728-A VOLTA DE TARZAN - Tarzan-mania # 2

— Outra vez lendo Tarzan? — Ela perguntou.

Colocando o marcador entre as páginas, ele fechou o livro antes de responder:

— Sim! Não consigo passar sem uma aventura do homem-macaco.

— Quantas vezes você já leu este livro? – Miriam insistiu no assunto.

— Sei lá. Talvez esteja lendo pela sexta ou sétima vez. – Josué respondeu. — Já perdi a conta.

Estão ambos sentados à mesa da copa, ele lendo e ela fazendo palavras cruzadas.

— E quanto mais eu leio, mais eu gosto.

— Mas você não acha as histórias simples demais? Pueris ou juvenis demais?

— Sim, a narração é numa linguagem simples, própria para adolescente. Mesmo assim...

— Mesmo assim, gosta. Você é um viciado em Tarzan, isso sim!

— Assumo que sou.

— Você não acha que essa história está mais para contos de fadas do que para aventuras?

— É. O autor exagera na criatividade. E tem situações que são difíceis de aceitar.

— Vejo você marcando alguma coisa. O que é?

— Anoto nesta folha — ele mostrou uma página de caderno — os parágrafos em que o autor parece cochilar e escreve coisas bem discutíveis. Difíceis de acreditar, como você disse.

— O que, por exemplo? —Miriam deixa as palavras cruzadas de lado e examina a folha.

— Na pagina seis, por exemplo, Tarzan mergulha em recordações e fuma! Imagine, o homem-macaco está entre os civilizados apenas alguns meses e já está fumando! E fuma de novo na pag. 53. E na pagina 26, já está tomando bebida alcoólica. Socialmente, como se diz, mas parece gostar.

Ela sorri.

— Na pagina 19, trata com dois perigosos bandidos com uma delicadeza incrível. Uma situação em que, de acordo com a natureza de Tarzan, os dois deveriam receber uma surra pra se lembrarem por toda a vida.

Miriam dá uma risada.

— Na pagina 79, uma incongruência: Tarzan está no deserto, um sol de rachar, no deserto do Sahara, e encontra uma árvore sob cuja sombra descansa. Uma árvore no deserto de areias causticantes, e nem é num oásis, é no meio do deserto mesmo. Uma arvore solitária...

— É piada? — Miriam dá risadas.

— Na pag.106, Tarzan está engajado numa missão como espião do serviço secreto francês. Sabe que dois russos perigosos estão envolvidos no “imbróglio” da trama, mas nem desconfia que os dois estão ao seu lado. Distraído. Você já imaginou, um espião... distraído?

Miriam não consegue segurar uma gargalhada.

— Só você mesmo para prosseguir lendo essa baboseira.

— É um vício, Josué responde. Mania. Tarzan-mania.

ANTONIO GOBBO –

Belo Horizonte, 30 de abril de 2012

Conto # 728 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 25/03/2015
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