875-A FAZENDA IPÊ AMARELO-Aventura-SMP-2º

O SEGREDO DA MINA DE PRATA

cap. 2 - A Fazenda Ipê Amarelo

A fazenda Ipê Amarelo, propriedade de vovô Calimério, com a área de centenas de alqueires mineiros (que são o dobro do alqueire paulista), totalmente coberta de mata cerrada, fora a recompensa a seu pai, meu bisavó, Major Epaminondas Correia de Noronha, por sua atuação na guerra do Paraguai, onde se destacara com valentia inusitada. Além da comenda de major, o governo de D. Pedro II garantiu ao meu bisavô a posse da grande área de sesmaria, numa região completamente selvagem naqueles tempos. Meu bisavô não teve tempo de desbravar as terras: a malária contraída no pantanal paraguaio matou-o tão logo voltou da guerra.

Uma ligeira explicação sobre títulos, tratamentos e comendas: meu bisavô era major por mérito e promoção militar, ao participar da Guerra do Paraguai. Já meu avô é Comendador da Sagrada Ordem de Cristo, título honorário concedido pela Igreja Católica aos seus fieis mais devotos. Nada dessa lenda espalhada maldosamente segundo a qual a ordem de Comendador era concedida aos milionários da época, que teriam adquirido uma cadeira no céu.

Filho único, vovô Calimério herdou a grande área e passou a explorá-la. Derrubou alguns alqueires da mata, vendeu a madeira de lei e a lenha, formou pastos e colocou gado de engorda e de leite.

Prosperou e manteve intocada a maior parte da mata, retirando apenas o necessário para uso na propriedade. Até que, no início do século, entre 1905 e 1910, com a chegada da estrada de ferro, a demanda por lenha levou a negociar outras parcelas da mata. E mais tarde, já em plena fase da Segunda Guerra Mundial, a descoberta de calcário propício à fabricação de cimento, colocou as terras da Ipê Amarelo sob a mira dos empresários, que viram ali a possibilidade da instalação de uma fábrica de cimento.

— Com a estrada de ferro passando dentro da fazenda e a abundância de calcário a fábrica de cimento vai ser a maior indústria da região. — Afirmavam os grandes capitalistas que chegavam de São Paulo exclusivamente para convencer vovô Calimério a vender as terras.

Não era um homem duro de fazer negócios. Pelo contrário, Vovô tinha visão larga e sabia que, mais cedo ou mais tarde, a fábrica de cimento seria construída. Tratou, pois, de estabelecer negociações com os homens da indústria. Na venda das terras, impôs muitas condições que iriam transformar a região.

— Primeiro, quero participar da empresa que vai construir a fábrica. Segundo, a instalação de uma serraria. Nenhuma madeira sairá daqui em toras. Terceiro, reservo para mim uma área de vinte alqueires ao redor da casa sede, inclusive com o Morro da Pedra Branca. E mais: a organização de uma vila ou pequena cidade, com tudo o que for preciso: igreja, correio, estação da estrada de ferro.

Os empreendedores concordaram com algumas exigências, tentaram negociar outras, mas finalmente vovô conseguiu tudo o que queria. E a pequena vila, com estação da estrada de ferro (que já era plano da Companhia Mogiana), igreja, agência do correio, e muitas casas para os operários que iriam trabalhar na fábrica, virou logo uma pequena cidade.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 13 de dezembro de 2014.

Conto # 875 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 14/09/2015
Reeditado em 22/09/2015
Código do texto: T5382163
Classificação de conteúdo: seguro