do banco: ficou alarmada ao ficar sabendo do que estava ocorrendo, começou a chorar, desligando.
Em poucos minutos a polícia efetuou o cerco, os assaltantes ficaram exaltados ameaçando todos, fizeram um fila de pessoas na porta, sem saber o que fazer, não contavam com esta situação.
Nesse momento Henrique falou:
- Moça deixe-me ajudar, posso fazer isso;
- Esta bem, mas fala rápido, sem enrolar, estou sem tempo,
- Só tem um jeito de vocês sair daqui, é com reféns,
- Ora isso eu já sei, se babaca, vou botar vocês na frente e abrir caminho até os carros,
- Não pode ser assim, os atiradores de elite podem abrir fogo,
- Ai nós também vamos mandar bala, vai morrer muita gente,
- Eu tenho um jeito de sair, me escute, por favor,
- Diga logo,
- Peça 10 lençois brancos,
- Para que? ninguém quer dormir numa hora dessa,
- É para vocês se camuflarem com os reféns, assim a polícia não vai saber que é quem e não pode atirar,
- Aí bonitão, mandou bem, gostei, pode pedir os lençois.
Logo os lençois foram entregues, Henrique lhes mostrou como fazerem os buracos para os olhos e se cobrirem.
- Grande, gostei desta, Bonitão, agora sei que tem boas idéias, e depois que faremos? disse a moça.
- Agora escolham seis pessoas com porte físico iguais a vocês, vistam o lençois e podem ir aos carros.
- Muito bem pensado, vamos fazer o que ele diz rapazes.
- Bom, agora já podem sair sem disparar um tiro.
- Vou levar você comigo, Bonitãao suas idéias vão me ajudar muito.
- Por favor, não faça isso, hoje faço dez anos de casamento e teremos uma recepção, mais tarde.
- Não se preocupe, logo estará de volta para sua festa.
Antes de sair, pediram lanches, cobriram-se com os lençois, ao sairem, a policia nada pode fazer.
- Bonitão quero saber seu nome,
- Henrique.
- Belo nome. Neste momento chegou um dos assaltantes dizendo,
- Betinha, peça para trazerem bastante catchup, para por nos lanches, a moça se exaltou:
- Seu imbecil não disse que não para dizer nomes!
Logo em seguida, dirigiram-se para os carros no estacionamento do banco, todos cobertos com os lençois, a polícia ficou sem ação.
Já na estrada, Betinha falou ao Henrique,
- Como vamos nos livrar da polícia? Estão nos seguindo e vão formar um cerco.
- Fica calma que vamos dar um jeito.
Logo à frente tinha que cruzar uma grande ponte, e ao chegar ao meio dela depararam com viaturas na saída da ponte.
Betinha e os cúmplices ficaram muitos agitados, ameaçando os refens, Betinha mandou por um refém para fora do carro e atirar nele, Henrique interferiu dizendo:
- Não faça isso, calma,
- Não tem outro jeito, vamos ter que atirar, retrucou ela.
- Tem sim, coloque o frasco de catchup por baixo do lençol encostado na cabeça do refém, encoste no vidro do porta e atire no frasco.
- Boa, faça isso Toinho. O estampido deixou todos surdos por alguns segundos, o vidro do carro ficou todo lambuzado, imediatamente a policia recuou, e permitiu a passagem dos assaltantes.
NO MOTEL
Seguiram até a próxima cidade, e Henrique indicou que fossem ao Shooping, e entrassem no estacionamento sub-terrâneo; lá chegando os orientou a trocarem de carros com os fregueses que fossem sair, deixando-os presos nos carros que estavam usando, já que a polícia estava momentaneamente despistada. Feito isto, seguiram em outra estrada.
Entraram em outra cidade; mandou dois dos rapazes irem a uma locadora para alugar uma Van, com documentos falsos; feito isto, seguiram por alguns quilometros em outra direção e abandonaram num canavial os carros roubados.
Seguiram viagem, Henrique, comentou com Betinha:
- Vocês não parecem pessoas más, porque estão fazendo isto?
- A história é a seguinte, nós somos da mesma família, e temos um grande problema, um dos meus sobrinhos de 6 anos, nasceu com uma doença no coração e necessita de uma cirurgia bem grande e muito cara, e o governo não quer pagar; então resolvemos agir desta forma para pode salvar a vida do menino; todos somos trabalhadores, só fizemos este assalto para conseguir o dinheiro. Já acabou não voltaremos a fazer isto.
