703-DOIS AVENTUREIROS NA ÁFRICA-3º Cap. de "Aventureiros na Jangal Africana"

Os dois aventureiros viajaram juntos para a África. Um avião da African Airlines os levou de Paris diretamente a Dar Assalam, a principal cidade da Tanzânia.

Eric Thornbell e Charlene Dorange formavam um par admirável, que chamava a atenção por onde passavam.

Com 32 anos de idade, francesa, ela era do tipo mediterrâneo: morena, cabelos e olhos negros, rosto oval onde se destacava um delicado nariz e boca sensual de lábios cheios. O sorriso sempre brincando em seus lábios deixava entreve os alvos dentes bem alinhados. Elegante, caminhava em largas passadas, no ritmo apropriado às suas longas pernas. Havia frequentado academias de artes marciais e era excelente lutadora de jiu-jítsu. Conhecia e praticava técnicas orientais de concentração, relaxamento e meditação, que usava em todos os momentos de risco em sua vida. Tornara-se experiente jornalista e como tal acompanhara exploradores em safáris científicos pela África, expedições arriscadas pelas mais altas montanhas da Terra, e organizara suas próprias incursões pelos recantos mais desolados e perigosos do planeta, na busca de informações, notícias e curiosidades, que alimentavam as agências de notícias e as cadeias da mídia da Europa.

Quando os dois aventureiros saíram do edifício do aeroporto de Dar Assalam, sentindo no rosto o calor da tarde africana, ela perguntou animada.

— Qual é a próxima etapa da viagem?

— Daqui para o hotel e depois... para a selva! — respondeu Eric.

Seguiram para um hotel no centro da grande cidade. Durante o percurso, Charlene perguntou:

— E onde fica a região em que você pretende viver como Tarzan moderno?

— Amanhã de manhã seguiremos de avião para Kalilue. É uma região menos conhecida no mundo. Um planalto com altitude média de 1500 metros, coberto de mata virgem e animais selvagens. Restam algumas tribos de nativos que habitam as franjas da mata. É um local tão remoto que nem mesmo essas tribos o conhecem direito. Existem lendas e mitos de animais fantásticos, de homens gigantes e civilizações perdidas. Todos evitam penetrar nessa grande floresta.

— Muito extensa? — indaga Charlene.

— Uma região de área estimada em 100.000 quilômetros quadrados. Maior do que a Dinamarca e a Holanda, juntas.

Eric tinha conhecimento do que falava, pois já estivera no Rift Valey, uma das regiões mais inóspitas da Terra.

— É um conjunto de formações que datam de mais de 30 milhões de anos, que inicia no nas nascentes do Rio Jordão, na Palestina, segue em direção ao sul, faz a separação entre a África e a Península Arábica, entra pelo continente, onde se estende por cerca de 5.000 quilômetros, terminando no centro de Moçambique.

Charlene olhou com admiração para Eric: ele demonstrava total conhecimento do que fazia e inspirava confiança. Era alto, cabelos loiros e olhos intensamente azuis. A boca e os traços faciais eram os de um homem decidido. Tinha a tez acobreada, pela exposição constante ao sol e às intempéries. Alto, forte, era um homem de ação, que amava a vida ao ar livre e a natureza. Aos trinta e cinco anos, conserva o vigor da juventude. Hábil no rapell e na escalada de montanhas, não havia desafio que o intimidasse. Rápido no manejo de armas, vencedor de torneios de arco-e-flecha, arremesso de lança e corredor de grande resistência.

— Sim, eu já sobrevoei diversas locais desse vale. – Charlene diz. — Inclusive já estive nas principais montanhas que estão dentro da área: Já estive no topo do Kilimanjaro e nas encostas do Niragongo e Kariximbi. São elevações que atingem até 5.800 metros de altitude. Mas as regiões do montes não são tão ermas, há muitas aldeias de nativos, reservas florestais demarcadas, estradas, campos de pouso para pequenos aviões.

— A região do Kalilue fica entre o lago Tanganica e o Lago Vitória. Altos penedos tornam difícil o acesso ao planalto. É uma região jamais visitada por nenhum explorador.

O olhar de Charlene encontrou-se com o de Eric, e uma faísca de estranha energia lampejou entre eles.

Dia seguinte, novamente no aeroporto. Desta vez, tomam um pequeno avião fretado por Eric, que os leva, após cinco horas de vôo, a uma região no oeste de Tanzânia. Orientado mais pelo conhecimento do piloto do que pelos instrumentos de bordo, o avião desceu num pequeno trecho de savana, um descampado sem arvores de tamanho suficiente apenas para a manobra de aterragem.

— O senhor tem certeza de que quer ficar aqui? — Perguntou o piloto. — A próxima vila fica a 200 quilômetros ao sul.

— Sim, e para o norte é só a floresta intocada. — Completou Eric. — É justamente aqui que desembarcamos.

— Bem, vão ficar bem isolados. Se é isso que desejam...

Desceram os dois apenas com as mochilas nas costas. Enquanto o piloto embicava o avião para decolagem, os dois procuram a sombra das primeiras árvores, que constituíam a orla da vasta e misteriosa floresta na qual iriam viver uma extraordinária experiência: sem recursos de qualquer espécie, munido de apenas faca de caça, tentariam reviver a épica história de Tarzan, o Homem-Macaco e sua companheira Jane Porter.

Dando a mão à Charlene, Eric disse:

— Aqui começa a valer a aposta.

ANTONIO GOBBO

Belo Horizonte, 12 de dezembro de 2011-12-12

Conto # 703 da SÉRIE MILISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 12/03/2015
Reeditado em 12/03/2015
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