O xis da questão
E Adriano foi namorar na cidade. Ia viver uma noitada de sonho ao lado da bela Marisa. Escanhoado, perfumado, só não estava endinheirado. Viera da dura lide nas terras do pai.
Ainda havia cinema, que era sempre melhor programa do que as necessárias idas ao templo. No escurinho, havia a chance de se ver um milagre obrar - e bênçãos, jorrar. E o que na tela se via ainda distraia.
Empolgado com a conquista, o coração ficou farrista. Para a donzela impressionar, Adriano convidou a amada a um lanche, mas sem atenção ao manche, deixou rédeas e sela à vontade dela.
E Marisa, ao invés do singelo misto, foi além, num gesto topetudo, pediu um xis-tudo. Adriano, pra não cari o pano, cedeu. E era, com o refri, toda a conta do dinheiro seu. E nem comeu, só posou de Romeu.
Marisa chegou ainda a lhe oferecer um pouco do seu, mas, resoluto, e sem mais um puto, Adriano, num minuto, resistiu, endureceu.
Antes de voltar pra roça - a pé, e por três léguas - Adriano ainda fez troça de seu auto-imposto regime: com beijos sobejos, a fome não era crime.