Kora Ross. Parte 2
- Kinsey, não me diga que...
- Eu sei, Tá?! Ela o interrompeu. Não havia mais expressão alguma de contentamento, e alegria em rosto de ambos. – Rob, eu sei que é perigoso usá-los e eu não uso eles. Disse ela encarando-o, e prosseguiu. – Mas as vezes, eu não controlo eles e acaba que se manifestam sem eu perceber, e quando dou por mim eu já usei eles sem querer.
- Tudo bem, tudo bem. Disse Robert segurando uma mecha de cabelo de Kinsey, que escondia uma de suas sobrancelhas, e à pôs atrás de sua orelha. – Desculpe se estou sendo estraga prazeres. - Estraga prazeres? Ela o perguntou.
- Vai me dizer que não sente vontade de usá-los, nem por um pouquinho, digo, por vontade própria, depois de tanto tempo?
Ela riu, abaixando a cabeça por rápidos segundos, e levantando-a em seguida. – É, eu tenho vontade sim. Ela alisou a bochecha de Robert, admirando-a. – E você também. Robert riu e deixou um suspiro longo invadir seu corpo. Kinsey prosseguiu, fitando seus olhos nos deles. – Faz tantos anos, não é? Um dos motivos pelo qual eu não uso eles, ou pelo menos eu tento, é pela proteção da Kora. E também, as lembranças de tudo o que... Kinsey hesitou por um breve momento, mas continuou. – o que aconteceu com todos os que conhecíamos, me faz querer deixar tudo como está. Ela começou a arrumar o colarinho da camisa de Robert. - Não precisa dizer mais nada. Ele à olhou nos olhos, segurando as bochechas dela. – A gente já conversou sobre isso várias vezes. Não foi culpa nossa. O importante é que depois de tudo o que Retny fez, ela morreu, e a gente tem essa vida aqui. Temos a chance de nunca permitir que Kora tenha a vida que tivemos. Kinsey fechou os olhos, forçando as lágrimas a voltarem para dentro e Robert a beijou na testa. Encarando-a de novo, continuou. – Tudo bem? Ela fez menção com a cabeça que sim. – É normal depois de tantos anos sem treinar – disse Robert indo até a geladeira – a gente perder o domínio e as vezes, acabar fazendo certas coisas ao nosso redor acontecer. Terminou a frase pondo água de uma jarra fina e azul-escuro em um copo de vidro que estava sobre o balcão.
- Realmente. Disse Kinsey passando por ele com um sorriso meigo e saindo da cozinha, atravessando o corredor curto e iluminado por uma lâmpada quadrada e branca no alto do teto, chegando até a sala de estar. A sala de estar era bem decorada, quer dizer, “bem decorada” de acordo com os gostos de Kinsey. Havia uma TV preta, da tela bem grande que com a ajuda de um acessório em suas costas, à fixava na parede deixando-a suspensa sob um raque pequeno que a parte de cima era preto, e da metade do móvel pra baixo, era cinza-claro. De frente para a TV, ficava um sofá confortável de cor bege com lugares para três pessoas, com uma mesinha pequena e estreita ao lado, que sob ela havia um abajur amarelo.
Ela avistou o casaco de Kora que a menina usara para sair, em cima do sofá, e jogou um olhar de irritação sobre ele, pois diversas vezes já havia dito à Kora para não deixar roupas pelo meio da casa quando chegasse da rua. Mas Kora já havia adquirido tal mania irritante para a mãe e que toda vez que chegava em casa, era como se aquilo tivesse se tornado uma prioridade para a adolescente.
- Kora! Disse Kinsey em alta voz olhando para cima esperando uma resposta da filha. Kora não respondeu, então quando Kinsey deu o primeiro passe em direção ao casaco, um envelope branco e de tamanho mediano, surgiu por debaixo da porta deslizando pelo piso até afastar-se da estrada. Kinsey interrompeu seus passos imediatamente e esqueceu-se por completo do casaco, olhando apenas para o envelope que exalava curiosidade. Caminhando até ele, Robert surgiu do corredor atrás dela, mas olhando para baixo examinando uma carta que estava fora de um envelope que ele segurava na outra mão. O envelope vazio também era idêntico ao que Kinsey estava prestes a colocar as mãos.
- Kim, eu estava lavando o copo... – Disse ele tirando os olhos da carta e olhando para Kinsey, que agora, estava com o envelope misterioso nas mãos e de costas para ele. Ela se virou, mas ainda fitava os olhos no objeto em suas mãos. – O que é isso? Ele perguntou. – Acabou de chegar. Disse ela olhando para Robert, mas ficou mais surpresa olhando para o outro envelope que estava nas mãos dele, que de vista era muito parecido com o que ela segurava.
- Esse aqui também. Afirmou ele, levantando o envelope. Kinsey percebera que ele abrira o objeto de papel, e que na outra mão havia uma carta de papel comum, e que jazia aberta. – Aqui diz, “Toc-Toc”. Robert rompeu o silêncio repentino ali, repetindo o que havia lido na carta, encarando Kinsey. – Deve ser alguns meninos querendo pregar uma peça na gente porque somos novos aqui. Ele fez menção de rir. – Uma brincadeira? Questionou ela com as sobrancelhas levantadas. – Uma brincadeira – continuou ela falando e gesticulando com as mãos – é você quebrar ovos na porta da casa de alguém para que caiam ao passar; é você escrever ameaças no vidro do carro de alguém com tinta vermelha para parecer de longe, que é sangue... Na medida que ela ia falando, as palavras iam saindo mais rapidamente até que ela fez uma pausa olhando para Robert, e ele à olhou sem dizer uma palavra. – Você está bem? Robert perguntou. - “Tic-Tac”. Ela respondeu. – Am? Disse ele. – É o que diz essa carta. Esclareceu ela, indo até ele e lhe entregando a carta. Ele à pegou e releu o que ela acabara de dizer. Em todo aquele papel, havia apenas a palavra “Tic-Tac” em preto, no centro do papel. – Rob, sabe aquela sensação – Kinsey pôs as mãos na cintura e continuou falando olhando para Robert, mas ele ainda olhava para o papel em suas mãos – De que tem alguma coisa estranha acontecendo? Tipo, o seu... – Instinto falando com você. Disse um homem da voz suave, atrás do casal.