879-PACTO DE VIDA E MORTE-Aventura - SMP -6º

O SEGREDO DA MINA DE PRATA

Parte 6 - Pacto de vida e morte

Então, vovô parou de girar a tocha e pude ver: pelo teto e paredes da caverna corriam veios brilhantes de metal, que à luz amarela da tocha, eram dourados.

Fique extasiado! O recinto era enorme, e haviam estacas colocadas com simetria e precisão, indicando uma exploração bem conduzida. . Os grossos veios de metal mostravam que havia muito para ser extraído. Pelas beiradas da caverna, objetos (ferramentas?) abandonados. O ar era viciado e abafado, com um forte mau cheiro, de coisa apodrecendo e há muito abandonada. .

— Parece ouro, não é mesmo? Eu também pensei. Mas sei que é prata, pois já levei pedaços e sei do que se trata.

Dei uns passos para o fundo da caverna, e tropecei em ossos. Seria ossada de gente morta por ali?

—O senhor mandou amostras para serem testadas? — indaguei, surpreso com tudo o que estava vendo.

— Claro. Mas só eu sei que elas foram extraídas daqui. Nem quem examinou sabe a origem.

— E há quanto tempo o senhor sabe disto?

— Sempre soube. Esta mina é coisa de índio, não é de bandeirantes nem de gente branca. Mas nunca falei nada. Fiquei com medo de uma corrida, de gente invadindo a fazenda, e de toda confusão gerada por um garimpo. Até minha família iria brigar por causa desta mina.

— Mas, e agora? Porque me revelou, eu que nada...

—Você é formado. Entende de mineração e está por dentro das coisas.

E virando-se de repente para mim, determinou:

—Vamos embora, este lugar me faz mal.

Voltamos depressa para a entrada da gruta. Vovô respirava com dificuldade, mas ficou bem quando aspirou o ar puro da mata.

Descansamos, sentados no chão, sob a sombra refrescante das árvores que escondiam completamente a entrada da caverna.

Minha cabeça tumultuava com a surpresa da revelação do segredo da mina, e com perguntas que não queriam calar.

— Como o senhor descobriu esta mina abandonada? — Perguntei ao vovô Calimério.

— Foi por acaso. Você sabe, eu sempre gostei de andar pela fazenda, e antes eu andava sozinho. Só nos últimos tempos é que Tingo me acompanha, por assim dizer, me leva prá cá e prá lá.

— E procurou saber a história da mina? Porque foi abandonada?

— Andei lendo e perguntando, sempre com muito cuidado, para não despertar suspeitas.

— Descobriu alguma coisa?

— Parece que era uma mina explorada por índios que vinham de longe. Tem uma lenda que fala de guerras entre os índios locais e outros, que eram muito cruéis, e que por algum tempo dominaram a região. Talvez tenham sido os incas, ou outra raça, que já conhecia os metais e sabiam deste veio.

— É. Os primeiros portugueses que chegaram à Terra de Santa Cruz, que iniciaram a colonização, ouviam falar que no interior tinha muita riqueza, ouro, diamantes... Mas nunca se soube de mina de prata.

— Pois é. A exploração desta mina foi interrompida de repente. Você viu que ainda tem lá dentro uns objetos que parecem ser ferramentas rústicas.

Levantando-se com agilidade incomum para sua idade, vovô me disse:

— Atrele o cavalo na charrete e vamos embora.

Fiz como ele pedia e logo estávamos na estrada, voltando à sede da fazenda.

Vovô falava o tempo todo

— Pouco me resta de vida, alguns anos, talvez. Já estou velho, logo vou prá outra. Vivi demais. Logo a Magra vem me buscar. Este segredo, quando divulgado, vai separar a família, jogar irmão contra irmão. Não quero assistir esta briga. E quero que você trabalhe para que a revelação deste segredo não cause mal algum, a quem quer que seja.

— Mas... que posso fazer?

— Não sei. Só sei que a fazenda, estes alqueires de terra, agora não têm muito valor, enquanto o segredo for mantido. Mas ninguém será capaz de esconder o segredo. Quando a noticia da mina se espalhar, vai ser invadida por garimpeiros, vai virar um desastre. Quem poderá deter a sanha dos garimpeiros, aventureiros, toda essa gente que corre em busca de dinheiro? Como se garimpar fosse coisa fácil. Só você, com o conhecimento que tem, poderá evitar esta confusão.

Não tive palavras para dialogar com o meu velho avô, que prosseguiu:

— Agora que você sabe deste segredo, vou lhe pedir uma coisa, só uma coisa: sei que vou embarcar antes da Esmeralda, já tou prevendo. Cuide da sua avó enquanto ela for viva. E use o segredo para o bem, não deixe que esta riqueza destrua nossa família.

Ainda meio zonzo com a revelação e com as assertivas de vovô, prometi o que me pedia:

— Sim, claro, cuidarei da vovó.

O pacto estava estabelecido.

ANTONIO ROQUE GOBBO - argobbo@yahoo.com.br

Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2014

Conto # 879 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 19/09/2015
Reeditado em 23/09/2015
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