691-O ÚLTIMO CALIFA DE BAGDÁ-História de Marco Polo
Marco Polo (nascido em 15.setembro.1254, falecido em 29.janeiro.1324-com 70 anos) foi um extraordinário viajante veneziano que percorreu a Ásia de leste a oeste, de norte a sul, entre 1271 e 1294, como mercador, explorador e até embaixador a serviço do imperador da China. As anotações de suas viagens foram reunidas e publicadas numa obra intitulada O Livro das Maravilhas foi durante muito tempo uma fonte de informação sobre a Ásia, e principalmente a China de seu tempo.
A narrativa inclui os relatos de viagens bem como histórias que ele ouviu contar, relacionadas com lugares por onde passava. Esses relatos muitas vezes eram permeados de fantasias, que tornam certas partes de sua narrativa de Marco Polo tão extravagantes e curiosas que podem ser comparadas com as histórias de Xerazade, nas inesquecíveis Mil e Uma Noites.
Certamente a história do último Califa de Bagdá, tal como narrada por Marco Polo, é uma dessas que chegam às raias do extraordinário e do fantástico. Por isso, merece ser recontada e incluída nas Milistórias.
Bagdá, maravilhosa e brilhante, opulenta devido ao comércio de seda, pedras preciosas, especiarias, era, no final do século XIII, a capital de um vasto império e o Califa de Bagdá era o líder máximo de todo o mundo muçulmano de então.
De acordo com a narrativa, cheia de detalhes, de Marco Polo, em Bagdá eram fabricados tecidos finíssimos com a seda que vinha da China, e os tapetes mais belos do mundo. As pérolas que iam da Índia para a Europa eram trabalhadas em Bagdá, transformadas em colares cobiçados pelas mulheres de Veneza e de todo o Ocidente.
Tal riqueza proporcionou ao Califa Nisir o acúmulo de fabuloso tesouro. Marco Polo afirma que tal tesouro era conhecido como o maior acúmulo de ouro, prata e pedras preciosas.
O Califa Nisir não descuidava da sua segurança e do tesouro de sua posse. mantinha um exército de 100 mil cavaleiros, além de numerosa força de soldados de infantaria. Para guardar o tesouro, mandara construir um verdadeiro palácio de ouro que poderia resistir a qualquer tipo de ataque.
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Do Norte da Ásia, das infindas estepes geladas desceu o exército de Ulau, o Senhor dos Tártaros. Ulau, também conhecido como Hulagu Khan, pois era sobrinho-neto de Kublai Khan, imperador da China, era general de um exército numeroso, uma horda cruel cuja violência e destruição varriam do mapa as cidades que se lhe opunham resistência.
Bagdá estava na mira desse implacável guerreiro. A vantagem do exército tártaro era a rapidez de movimentos, que tomou de surpresa as forças do Califa Nisir. Antes que os generais do exército do Califa se dessem conta, a região foi tomada, a cidade invadida e Ulau fez do Califa prisioneiro.
A crueldade era a marca de Ulau. Sua tropa matou quase cem mil pessoas na cidade, acabando com o exército do Califa Nisir. Um grande pirâmide foi erigida no centro de Bagdá com as cabeças cortadas dos sacrificados.
Depois de tomar a cidade, Ulau foi conhecer o Palácio de Ouro e ficou estupefato com o que viu.
— Não consigo acreditar que existe tanto ouro e tanto diamante assim! — falou com um de seus generais.
— Tragam o Califa à minha presença — ordenou.
O Califa estava num estado de choque ante o desastre que havia ocorrido com ele e com seu império. O sofrimento e as privações da prisão haviam transformado o altivo homem num farrapo humano. Não falava direito e suas idéias eram confusas.
— Porque acumulou um tesouro tão grande? — Perguntou Ulau. – Que queria fazer com essa riqueza acumulada?
O Sultão, apático, nada respondia.
Ulau simplesmente não entendia tamanha avareza, continuando o questionamento:
— Não sabia que eu viria atacá-lo? Se sabia, por que não contratou mais soldados e cavaleiros para o defenderem? Acho que não queria gastar nada de seu tesouro, nem mesmo para sua defesa.
De joelhos ante o conquistador, Nisir permanecia mudo.
— Devia ter distribuído essa riqueza para o seu povo. Você vai pagar caro por sua ganância.
Como que acordando de seu devaneio, o Califa falou:
— Por Alá! Sim, leve todo o tesouro. É tudo seu. Mas não me mate nem me mande de volta para a prisão.
— Não vou ficar com seu tesouro, Califa. Pelo menos, enquanto você viver, ele é todo seu.
Os olhos do sultão brilharam.
— Já que ama o seu tesouro mais do que tudo no mundo, você vai ficar com ele. E não vai voltar para a prisão, não. Vi ficar no Palácio do Ouro. Ficará residindo no Palácio, donde não poderá sair. Você e seu maldito tesouro. Só o tesouro. Nada mais além do ouro e das pedras preciosas. Já que gosta tanto destas coisas, trate de comê-las!
E concluiu, gritando para que todos ouvissem suas ordens:
— Agora, encha a barriga com o tesouro!
Confinado no Palácio do Ouro, sozinho e sem nada para comer ou beber, o Califa ensandeceu em três dias e morreu de inanição após quinze dias.
Esta é a versão fantástica de Marco Polo da morte do último Califa de Bagdá.
ANTONIO GOBBO
Belo Horizonte, 27 de outubro de 2011
Conto # 691 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS.
1º. Da Série Histórias Maravilhosas de Marco Polo