704-A SELVA E A CAVERNA-4o.cap. de "Aventureiros na Jangal Africana"

O local onde Eric e Darlene desembarcaram ficava no coração da África, numa região de pouco ou nenhum interesse econômico, pois nem os satélites mais sofisticados haviam detectado algum indício de petróleo ou metais, objeto de interesse das grandes companhias que, ávidas por lucros, vasculham toda a superfície do planeta em busca de riquezas no solo ou no subsolo.

A selva erguia-se a poucos metros, aparentemente impenetrável. Na direção do leste, erguia-se uma série de morros de cumes afunilados, evidentemente de origem vulcânica.

— Vamos seguir por entre aquelas árvores. — Disse Eric. – Naqueles pequenos montes encontraremos um lugar seguro.

Entrando na floresta, ele foi afastando as lianas e alguns cipós que se cruzam e constituíam a primeira dificuldade. Mas a determinação e o facão na mão iam abrindo a primeira trilha naquele emaranhado verde.

Era de manhã. Enquanto penetravam floresta adentro, observavam a riqueza da mata e a grande quantidade animais nas copas das árvores. Pássaros, sagüis, pequenos animais cujo habitat era a verdura que cobria tudo.

— Observe estas marcas — disse Eric, apontando para pegadas no solo. — São marcas de felinos. Um leão e sua companheira passaram por aqui não faz muito tempo.

Charlene anotava mentalmente os detalhes da efervescência de vida que a cercava por todos os lados.

Eric já pensava na coleta de frutos que seriam a primeira refeição n selva.

— Observe as árvores com frutos, disse ele à moça. Onde encontrarmos macacos comendo ou pássaros bicando frutas, podemos nos alimentar, pois indicam que não são venenosos.

E assim prosseguiram por uma hora ou pouco mais, até encontrarem um vale onde vicejava uma espécie de papaia, cujos frutos amarelo-avermelhados eram convidativos. Quando se aproximaram, um bando de papagaios levantou vôo, mas os macaquinhos não se assustaram. Do alto dos troncos de onde pediam os frutos, continuaram comendo, sem se incomodarem com a chegada do homem e da mulher. Para eles, eram apenas dois animais desconhecidos, Muitos frutos estavam bicados ou escavados por patas minúsculas de pequenos macacos. Com agilidade e usando de uma longa vara, Eric cortou os talos de alguns frutos, que caíram no chão macio, coberto por folhas e por musgo.

Fartaram-se com os deliciosos frutos de polpa alaranjada,

— Como são doces! — Exclamou Charlene.

Prosseguiram a caminhada na direção do monte, que a floresta cobria até o topo. mas com algumas falhas pelas encostas,

—Aquelas manchas escuras no meio da floresta são grutas ou cavernas. — Eric apontou para as manchas no meio da selva. .

Os dois chegaram o pé do monte, que se erguia numa parede lisa por mais de cem metros de altura.

— Vamos subir até aquele local sem árvores. Ali deve ter uma caverna apropriada para ficarmos.

Com alguma dificuldade, agarrando-se aos cipós que se despencavam das altas copas das árvores, subiram pela íngreme encosta que se erguia verticalmente. A mais ou menos cincoenta metros do sopé, encontraram a abertura na encosta.

Despenderam grande esforço para chegar. Por isso, descansaram alguns minutos à boca da caverna antes de examinarem a gruta.

Era uma grande abertura, com mais de quinze metros na boca. Pegando galhos secos e algum capim Eric fez um archote rústico, ao qual ateou fogo, a fim de entrarem na caverna.

— Deve ser um esconderijo de bichos. Morcegos, principalmente. Mas esta tocha vai espantá-los.

Seca e de piso liso, a imensa caverna entrava pela montanha. Caminharam uns 100 metros sem que encontrasse o fundo.

— Que caverna espaçosa! Podemos ficar por aqui? —Charlene perguntou.

— Sim, mas só depois de limparmos devidamente e construirmos alguma defesa, pois, na certa, é freqüentada por bichos da floresta com os quais não seria bom encontrar.

Assim fizeram. Enquanto Eric cortou alguns arbustos, limpando a área defronte a caverna, Charlene limpou a área da frente, um espaço plano e sem pedras.

Eric foi de novo até ao interior da caverna, com a tocha na mão. Voltou alguns minutos depois, dizendo:

— Não cheguei até o fundo. Serve para a gente usar como moradia provisória. Lá no final tem uma mina, um filete de água forma pequeno lago de água gelada, que experimentei e verifiquei que é boa para beber.

E vendo a área limpa:

—Há! Vejo que você dará uma boa dona de casa!

Pulando para um cipó, gritou para a moça, enquanto descia escorregando:

— Vou juntar uma galhada para construir uma defesa nesta caverna.

E sumiu no meio da verdura da selva incomensurável.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 14 de dezembro de 2011

Conto # 704 da SÉRIE MILISTÓRIAS -

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 12/03/2015
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