877-0 AVÕ MISTERIOSO - Aventura/Mistério-SMP-4º
O SEGREDO DA MINA DE PRATA
Cap.4 – O Avô Misterioso
Não estou aqui na fazenda por gosto. Sou engenheiro formado em mineralogia e como engenheiro de prospecção trabalho na fábrica de cimento. Quando cheguei, vindo da sede, minha primeira ação foi visitar meus avós, num ato de cortesia e respeito.
Não permitiram que eu fosse para o hotel da cidade nem residir na vila da fábrica.
—Não senhor, você fica aqui na casa grande. Estamos perto da cidade, mando o Tingo levar e buscar você quantas vezes você quiser. — Vovô determinou, ainda com a voz firme, apesar dos muitos anos.
Isto foi há um ano, mais ou menos. Morando com eles, estabeleci um relacionamento que jamais pensei ser possível entre pessoas de idades tão diferentes.
Moravam os dois na fazenda, ajudados por alguns empregados: Emerenciana, tomadora de conta do casarão com competência absoluta; Tingo e dona Sula. Ele é mais que um acompanhante, sempre ao lado de vovô; e ela ajuda no cuidado da casa.
Como nenhum dos filhos ou filhas, nem genros mostraram interesse em ajudar meu avô a tocar a fazenda, o velho diminuiu as atividades, ficando apenas com gado de criar. Zéca Pimenta, o capataz, é como que o gerente-geral da fazenda, administrando gente e gado. É ele quem “toca a fazenda”, responsável por tudo: vai à cidade fazer compras necessárias ao abastecimento da fazenda, negocia o gado nas épocas apropriadas e fiscaliza tudo.
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— Amanhã é domingo, quero que você fique aqui em casa. —Disse-me vovô numa tarde de sábado, com um ar misterioso. — Tenho de lhe mostrar uma coisa que você vai gostar de ver.
Geralmente eu aproveitava os domingos para encontrar-me com os colegas, outros engenheiros ou funcionários da grande empresa que já se tornara a Fabrica de Cimento Dura-Máter, pois durante a semana eu andava pelos campos e morros da redondeza, fazendo prospecção.
Naquele domingo me preparei levantando-me mais cedo que de costume e já estava tomando café quando vovô chegou, no seu passo ainda bem marcado.
— Mandei Tingo arrumar a charrete. Vamos só nós dois. — disse ele em voz baixa.
Terminamos o café e descemos a escada do alpendre da frente da casa. Vovô falou ao Tingo, que o esperava para o passeio matinal:
—Hoje você está dispensado. Vou sair com o meu neto.
O mulato olhou-me com cara de quem não gostou.
— Posso ir com o senhor, seu Calí, tou preparado.
— Não, você fica. — disse, autoritário, vovô Cali. E virando-se para mim:
— Você vai dirigindo a charrete.
— Para onde vamos? = Perguntei.
— No rumo do nariz. No caminho te falo. — Vovô respondeu.
Quando mistério, pensei.
Ao chegarmos ao grande portão da entrada da fazenda, vovô me fez parar a charrete e disse:
—Siga pela esquerda, vamos para o Morro da Pedra Branca.
As cinco léguas que separam a casa do Morro da Pedra Branca foram devoradas pelo trote firme do cavalo enquanto vovô conversava comigo. Foi me contando sua história e a história da fazenda, que era sua vida, com detalhes que eu jamais tinha ouvido.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 13 de dezembro de 2014.
Conto # 877 da SERIE 1.OOO HISTÓRIAS