O diário de Zizi

Cap. 1-- Sou Izi, grande gata exploradora ;)

- Subiu o Monte Mistério, tropeçou em uma cova de ossos e caiu num buraco escuro. Era assustador lá. Foi uma aventura incrível.

- Porque perde meu tempo com suas estórias? Não vê que quero dormir? Me deixa.

- Não são apenas histórias. Acontece do outro lado do muro. Foi o Léo que me contou.

- Léo é só um rato trapaceiro. Me deixa dormir. Daqui a pouco tenho um encontro com os rapazes.

Izi não conseguia acreditar na apatia de Augusto. Como podia pular o muro e não ir visitar as tumbas secretas? Quando tivesse idade viveria grandes aventuras do lado de lá. Bibis Augusto era seu irmão. Era muito vaidoso e chato. Só queria saber de se engraçar com as protetoras. Ficava fazendo charme e reclamando. Era mais velho e podia pular o muro. Mas não sabia aproveitar a vida. Se Izi pudesse pular aquele muro um dia, voltaria cheia de boas histórias.

- Meu irmão é chato demais. Basta que as protetoras virem as costas e ele logo apronta algo. Sobe na cortina, tropeça no vasilhame de água, sobe no grande muro. Culpa sempre dele é claro. Eu estar correndo atrás dele não justifica essas peripécias. Mas ele sempre coloca a culpa em mim. Não posso fazer nada se ele não sabe brincar.

Todos dizem que somos parecidos, mas é mentira. Ele tem 3 manchas pretas, enquanto eu só uma. Como já disse, é muito chato.

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Izi vive numa casa pequena de muros altos.

As protetoras são as moças amorosas que decidiram cuidar deles. Tinham-nos encontrado na beira de um rio perigoso. As moças eram bondosas e cuidavam com muito carinho da comida, da cama e do banho. A casa tinha poucos acessos para o mundo. As protetoras saíam logo que o sol nascia e voltavam só quando ele se punha novamente.

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-Sou Zizi. Sou forte e gosto de me aventurar por grandes mares, altas montanhas, lugares sombrios. Mas apesar disso, nunca saio de casa. As protetoras dizem que sou muito nova e ingênua. Bobagem. Se soubessem todas as coisas que tenho enfrentar pra cuidar dessa casa. Tenho certeza que elas não sabem que enquanto todos estão fora coisas assustadoras acontecem aqui. E só eu posso protegê-los.'

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Cap. 2-- O mundo lá fora

As coisas andam meio chatas aqui na casa. As protetoras só voltavam bem de noitão para dormir e Bibis normalmente passava só para comer e logo voltava para sua banda 'Guardiões da Gataria'.

Assim, nossa pequena grande Zizi era quem cuidava de tudo.

Enfrentava todas as noites bruxas voadoras, monstros peludos do lago, e grandes dinossauros de 8 pernas.

Só podia contar com seu amigo Léo, um ratinho muito esperto que conhecia um caminho para atravessar o grande muro.

- Léo, aonde vai? Termine de contar o que Dick atirador fez com a ‘Quadrilha Andorinhas’!

- Tem coisas que só pra lá do muro pode-se saber pequena Izi.

- Não sou pequena!

- Se fosse grande não estaria me perguntando. Veria com seus próprios olhos – saiu rapidamente por seu buraco no muro.

Por um momento Izi teve raiva das protetoras. Bibis era apenas alguns anos mais velho que ela, mas tinha liberdade de ir aonde quisesse. Ela, porém, tinha que se contentar com o que Léo lhe contava do mundo.

Angustiada, deitou em sua caminha para descansar. Hoje conversaria com as protetoras. Elas viviam dizendo que precisava ficar um pouquinho mais velha para sair. Mas isso não era justo.

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Já era manhã quando acordou e as protetoras tomavam seu café matinal. As manhãs eram sempre lindas. Frescas e tinham um cheiro bom de café e flores. Logo que levantou ganhou um afago em seu pescocinho. Ah! Que delícia. Elas lhe sorriam e diziam palavras doces. Por um segundo até esqueceu a vontade enorme que tinha de conhecer lá fora.

Mas seu sossego estava prestes a acabar. Seu irmão, aquele baderneiro, acabava de voltar de sua vida bohemia. As protetoras sempre o recebiam com comida boa e afagos. Não era justo.

- Eu fico em casa enquanto ele pode aproveitar as aventuras do mundo e ainda ganha todo aquele carinho. Quer saber, não vou conversar nada. Não vou ouvir a mesma resposta novamente. Vou conhecer o mundo, gostem ou não. Sou grande pra isso. Eles vão ver que sei me virar sozinha.

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Cap. 3-- Plano de fuga

Eu e Léo observamos o seguinte:

1. As protetoras abrem o portão às 7:30h

2. Levam 40 segundos para transportar o lixo pra fora.

3. Bibis nesse horário já está preparado para dormir.

O plano é:

1. 7:25:00 fingirei que durmo perto do portão

2. Quando abrirem o portão Léo irá fazer barulho na casa

3. Elas voltarão deixando o lixo escorar o portão

4. Enquanto abrem a casa Léo escapa pela frestinha da porta.

5. Finalmente conhecerei o mundo lá fora.

Nota: Léo me deu um mapa das tumbas secretas para servir de esconderijo.

- Mal consigo dormir de ansiedade..

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Cap. 4-- O grande dia

Preparei uma mochila com pequenas porções de ração, uma garrafa de água e minhas economias (Léo vai cuidar delas pra mim quando estivermos lá fora. O mundo deve estar cheio de ladrões).

A hora se aproxima. Aproveitei a chegada de Bibis para levar a mochila lá fora.

Léo já está em seu posto atrás do pote de feijão em cima do armário.

Já me deitei na mochila para escondê-la. Não consigo esconder a ansiedade.

Lá vem elas.. Mas, cadê o lixo? Ai, essa não. O plano não previa isso. Vai dar tudo errado. Elas vão descobrir. Vão me colocar de castigo. Pior, ficarão magoadas.

Estão chegando. Vindo em minha direção. Será que já descobriram?

- Que faz aí pequena Izi? Deite lá dentro querida. Logo vai chover.. – ganhou seu último afago.

Ufa. Não sabem ainda.

- Que barulho é esse?

- Veio da cozinha.

Foram se afastando, deixando o portão entreaberto. Bastava que se afastassem um pouco mais para que conseguisse correr sem ser capturada.

Mas novamente o destino parecia lhe atrapalhar os planos. Uma forte rajada de vento veio fechando o portão. Teria que agir muito rapidamente.

Como num filme, a pequena Izi jogou a bolsa nas côas e em largos pulos foi se aproximando da fresta que ia se fechando. Num segundo tudo aconteceu.

As protetoras perceberam a movimentação e como era de se esperar tentaram impedir. Mas Izi foi mais rápida. Deu um último salto e passou para o lado de fora com o portão fechando em suas costas.

Agora não havia tempo a perder. Nem sua patinha que tinha se machucado na fuga poderia impedi-la. Teria que correr ainda mais longas milhas até estar segura nas tumbas.

Mas chegando à esquina ouviu o portão se abrir. Ouviu seu nome e virou para olhar de soslaio. Seu olhar encontrou os olhos desesperados e magoados de suas protetoras. Por um segundo exitou. Pensou em voltar atrás e pedir desculpas. Mas era tarde. Já tinha ido longe demais para desistir ali.

Sua aventura estava só começando.

(Continua..)