AVENTURAS DE ADALARDO

Adalardo foi Fiscal da Receita durante muitos anos e residiu em Vitória da Conquista em meados da década 1960 - 1970. Sempre bonachão, nada levava a sério, e era muito querido nas rodas de bate-papo. Participou ativamente da vida social da cidade que àquela época deveria contar com pouco mais de 70 mil habitantes. Os principais hotéis de então, eram o ‘Albatroz’ na rua Maximiliano Fernandes, o Aliança e o Hotel Livramento, ambos na esquina da Praça Barão do Rio Branco, onde figuravam os restaurantes ‘O Candelabro’ e o ‘Lindóia’, além da Padaria ‘Vitória‘. Do lado direito do Lindóia, em sua lateral funcionava o bar ‘Pinguim’, do nosso querido amigo Major, principal ponto de encontro durante o dia. Ali reuniam-se os também fiscais do Estado - Pedrinho ‘Muriçoca’, Iris Geraldo Silveira, que era poeta, ex-prefeito de Caatiba e jornalista, que, com o publicitário carioca Diamantino Correia e Aníbal Viana, escreviam o Jornal de Conquista. À noite, o Lindóia e o Candelabro eram os preferidos pela society conquistense para os comes e bebes, se bem que o Lindóia funcionasse a partir das dez da manhã, como restaurante.

Adalardo era natural de Nazaré (das Farinhas), e, anos depois, o conheci em Salvador, através meu cunhado, que era juiz em Nazaré das Farinhas, terra de Vampeta (jogador de futebol revelado no Vitória) e que foi campeão mundial da Copa de 2002.

Um dia, lendo jornal, tomei conhecimento de uma proeza de Adalardo que depois vim a saber, verídica. Ele era amigo de um Coronel da Aeronáutica, comandante da Base Aérea de Salvador. Famoso por sua envolvente maneira de trato, conseguiu que o amigo emprestasse à prefeitura de Nazaré um trator esteira que se encontrava num galpão da FAB. O Coronel fez o empréstimo por tempo determinado e, anos depois, foi promovido e transferido para o Rio de janeiro. O sabido demais, Adalardo, achou que poderia apossar-se definitivamente da máquina. E o fez. Quando deixou a prefeitura, conseguiu um comprador e passou o trator adiante. Um ou dois anos depois, o novo comandante da Base Aérea ordenou que o trator voltasse à posse da Aeronáutica. Expediu ofícios pra lá e pra cá e Adalardo não deu importância. O certo é que, em viagem de avião para o Rio de Janeiro, para gozar suas farras homéricas com belas mulheres de aluguel, ao chegar no ‘Galeão’, Adalardo foi preso e recambiado para Salvador. Conseguiu ‘mexer os pauzinhos’ políticos, teve uma ‘licença de alguns dias para resolver o problema’ comprou de volta o trator e o devolveu a quem de direito, pelo que o comandante, diante da devolução do bem, resolveu arquivar o inquérito administrativo militar.

Este é apenas um fato aperitivo das muitas peripécias pelas quais passou o Adalardo, figura imperativa que era centro das atenções por onde quer que andasse, sempre o ‘dono da bola’, a fazer e acontecer. Era considerado ‘um mão aberta’. Não tinha amor a dinheiro e era um bom vivant. Trapalhão, mas muito cordial, de fino trato e com boas amizades em seu longo currículo.

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 11/08/2015
Reeditado em 22/01/2018
Código do texto: T5342435
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.