881-LUCINDA : SEGREDO REVELADO-Aventura e Romance-SMP 8º
O SEGREDO DA MINA DE PRATA
8 – Lucinda: Segredo Revelado
Os encargos de inventariante da Fazenda Ipê Amarelo não ocuparam muito do meu tempo. Continuei trabalhando na fábrica de cimento, passando a um serviço administrativo, que permitia minha residência na fazenda Ipê Amarelo. Desta forma, administrava a fazenda com a ajuda de Tingo e Zeca Pimenta, homem de confiança de vovô, encarregado do rebanho de duzentas cabeças de gado de engorda. Todas as vezes que tinha de tomar decisões, como a venda de rezes gordas ou a compra de novilhos para engorda, consultava vovó, que permanecia Lúcia e sempre concordava com minhas ações.
No decorrer o inventário, algo de extraordinário foi acontecendo. Papai comunicou a disposição de passar para mim a parte que lhe tocasse na divisão da fazenda e dos bens de vovô. Outros tios, também desconhecendo o valor real da fazenda (jamais souberam da existência da mina de prata, um segredo de vovô que me revelara sob condição de não por em risco a união da família), falaram em me vender suas partes.
As tias, filhas de vovó e vovô, que seguiam orientação dos maridos, insistiram em manter a posse das terras.
Assim, antes do encerramento do processo, eu já era dono de algumas partes da fazenda Ipê Amarelo.
Entretanto, por consenso entre os herdeiros, a fazenda permaneceu indivisa, isto é, continuava sendo propriedade em comum
Eu era o responsável por tudo, e estabeleci livros de registros e controles e uma contabilidade a fim de prestar contas aos proprietários.
O processo durou alguns anos. Nesse meio tempo, conheci Lucinda, jovem funcionária da fábrica. Namoramos, noivamos e nos casamos em pouco menos de dois anos. Moça cordata gostou da idéia de morar na fazenda. Vovó adorava a “nova neta” como ela se referia à minha esposa e a tranqüilidade se instalara na Ipê Amarelo.
Nunca havia contado a ninguém (nem mesmo à vovó Esmeralda) o segredo da mina de prata. Lucinda, ao cativar meu coração, tornou-se conhecedora do segredo. Nem foi preciso lhe pedir que jamais o revelasse a quem quer que fosse, em nenhuma situação, sem minha aquiescência.
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Oito anos após a morte de vovô Calimério, vovó Esmeralda faleceu. Foi uma morte tranqüila, como se a chegada do final da existência fosse coisa normal. Vovó jamais falava em morte.
— Não é o fim, mas apenas uma passagem desta para melhor. — ela dizia, na sua sabedoria, com humildade e resignação.
Apenas filhos e filhas compareceram ao velório e enterro. Noras e genros, todos, inclusive mamãe, apresentaram um pretexto para não irem à fazenda.
Novamente, após o enterro, veio à baila o assunto do inventário da parte da vovó. No decorrer das conversas, mostrei interesse em adquirir as partes dos tios e tias que ainda tinham suas posses em comum.
Agora, as partes eram maiores, tinham maior valor. Notei certa desconfiança dos três tios, genros e que então se mostravam mais interessados nas terras. Também havia a questão das ações da companhia de cimento, valioso patrimônio.
Acabei comprando as partes dos tios-genros e as ações, que não tinham vínculo com as terras, foram negocias e o dinheiro repartido. Parece que os tios renitentes, com o dinheiro da venda das ações, ficaram parcialmente saciados em suas ambições de posse e tive facilidade em negociar com eles a compra das poucas partes que ainda não me pertenciam.
Dez anos após a morte de vovô Calimério e dois anos após a morte de vovó Esmeralda, eu era o único proprietário da Fazenda Ipê Amarelo.
Uma questão crucial passou a ser o foco de minha atenção: o que fazer com a MINA DE PRATA?
Lucinda, a esposa maravilhosa, única conhecedora do segredo, iria me ajudar na tomada da mais importante decisão de minha vida.
ANTONIO ROQUE GOBBO - argobbo@yahoo.com.br
Belo Horizonte, 5 de janeiro de 2015.
Conto # 881 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS