Molusco, o criminoso do fundo do mar
Ele era um criminoso da pior estirpe. Daqueles que fingem o bem quando, na verdade, propagam apenas o mal. Molusco, um invertebrado molenga e venenoso, era um marketeiro de grande qualidade, que fazia discursos inflados e populistas, apelando sempre à sensibilidade dos desesperados e da mídia politicamente correta.
Assim, molusco construiu um império de falácias e ilusões. No seu entorno, bandidos da mesma laia, sempre dispostos a perpetrar-se no poder através de projetos de leis e emendas constitucionais, cumpanheiros de armas, das antigas guerrilhas, dispostos até a matar para esconder do público lacaio as sujeiras por trás de um plano de poder muito maior que qualquer um poderia prever.
As movimentações políticas já aconteciam desde uma década antes, fosse inconstitucionalmente por organizações internacionais de oceano, ou por emparelhamento estatal no segmento nacional. O mar estava sendo preparado para ascensão histórica de Molusco, o primeiro invertebrado a chegar ao poder no país dos vertebrados.
Montado em promessas que promoveriam melhorias de vidas para todos os invertebrados oprimidos e trabalhadores daquela imensidão azul, chegou ao poder como um messias da justa causa invertebrada. Dizia que, os invertebrados, trabalhadores barbatanais e mal remunerados é que eram, de fato, a espinha dorsal daquele corpo marítimo chamado de sociedade aquática, negando o fato de serem os vertebrados que davam o trabalho aos invertebrados, de forma que todos eram igualmente importantes. Mas não para Molusco. Para ele, destruir as vértebras era o primeiro passo para a revolução invertebrada.
Assim começou o inicio da era molusquiana, estabelecida em bases sem vértebras e capengas, incapazes de sustentarem o peso do corpo marítimo nacional, tal qual eram as falácias de Molusco. Uma hora iriam cair, inevitavelmente.
Muito namorador da mídia, Molusco conseguia divulgar sua imagem de trabalhador e democrático com facilidade. Seu império passou por alguns maus bocados nos primeiros anos de governo, porém sempre se saía bem devido a propinas para a base oposicionista, e por ter criado um “terreno” favorável para sua permanência imoral no poder durante mais de uma década de aparelhamento estatal por debaixo dos corais. Não importava, então, os erros – havia sempre dinheiro publico para propinar os oposicionistas e a base aliada para ficarem de boca fechada. E quando a tática falhava, havia sempre o marketing e a máxima “culpa da elite vertebrada e conspiracionista”. Os aliados de Molusco alegavam que os inimigos políticos tentavam desesperadamente e ridiculamente tentar difamar o primeiro invertebrado no poder. Não existia a tal elite, apenas as falhas e crimes de Molusco e seus aliados, porém os cardumes de peixes não tinham conhecimento do que se passava de verdade, de forma que acreditavam no que o Molusco dizia e o que a mídia confirmava. Molusco era santo. Cego, surdo e mudo – razão melhor para beatificá-lo, pai dos mares, não havia.
Não se importava em como faria para permanecer no poder. Por isso continuou a bem sucedida política econômica de seu antecessor, um vertebrado falsário e com ideologias de raízes enganosas e pérfidas iguais à de Molusco, a despeito do que diziam alguns de seus aliados e, principalmente, seus eleitores invertebrados. Não importava. Não se mexe em time que está ganhando, não de início, claro – é preciso solidificar as bases para dar continuidade ao plano de poder!
Molusco continuou no poder por mais alguns anos, aos trancos e barrancos, mas ainda como herói para os cardumes de vertebrados e corais repletos de invertebrados. Sua sucessora, uma Baiacu que se inflava toda vez que falavam mal de Molusco, assumiu a responsabilidade de receber todas as culpas pelas incompetências e sandices criminosas de seu líder invertebrado. Ele, claro, sabia que suas propostas reais não dariam certo se não aplicasse determinados tipos de políticas para isso. Para tal, já prevendo os infortúnios, supostamente de curto prazo, precisava exatamente de uma sucessora para aplicar seus planos de governo e receber as barbatanadas na cara em seu lugar. A Baiacu era perfeita para isso! Sacrificar-se pelo líder mor era uma honra, definitivamente.
O plano de poder continuava e o fim era claro, ou nem tanto. O mar que outrora fora cristalino agora era de tom avermelhado – tal qual a bandeira que Molusco defendia – tantos eram os peixes, vertebrados ou invertebrados, que morriam aos montes todos os dias naquelas águas. E era apenas o início do plano de poder. Tinha muito mais por vir. Ainda era preciso que Molusco atacasse a Baiacu com força total, tal qual fizera anteriormente com alguns aliados – maneira de desviar o erro para outrem típica do Molusco – para fazer os cardumes acreditarem que ele nada tinha de culpa pelo mar caótico de ondas fortes e infestados de tubarões famintos.
Mas naquele mar ainda existia esperança, mesmo que remota. Era o peixe-espada Bolsofish, líder da oposição sincera e verdadeira, e ele estava disposto a dar a vida para salvar o mar e torná-lo cristalino novamente. Mas a continuação dessa história ainda espera um desfecho.