Maria e as Quatro Estações.
A neve caía lá fora e Maria chorava de saudades de seu pai. Ele era tudo o que tinha e nunca se cansava de mimá-la. Todas as vezes que voltava de viagem lhe trazia um presente. O último fora um anel com uma safira que brilhava. Cada vez que seu pai se aproximava de casa parecia que a safira brilhava mais. Ele sempre demorava pouco em suas viagens. Mas desta vez estava demorando demais. Já faziam três meses que ele partira e ainda não tiveram nenhuma notícia. Todas as noites dormia chorando. Sua irmã Sura era muito sapeca e a perturbava muito. Ela era mais velha e por isso se achava no direito de mandar em Maria.
Sura não era sua irmã de verdade, era filha do primeiro casamento de sua madrasta. Maria chamava a madrasta de mãe. Quando seu pai se casou com ela Maria era apenas um bebê. Sílvia era uma boadrasta. Não tinha o que reclamar. Devia-lhe tudo o que sabia. Ela lhe ensinara com carinho a andar e a se cuidar. Seu pai fizera a escolha certa.
Com um pai caixeiro viajante, não era fácil pra família ficar sem ele. No começo, logo que ele viajava, tinham fartura. Mas depois as coisas se complicavam um pouco. E quando ele chegava melhoravam novamente. O pai vindo, trazia dinheiro e compravam mantimentos. Enchiam a despensa e a comida era farta. Nunca faltou nada. Mas era mais reduzido na ausência prolongada do pai.
Na última vez que o pai viajou ele disse que não ia demorar. Mas já fazem três meses e ele ainda não voltou. Maria mantinha no dedo anular o anel de safira que o pai lhe deu e achava que com seu anel ele nunca esqueceria dela. Por isso não deixava Sura por as mãos nele. A irmã não tinha a índole da mãe e tratava Maria muito mal. Um dia, enquanto Maria dormia, Sura tirou-lhe o anel do dedo e escondeu. Quando acordou e deu pela falta do anel começou uma briga feia com Sura e deixou sua mãe irritada. As coisas já não estavam fáceis pra ela e por isso num ataque de raiva tomou o anel das duas e o jogou na neve. Maria ficou histérica e gritou que queria seu anel e a mãe dela abrindo a porta lançou:
_Então vá buscar!!!
Chorando, Maria saiu e ficou ajoelhada tentando encontrar seu anel na neve. Era uma tarefa impossível mas ela não desistiu. Lutou até não poder mais com o frio e então sentou no chão e fechou os olhos fazendo uma oração. De repente tudo ficou nebuloso e diante dela apareceu um menino que lhe disse:
_ Não chores Maria, vou te ajudar a encontrar seu anel. Vem comigo que meu pai vai te ajudar. Ela levantou-se e seguiu o menino. Muito satisfeita com a ajuda, a menina puxou conversa:
_Como é o seu nome?
_ Junho.
_E como se chamam seus pais? Meu pai se chama Inverno e eu não tenho mãe..
_Você tem irmãos malvados como a minha irmã Sura?
_Não. Meus irmãos são legais. Julho é o mais gelado de todos e adora fazer festas e como eu gosto de festas, fazemos juntos. Agosto é o mais velho e mais duro de aguentar. É mais frio que todos da família e dizem que é agourento. Tem o caçulinha que se chama Maio e é o mais tranquilo de todos. Ele ama flores mas só as vê nas ocasiões especiais é por isso que influencia as noivas para se casarem e assim tem muitas flores. Andamos sempre juntos, um atrás do outro. Nosso pai tem muito orgulho de nós. Mas se nos perde de vista manda seus sobrinhos o vento e a chuva para nos ajudar e voltarmos.
_Poxa, Pena que Sura não seja assim tão unida comigo.
_Veja Maria, estamos chegando em casa. Entre! Este é meu pai. Pai, esta é Maria e ela precisa de ajuda pra achar seu anel.
_Muito prazer Maria, Pena que não poderei te ajudar. A neve é muito espessa e assim você não acharia o anel tão cedo. Espere que mandarei meus filhos te acompanharem até a divisa e lá encontrarás a família da nossa prima, a Primavera, que te ajudará.
O Inverno se despediu dela e pediu que seus filhos a acompanhassem até a divisa.