Já tarde da noite, passaram em frente a um motel, decidiram pernoitar,
- Betinha chamou Henrique e Toinho, para uma das suites, ao entrar pediu champanhe, chamou Henrique ao quarto, trancou a porta dizendo:
- Vou me banhar, vá se deliciando com a bebida que já volto, não tente nada que Toinho esta na sala.
- Ao sair do banho, envolta numa toalha, tomou uma taça de champanhe brindando com Henrique o sucesso da operação, depois, o abraçou o começou a beijá-lo; Henrique quis se afastar, mas ela insistiu e o arrastou para a cama. Não teve como resistir, era uma mulher muito bonita e sensual, ao deixar cair a toalha, Henrique perdeu a noção das suas responsabilidade, e entregou-se ao fascínio da morena deslumbrante.
Foi como uma noite de núpcias, sob o efeito da champanhe, se amaram muitas vezes.
O interfone tocava insistente, até que Henrique acordou e atendeu, lhe disseram:
Pediram que lhe chamasse às 12,00 horas, levantou e notou que estava só, foi à sala e viu um bilhete sobre a mesa:
Adeus Henrique, meu bonitão, seja muito feliz, obrigado por esta noite maravilhosa, me desculpe pelo dope na última taça de champanhe, mas foi necessário; pena não poder levá-lo comigo, você já tem dona; talvez um dia a gente se veja novamente.
Neste momento o celular tocou, ela Betinha:
- Oi Henrique esta tudo bem?, me perdoe por agir assim, após ler meu bilhete, destrua, vou sentir saudades, mas a vida é assim, beijos, desligou sem esperar resposta.
Ao vestir a calça notou uma pequena quantia em dinheiro; chamou um taxi, ao cheqar na estação rodoviária, ligou para a esposa, que estava desesperada, em prantos, dizendo:
- Estou indo para casa, está tudo bem não avise ninguém, nem a polícia, quando chegar, explico tudo.
- Henrique o que houve, você desapareceu, até a policia esta suspeitando que faz parte da quadrilha.
- Não é nada disso, e você sabe, agi daquele modo para evitar muitas mortes, ao chegar esclareço tudo, beijos.
Ao chegar, Belinha o aguardava na porta desesperada, após, muitos abraços e beijos, também nas crianças, dirigiu-se à delegacia para dar depoimento.
Alguns meses depois, após infinitas entrevistas com rádios e TVs, comentando sobre o acontecimento, tudo voltou ao normal, na rotina calma da pacata cidade; Henrique estava contemplando o nascer do sol, pela janela, quando D. Elvira, pelo interfone o chamou para atender uma ligação;
- Alo bonitão, como vai, Henrique assustou-se, aquela voz parecia da Betinha, -Sou eu sim, estou ligando para saber de tu?
- Aqui está tudo bem, e vocês, como estão?
- Esta tudo certo, meu sobrinho fez a cirurgia e se recuperou, estamos felizes, nas reuniões da família sempre falamos de tu, quando lembramos da historia do catchup, é uma farra danada, tenho mais uma notícia, está só?
- Sim Belinha ainda não chegou.
- Então escute, estou imensamente feliz, carregando a semente do homem que sempre quis, jamais vou te procurar, mas tem o direito de saber, vai ser pai de um menino. Vai ser criado com muito amor e carinho, Baixinho faz questão de batiza-lo, e todos já o querem muito. Um dia será procurado e se quiser poderá vir conhecê-lo. De vez em quando vou te dar notícias.
D. Elvira, neste momento entrou trazendo documentos e perguntou;
- Algum problema Sr. Henrique?
- Não só rotina; Betinha continou:
- Estou muito feliz, não era minha intenção, mas aconteceu e todos vão aceitá-lo com muito amor, vou ter um filho de um grande homem. Não se preocupe, quando for possível irá conhece-lo.
- Mas não pode ser assim, respondeu Henrique, sei que não foi intencional, mas é um filho meu, me de seu endereço, seu telefone.
- Não se preocupe, de vez em quando te darei notícias, dizendo isto desligou.
- Bom dia querido, disse Belinha ao entrar, está tão pensativo, preocupado ?
- Não, são segredos da alma, respondeu abraçando-a carinhosamente.
E a vida segue, como sempre, calma e tranquila.
Mauri Candido