O Escorpião Dourado. parte 2

E de dentro da escola saiu o professor Bóris sem o avental dele. O Bóris só andava com o avental pra todo o lado. Nunca o tínhamos visto sem ele. Parecia que ele andava sem outras roupas por baixo. E de repente estava lá o infeliz sem aquele avental. Veio andando em nossa direção. Será que ele tinha visto a gente? A gente tava escondido atrás do banco de cimento, que a escola mandou instalar em frente a escola, pra gente não ter desculpa pra ficar esperando o sinal na rua. Mas o Bóris continuava vindo em nossa direção. A gente abaixou mais ainda e ficamos morrendo de medo.

A Lucinha tremia tanto que parecia que ia ter um troço. O Maneco virou de costas pra não ver o cara chegar. Eu fiquei tão parada que parecia uma estátua, com a cabeça enterrada nos joelhos, as mãos atrás das pernas dobradas. Os outros esperavam mais tranquilos sentados atrás do banco.

O Bóris simplesmente sentou no banco. Ficou ali mudo e estático até cochilar. Nem nos viu. Ouvíamos seu ronco absurdo de tão alto e nem podíamos rir. Aguentamos calados e então Tadeu, que era o mais sensato da turma, fez um gesto indicando que um a um deveríamos sair de fininho, para não acordá-lo e esperar os outros atrás do muro. Primeiro saíu o Pedrinho e depois saí eu. Do muro ficamos observando o resto se mover. A Catarina era a mais desastrada e por isso devia ser deixada por último. Mesmo porque ela também era muito corajosa e não teria medo de ficar sozinha ali.O Maneco saiu bem atrás de mim. Depois que o Pedrinho chegou no muro saiu a Lucinha e depois o Tadeu. E só então saiu a Catarina. Ela chegou no muro sem incidentes isso porque o Tadeu foi tirando tudo que pudesse fazer barulho do caminho. Porque parece que a Catarina pisa sempre onde não deve. Como no caso do "Pé Grande" que ela acordou o bicho e ele veio pra cima da gente. Ela correu pra caramba e a gente como sempre ficou pra trás. Do muro ainda dava pra ouvir o ronco do Bóris, apersar de estarmos a uns vinte metros dele.

Um carro parou em frente a rua ao lado do outro muro da escola. Nos escondemos atrás das árvores do pátio da escola pra ver melhor quem era. Era um homem que caminhou até o banco e acordou o Bóris. Eles conversaram uns dez minutos e depois eles entraram na escola e ficaram lá por umas duas horas. A Catarina não aguentou de curiosodade, quando já estavam lá ha uma hora, e resolveu entrar na escola.

O portão estava com o cadeado aberto no falso. Ela terminou de abrir o cadeado e entrou atrás deles. Ficou lá um tempão e a gente começava a ficar preocupado, quando ela voltou e disse que eles tinham entrado no laboratório, mas diante do silêncio deles, ela os procurou e eles não estavam lá. Então ela voltou, contou tudo pra gente e a gente ficou quebrando a cuca um tempão pra tentar entender, porque eles sumiram e onde eles estavam. A meia noite, a luz do laboratório ainda estava acesa. E ficou acesa até as 2 horas da manhã quando a gente desistiu de esperar por eles e fomos pra casa dormir.

No dia seguinte chegamos a escola por volta das doze e vinte. Um depois do outro fomos nos amontoando no portão da escola. Falávamos sobre o assunto da noite passada, quando de repente o último de nós, o Tadeu, passou correndo no meio da gente e cantou uma maluquice assim

_Tem boi na liiiiiiiiiiinhaaaaaaa!!!!

A gente entendeu a charada dele. Logo atrás da Lucinha estava a Bolota. Ouvindo a nossa conversa. A pestinha da gorducha, deu um sorrizo amarelo e pra disfarçar apenas disse um oi bem cara de pau.

O Tadeu perguntou pra ela a quanto tempo ela estava ali, mas ela não sabia dizer. Tem apenas sete anos e já é uma fortíssima candidata a Candinha. Só Jesus na causa!

A gente parou com o assunto "Bóris". Era melhor não falar mais nada mas, ela certamente iria contar pro prof Pardal o que a gente estava falando dele.

O Bóris apareceu na primeira aula como se nada tivesse acontecido. Na maior cara de pau, não deu um só bocejo! Enquanto nós fizemos isto a aula inteira. Ninguém falou na tal explosão mas, na hora do recreio, a Bolota estava la contando para o Bóris alguma coisa. A aula terminou um tantinho mais cedo. A última aula era de Inglês e o professor não havia aparecido pra dar aula. A gente ainda não conhecia o sujeito. Seria a primeira aula dele. Um tal de Eleotério. Pensei que com um nome desse devia ser um capió daqueles. Contei pra turma meu pensamento e imaginamos um caipira dando aula de inglês e caimos na risada. A coordenadora entrou interrompendo o riso da turma e liberando a gente.

Quando cheguei em casa, coloquei a mochila no armário, tirei a calça e a blusa do uniforme e coloquei outras roupas, mas quando sentei na cama pra tirar as meias, levei um susto. Quase fui picada por um escorpião. Era daqueles amarelos. Credo, o professor de química falou pra gente, no ano passado, que esses até matam. Seu veneno é muito forte. Como será que ele veio parar na minha cama? Tinha até um tiquinho de terra onde ele estava. O bicho parecia que tinha sido colocado ali. Alguém queria me assustar. E conseguiu. Gritei por socorro e minha mãe apareceu. Ela e a Juju estão sempre a me mimar e proteger, mas precisaram chamar um vizinho pra pegar o bicho. Ele se chama Ailton e está sempre a postos pra ajudar as pessoas. É um Chefe Escoteiro. Gente boa demais. Ainda bem que era hora de almoço e ele estava em casa. Ele retirou a tampa de um vidro de maionese limpo e virou a boca do vidro pro bichinho que entrou meio a contra gosto, dentro da embalagem. Depois despejou álcool dentro do vidro e tampou. Aquele bicho ia direto pra prateleira do laboratório do grupo escoteiro da cidade. Até agradeceu pelo presente. Ainda não tinha um desses lá. Agradecemos e eu liguei pro Tadeu. Marquei com ele e ele ficou de marcar com os outros meninos na praça da cidade as 14 horas. Lá discutiríamos o "aviso" que eu havia recebido. Para minha surpresa todos receberam o mesmo aviso.

_ Quase fui mordido por um escorpião – Exclamou Pedrinho logo que nos viu.

_– Eu também - Exclamou a Lucinha, descendo da bicicleta;

_Eu também. Disse o Tadeu, que já estava sentado no banco.

_Eu também!! falaram juntos o Maneco e a Catarina.

_Pensei que era só eu, por isso marquei com voces. _Eu falei.

_Não, eu também por pouco não fui mordida – Exclamou a Diva.

_Gente, isso tá ficando muito sério. Alguém tá mandando um recado pra nós ou tá querendo ferrar com a gente. - Falou o Pedrinho.

Ficamos algum tempo em silêncio até que a mais tagarela de todos nós, a Catarina , falou:

_Foi o Bóris!!!

E falamos em coro

_Será!!!!???

_Bolota deve ter contado pra ele da nossa espionagem e ele resolveu dar um aviso. - Disse o Tadeu.

_ Então temos razão. A coisa é muito séria. Deve ter angu nesse caroço.

Todos riram do provérbio doido do Maneco. E o Tadeu corrigiu

_ Deve ter caroço nesse angu, seu bocó!!!

_E agora o que vamos fazer? - Perguntei.

_Sei lá Deby!! Vai ser perigoso continuar a fuçar nisso. - Pedrinho falou.

_Mas vamos deixar o Bóris continuar a fazer coisa errada na escola? - Perguntou a Catarina.

_Ele é peixe graúdo gente!!! - exclamou o Tadeu.

_ Onde será que ele conseguiu tantos escorpiões? Perguntou o Maneco

_Sei lá. E eu to querendo saber disso? Quero é saber o que ele tá aprontando. - Retrucou o Tadeu.

Um garoto passou vendendo jornais e eu comprei um "Jornal da cidade" Lá estava a foto de um homem desaparecido desde ontem. "Eleotério Viéis" era professor de inglês e morador da capital. Viera pra cá só pra dar aulas e desapareceu sem deixar pistas. A mulher dele deu queixa do sumiço dele hoje de manhã na delegacia.

_Deve ser o cara da nossa escola. O que não veio dar aula hoje. - Falou a Lucinha.

_Ei espera aí gente, esse é o cara que estava com o Bóris ontem a noite, lembram? O que entrou com ele na escola. - Lembrou o Tadeu.

continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 04/03/2015
Reeditado em 04/03/2015
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