876-A FAMILIA DO COMENDADOR CALIMÉRIO-Aventura-SMP-3º

O SEGREDO DA MINA DE PRATA

3 – A Familia do Comendador Calimério

Esquecia-me de falar na família que vovô Cali constituíra. Casou-se aos 38 anos, com dona Esmeralda de Azevedo Gusmão professora muito querida entre alunos e colegas, dotada de muitas habilidades do lar, das prendas domésticas. O casamento foi em 1888, ano em que a Princesa Isabel abolira a escravidão dos negros no país.

Vovô Cali e vovô Esmeralda (ela nunca teve apelido) tiveram oito filhos na década de 1890. Eram três mulheres e cinco homens. Nenhum deles ficou morando na Ipê Amarelo. Acho que vovô não incentivou a nenhum de seus filhos ou genros que ficassem com ele na fazenda. As filhas casaram-se cedo, numa época em que as mulheres ou se casavam até os vinte, vinte e poucos anos, ou permaneciam solteironas, ficando “prá titia”.

Os filhos homens foram para a capital a fim de estudar. Alguns se formaram e outros foram trabalhar por conta própria. Vovô e vovó ficaram sozinhos depois que os filhos deixaram a fazenda.

Meu pai Arnaldo mudou-se para São Paulo ainda solteiro. Casou-se e teve três filhos, sendo eu o caçula, que batizou de Leonardo Azevedo Gusmão Santos Noronha. Inútil pomposidade, pois hoje sou conhecido e tratado simplesmente de Dr. Léo.

Voltando à história da família de meu avô Calí: quando ele negociou as partes da fazenda que interessavam aos empresários, recebendo em pagamento títulos da nova companhia, chamados de “acções”, os filhos apareceram. Todos, inclusive meu pai, foram contra o negócio. Houve altercação. Tio Sebastião chegou até a chamar vovô de louco, por dar as terras em troco de papel sem nenhum valor garantido. Eu tinha sete anos, na ocasião, e assisti a uma das reuniões da família em que a discussão por pouco não chegou a uma briga de fato.

Vovô Calimério tinha certeza no que estava fazendo. Ouvi quando disse a todos da família reunida:

—Vocês estão pensando só na fazenda, na herança. Pois quando eu morrer, vocês irão receber muito mais do que terras. Serão donos de um patrimônio incalculável.

Depois que o negócio foi fechado, os filhos novamente esqueceram a fazenda, vovô e vovô. Filhos, filhas, genros e noras, netos e netas, (eram 42 pessoas, ao todo), ninguém visitava vovô e vovó, que continuaram habitando a velha casa-sede, cuja face está virada exatamente para o Morro da Pedra Branca, que se ergue a algumas léguas, na direção do poente..

A visão que se tem ao amanhecer do morro, iluminado pelo sol que nasce, é uma das mais belas paisagens que já vi. O topo parece irradiar uma luz própria, faíscas da luz do sol refletida pela alvura metálica do topo da elevação.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 13 de dezembro de 2014.

Conto # 876 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 16/09/2015
Reeditado em 22/09/2015
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