882-VINTE ANOS DEPOIS -Aventura -SMP 9º Final
O SEGREDO DA MINA DE PRATA
Parte 9 - Vinte Anos Depois
Ao chegar meia hora mais cedo no meu escritório, encontrei o fiel Leôncio limpando a placa da porta .
— O doutor me desculpe, estou atrasado.
— Não, Leôncio, eu é que estou adiantado. Continue fazendo seu trabalho, não se preocupe.
O eficiente faxineiro continuou lustrando a placa, onde letras douradas indicavam:
EMPRESAS LAGSAN
DR. LEONARDO AZEVEDO GUSMÃO SANTOS NORONHA
PRESIDENTE
Sim, eu me adiantara a fim de ler ainda mais uma vez a minuta de contrato que a LAGSAN e o Sr. Chang Chung Chen, representante da importante empresa de mineração chinesa CHINA ENTERPRISES, estávamos em vias de firmar. Era o contrato mais importante do ano envolvendo empresas de mineração a fim de explorar recursos minerais na Patagônia.
Às nove horas em ponto, Laís, minha secretária, entrou no escritório, anunciando:
— Mr. Chang e sua equipe acabam de chegar.
— Peça-lhe que entre. Ah! Avise o Dr. Lustosa, o diretor do departamento internacional, para que venha participar da reunião. E também o intérprete, Senhor Luiz Kyonda, para começarmos a reunião.
Dentro de um minuto, por portas diferentes, entraram todos os que deveriam participar do encontro, inclusive a eficientíssima Laís que se encarregaria de digitar tudo o que fosse falado, combinado e acertado entre nós.
Após os cumprimentos formais, sentamo-nos e nos descontraímos. Já conhecia os chineses e eles também me conheciam de outras joint-adventures. O sucesso de nossa parceria refletia-se na constante elevação de nossas ações nas bolsas do mundo inteiro, principalmente nas de Tokio, Xangai e Hong-Kong.
A reunião decorreu normalmente e chegamos a um acordo final após duas horas de conversações. Quando todos se despediram, novamente a secretaria Lais me avisou:
— Hoje o senhor deverá ainda receber a visita do repórter Jonas Pedrosa, para uma entrevista.
— Sim, bem lembrado. É às quatorze horas, não?
—Sim, ela me respondeu, — e saiu, me deixando sozinho na imensa sala.
Rapidamente dei uma olhada nos tópicos que possivelmente o jornalista iria abordar. Nada que eu não tivesse na ponta da língua ou na memória.
Almocei no restaurante da empresa com alguns diretores. Durante as refeições, eu evitava conversar sobre negócios, mesmo tendo ao meu lado executivos da minha firma ou pessoas com as quais tinha interesses em comum.
Às duas horas em ponto chegou Jonas Pedrosa, repórter de importante revista de negócios, que eu já conhecia de outras ocasiões. Após os cumprimentos formais, e sempre contando com a presença de Laís (que ia gravando tudo), começamos o pingue-pongue de perguntas e respostas.
A secretária selecionou alguns tópicos, que são transcritos a seguir, que se ajustam na sequência desta narrativa, esclarecendo alguns pontos que até agora deixei de mencionar.
Alguns itens da entrevista:
Repórter: Quando o senhor decidiu explorar a primeira mina, imaginava que se tornaria um dos maiores empresários do setor de mineração do país?
Minha resposta: Não, nunca tive ideia prévia do que resultaria o registro da mina e a exploração. Fui inserido no ramo e graças à minha experiência como funcionário de uma fábrica de cimento, dei-me bem. É claro que minha esposa Lucinda me ajudou, apoiando-me sempre na evolução desta firma. Formou-se se formou em Direito Comercial Internacional e é ela quem dirige o departamento de relações com nossos sócios no mundo inteiro. A bem da verdade, ela faz os melhores contatos que resultam em grandes parceiras. Mais do que meu braço direito, ela é a mente que realmente impulsiona a LAGSAN.
Repórter: Há uma lenda segundo a qual o senhor se apossou da mina de prata, em detrimento de outros herdeiros de seu avô, Comendador Calimério. Como foi isso?
Minha Resposta: O que fiz foi apenas cumprir o que havia prometido ao meu avô: manter a tranqüilidade de vovó até o final de seus dias, o que fiz com honra e probidade, tenho certeza. O fato de que fui adquirindo as partes da Fazenda Ipê Amarelo antes de divulgar o segredo da mina de prata, foi questão de sincronicidade e fidelidade. Não menti nem enganei ninguém. Só não revelei o segredo antes, pois, se o fizesse, a confusão seria instalada na família e Dona Esmeralda, minha querida avó, terminaria seus dias envolvida pelas querelas da herança.
Reporter: E quando ela morreu, então...?
Minha resposta: Eu já havia adquirido todas as partes dos herdeiros, relativas à herança de vovô. Era, portanto, detentor de metade. Os herdeiros, com o falecimento de vovó, apressaram-se a vender a parte deixada pela viúva. Não titubeei um só momento em comprar, tudo na maior lisura.
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O entardecer de sexta feira tingia o ambiente de tons dourados e alaranjados, quando o jornalista se despediu. Fechei o escritório, subi ao topo do Edifício LAGSAN, onde Lucinda me aguardava no helicóptero.
Os últimos raios do sol poente nos alcançaram quando chegamos à sede magnífica da Fazenda Ipê Amarelo, onde tudo começou.
ANTONIO ROQUE GOBBO - argobbo/yahoo.com.br
Belo Horizonte, 20 de janeiro de 2015
Conto # 882 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS