O Dragão de Antcítera 2
...... E assim...
Quando, e por motivos óbvios, teve de olhar para trás, para salvaguardar a sua própria integridade física, encarou uma criatura tão imensa, que não pôde deixar de imaginá-la devorando-o e palitando os dentes com o que restara da sua armadura brilhante. Um fabuloso ser erguia-se sobre as quatro patas, cujas asas curvavam-se feito um arco-íris multicor logo atrás de suas costas, e de um olhar tão penetrante, que a única coisa que restou ao pequenino e humilde cavaleiro fora: Correr!
E assim, correndo como nunca, não num ato de covardia, mas de inteligência, já que enfrentar semelhante ser, cara a cara, num embate de forças desproporcionais, cairia irremediavelmente em derrota tão acachapante que seria cantada e recantada dos aposentos da mais imunda taverna, aos mais encantadores salões da corte palacial!
Atrás dele, como uma rocha enorme que de repente despenca da montanha desgovernada, veio o dragão furioso entre colunas e escadas de pedra: E pulava o cavaleiro de um lado, vinha o dragão do outro! E subia num telhado, quebrava o dragão a coluna do prédio! E subia na árvore, eis que o rabo do dragão varria os troncos numa só lambada! Grande ele era, e pior, ágil também!
A única esperança do cavaleiro, que precisava de um tempo para pensar, seria o canal de escoamento de água, estreito e fundo, logo abaixo da avenida da cidade. E lá foi ele! Abrigou-se na canaleta úmida, sabendo que o dragão ali não entrara. Mas as lendas dali sobre os dragões, não mencionavam o fato de que eles eram exímios fabricantes de fogo! Afinal, eles sempre foram pacíficos, e se houve um dia em que precisaram chamuscar um ou outro desavisado, fora em outra era, ainda mais antiga que a da convivência homem e dragão.
Recuperando o fôlego, na certeza de estar seguro, sente um cheiro estranho, indefinível, vindo da direção do dragão. Quase como um bafo, só que pior! O dragão realmente soltara um arroto na sua direção, e na ponta do rabo dele existia uma bifurcação, que terminava em duas bolas de um material vítreo e duro, que ao se chocarem uma na outra soltava uma pequena lasca de faísca, que em contato com o gás exalado do dragão... Provocaria um efeito que deixaria com vergonha uma bomba de napalm.
E não deu outra! Numa chicoteada de rabo, um fogo tão absurdo emanou tomando conta do lugar, que se a armadura do cavaleiro não fosse mágica, e ele não fosse realmente habilidoso e excelente guerreiro, acabaria aqui toda essa ladainha. É, mas não acabou: E ele enfrentou aquele inferno em volta de si como pôde. Eu lembro de ver apenas sombras e vultos em meio as chamas, ora como uma grande boca que buscava devorar um homem, ora como um homem escalando o pescoço e a cabeça de um grande monstro, e assim, em flashes de chamas, luzes e sombras, assisti à luta dos dois, sem saber se alguém ali ganhava ou perdia.
Mas no calor do embate, literalmente, de repente, um dos dois evade! O dragão abandona a batalha e volta as suas atenções para uma parte superior da cidade! Sobe inconformado e apressado, rasgando as chamas atrás de si, deixando o cavaleiro sem entender nada, embora aliviado.
O dragão estava distraído, dera as costas para o guerreiro, era a hora tão aguardada! Atravessar a lâmina mágica no lugar certo atrás da cabeça, daria fim a qualquer criatura. Não seria difícil, escalaria o edifício atrás dele, e sorrateiramente pularia sobre o dragão, desferindo o golpe fatal.
Mas ao chegar lá em cima, entendera o motivo de aflição do temível ser com o qual lutava. E em meio a alguns ovos, uma criaturinha gania por proteção frente ao fogo que avançava! Sim, os dragões são imunes ao fogo, mas os seus filhotes ainda não!
E agora, o que faria o cavaleiro frente a tal impasse? Para muitos talvez não fosse um impasse, mas para ele era...