Apoena

Mesmo meu corpo pintado com toda a magia de urucum eu me sinto desnuda. A seiva da floresta doa-se para aninhar em mim a sacralidade dos ritos de amor que vem dos raios luminosos de Araruama.

E assim me batizam Ararê, entre a multidão de aves emplumadas para o primeiro vôo.

Eu uso a cor do meu clã de araras, e vejo no céu o verde de meus irmãos que chegam com a graça de aratinguá numa revoada ao coração da grande floresta. Eu os imagino cantando, pois vejo angatu voando entre eles.

Aqui eles ainda voam livres e me ensinam o caminho vermelho, aquele que une o coração e a mente, a morada do amor e da consciência integrada a natureza.

(...)

Perguntam-me se sou índia, se vivo entre os pássaros, se sou algum ser hibrido de todas as tribos e penas.

Eu sou o que sou, e o poder disso tudo está na simplicidade de poder ser gente, mas de entender a necessidade de ser pássaro, de ser floresta, de ser vida.

E ter a esperança de ver o verde tomar conta desses corações de concreto, armados de tanta ignorância e covardia. Que ousam abater dos céus os seres alados que carregam em si a cor das matas e tudo o que ela representa.

Apoena: aquela que enxerga longe.

Urucum: de o vermelhão.

Araruama: terra dos papagaios.

Ararê: amiga dos papagaios.

Aratinguá: de papagaio de bico redondo.

Angatu: alma boa, bem estar, felicidade.

(segunda-feira, 1 de dezembro de 2014)