Os filhos de Inverno eram muito sapecas mas muito divertidos. Julho era mesmo muito festivo. Junho era divertido e Agosto era muito frio. Tão sério que lhe apelidaram de desgosto.
Os meninos acompanharam Maria até a divisa da propriedade deles, para que ela se encontrasse com uma prima sua chamada Vera. Lá encontraram uma menina chamada setembrina que ficou muito feliz em encontrar a Maria. Maria despediu-se dos meninos e partiu ao lado de sua nova amiga. Ela era muito legal. Muito religiosa e falante. Adorava flores e o clima muito ameno. Mais na frente encontraram seu irmão o Outubro que disse que as acompanharia até a casa de sua mãe. Quando chegaram em casa encontraram a mãe a desenhar algumas flores. Dona Vera foi tão efusiva em abraçar Maria que causou espanto na menina. Quando Outubro e Setembrina lhe contaram o motivo da viagem de Maria, ela disse:
_ Infelizmente não poderei te ajudar muito oh! Maria. Mas meu irmão o Verão te ajudará. Chamou Novembro que acompanhou Maria até a divisa de suas terras. Ele era um menino legal. Um pouco puro e um tanto seco de comportamento.
_Lá encontrarás Meu irmão o Verão. Ele cuidará de você muito bem. Mas cuidado com a temperatura em suas terras.
Na divisa encontraram Dezembro que os acolheu com carinho. Em seu seio estava um bebê lindo muito especial que apenas ela deu um toque nele e deu muito conforto a Maria. Por um segundo, Maria esqueceu de seu anel e de seu pai. Atrás de Dezembro vinha Janeiro que era a glória em forma de menino. Alegre e quente, festeiro e juvenil. Adorava a música e sempre era acolhido com uma festa em nome da paz. Sua presença nunca seria esquecida pela menina. A temperatura era realmente muito alta mas a alegria dos meninos era contagiante que Maria até esqueceu que estava tão quente. Eles a acompanharam até Verão que, deixou-lhe uma mensagem de amor e paz. Deu-lhe uma concha que quando agitada dava pra ver o mar e ouvir seu barulho. Mas disse que só quem poderia ajudá-la seria o Primo Outono e seus filhos, pois era lá que estava seu anel. Fevereiro se dispôs a acompanhar Maria até a divisa com o Outono, ele era o último filho do Verão. Lá na divisa entregou a menina a Março que a recebeu muito bem. Mais a frente Maria encontrou com um menino que se apresentou como Abril e a saudou em nome do Pai. Ela foi levada até o Outono e adorou o sujeito. Era simpático e sua voz parecia de veludo. Não tinha muito cuidado com a aparência e por isso despia até as árvores. Outono, Maio e Abril esperaram que Março, que tinha entrado num aposento, voltasse. Então ele disse a Maria:
_ Aqui está o que procuras Maria. Segure bem firme este anel e vá adiante. Nunca esqueças de nós e sempre que encontrares uma folha perdida saiba que estaremos por perto. Que o Criador a abençoe!!!
Os meninos levaram Maria de volta ao inverno e a deixaram lá para que seguisse de onde havia começado a viagem.
O frio intenso fez com que Maria adormecesse. Quando acordou estava em sua cama, no seu quarto, com o anel no dedo e uma conchinha na mão. Seu pai a encontrara na neve e a trouxera pra dentro de casa. Maria esteve doente durante muitos dias. Variava entre febre altas e crises de hipotermia que não se explicavam. Sura chorava muito com medo de Maria morrer e não saia do seu lado. Ninguém explicou como a menina foi parar na neve sozinha. Por dias a estavam procurando. E ela foi encontrada tão perto de casa. Mais magra e com a aparência cansada, acordara de seu sono e não entendia nada. Contara a história de suas aventuras pra família mas ninguém acreditou. Prima Vera Bah! Verão KKK! Claro que só podia ser um sonho.
O sol brilhava na janela e a neve havia derretido. Já se notava as primeiras folhas nascendo nas árvores. Maria se recuperou e já estava de pé. Da janela do seu quarto viu um menino a observá-la. Jurava que era o Junho! Chamou a mãe, aos berros. Mas quando ela veio o menino havia sumido. Será que havia sido outro sonho? Talvez não. Somos parte da Mãe Natureza e, é ela quem, de alguma maneira, cuida da gente afinal.
FIM