O monstro do rio

A descrição que seu Pedro Galdino dá para o bicho é a seguinte: Ele tem um rabo de serpente é da grossura de um tambor de 200 litros, é peludo tem as orelhas de burro e de vez em quando dá uns esturro feios que parecem trovoes, faz a água vibrar. Por muitas vezes Já tentei imaginar da de cara com um animal desses e cair duro. O Joel falou em tom de brincadeira, "conta ai pra ver se ele acredita" Só que seu Pedro contou convicto.

No momento cheguei a imaginar que essa historia pode ser reflexo de coisa inventada pelos Padres Eruditos ou missionários que moraram ali no pé da serra bem no começo do século passado; Quem sabe inventaram essa historia para afugentar os curiosos que apareciam por ali.

Passado alguns meses desse passeio a Serra Grande, foi que me dei conta que haviam outros relatos de pessoas sobre o tal monstro que seu pedro viu. E muitos pescadores já tiverem suas redes destruídas ficando com enormes buracos dando perca total.

Pescadores antigos como o velho Nicolau costumam dizer que ali no estirão de frente a Serra é o lugar em que os cardumes que sobem o rio branco param para descansar, talvez seja isso que torna o lugar farto de peixes como: pescadas, tucunaré, sardinhas,pacus, surubim, Matrinchã e outros. Uma coisa é certa ali tem muito Botos.

O primeiro relato foi do Mario, mecânico de motor de popa ali do Bairro pricumã, pescava em frente a serra acompanhado de dois colegas, depois de esticarem as redes voltavam para o acampamento um pouco mais em baixo, ao passarem entre duas prainhas, eles sentiram um enorme baque no fundo do barco como se se a canoa tivesse trepado em uma arvore submersa, foi um choque rápido, mas desequilibrou todos dentro do barco.

Desaceleraram o motor focaram com as lanternas pois era noite, verificaram metendo na água uma zagaia e não acharam nada. O Mario acha que eles esbarraram na costa de algum animal grande! Se era o tal monstro eles Escaparam...

Segundo Relato: Sargento Arruda, fotografo profissional dono da foto Arruda no centro de Boa Vista, vinha de seu sitio na boca do rio cachorro que fica abaixo da serra grande, era noite, estava na proa da canoa com uma lanterna e uma espingarda vinte carregada, quando chegaram nas proximidades da boca do Igarapé Arara-quara,lembrou do pedral na margem direita. Nesse momento falou para o companheiro: “compadre vá mais devagar e perto da beira, quero ver se mato uma paca” em seguida pôs-se a focar com a lanterna, enquanto o compadre passou a ir mais próximo da margem. Quando passava em frente ao pedral o foco da lanterna bateu em cima de dois enormes olhos, ele nunca tinha visto algo igual, o animal estava fora da água em terra.

Caçador experiente retirou o foco por uns instantes apontando a lanterna para o alto, ficou observando o par de olhos mantendo aquela luz azulada, sem se apagar. Na mesma hora disse: “compadre bota pra beira, faz a volta, vou dar um tiro no meio dos olhos daquele Bicho!” o compadre que acompanhava a situação lá da pôpa deu uma guinada no barco no sentido contrario ao solicitado pelo amigo quase o jogou dentro da água, já que o mesmo não esperava aquela manobra. Com a voadeira fazendo bigode e vendo que o amigo não aprovou a sua manobra o compadre gritou la da pôpa “compadre se você errar o tiro esse bicho vira o barco e come a agente, vamos embora...

“Eu considero aquele lugar o Triângulo das bermudas rio-branquense lugar temido pelos que navegam fora de hora, ali durante o dia principalmente pela manhã são frequentes temporais com banzeiros e fortes rajadas de ventos capazes de tombar barcos”.

Terceiro relato e o mais impressionante Romeu wapixana a 50 anos para trás, Estava lá na beira do estirão no momento que apareceu um cabôquinho, vinha caminhando pela beira, ao se aproximar perguntou com sotaque inglês: “parente eu pode tomar banho ai” apontou para o rio Romeu desconfiado afinal nunca tinha visto aquele caboco por ali respondeu balançando a cabeça que sim e apontando o rio com a cuia na mão, tipo “fica a vontade”.

O caboquinho não se fez cerimonia, tirou rapidamente o calção a única coisa que vestia, jogou para o lado e se atirou na água com a firmeza de quem conhecia o lugar. Só alguém que conhece bem ali para pular de cabeça como ele o fez, o local é cheio de pedras, caso contrario aquele garoto era um demente.

Dentro d’água dava mergulhos e boiava parecendo um pato. Parecia familiarizado com o local, ou desconhecesse totalmente a fama. Entre um mergulho e outro dava umas risadinhas, o pescador começou a acreditar na ultima hipótese “O cara e demente”.

Teve um mergulho que o caboquinho demorou a aparecer, foi boiar muito longe, exatamente no meio do rio. Isso espantou Romeu, que logo pensou “que caboco bom de mergulho e de folego”.

É muito difícil nadar no rio Branco a corrente e muito forte.

Em seguida deu outro mergulhou reaparecendo na outra margem do rio bem do lado de uma canoa.

Subiu nessa canoa e danou a remar vindo em direção a Romeu, que no momento estava encabulado com aquele super-cabôco... Depois de remar por alguns minutos o garoto começa a se aproximar de onde saiu.

O pescador não deixava de observar que próximo a canoa do rapaz havia um movimento na água como se alguma coisa o seguisse por baixo da água. Ele chegou a imaginar que aquilo se tratava de uma intidade encantada. Observou ele a margem amarra a canoa um pouco acima de onde estava. Em seguida o jovem diz “fui pegar ubá para parente meu que vem amanha pra atravessar” em seguida voltou para a água, mergulhou novamente de cabeça, nesse momento deu para perceber que ele era acompanhado por uma sombra dentro dágua enorme.

Foi então que Gilberto pensou "vou dar no pé, estou diante de uma entidade do rio querendo brincar comigo”. Quanto ao caboquinho bom de mergulho, voltou a tona percebendo a cara curiosa quase de terror do Gilberto lhe pergunta: “ Ei parente tu quer namorada!” o pescador sem entender direito e achando que o caboco estava com saliência disse com voz firme: “que conversa é essa rapaz ?”

É minha cunhada! Pode namorar com ela, ela tá aqui do meu lado, quê vê? Sem deixar o pescador responder fez um mexido com os dedos na flor d’água e apareceu um boto femea. Essa e minha cunhada, minha mulher tá aqui também, fez o mesmo movimento dessa vez com as duas mãos. Então aparece outro boto aparentando ser mais jovem, o

pescador estava perplexo com aquilo um homem que conversa com botos parece coisa de louco. “minha cunhada me disse que tem peixe no teu espinhel” Ele olhou em direção ao espinhel e viu a boia mexendo, estava mesmo encabulado com tudo aquilo. Vendo que não tinha jeito resolveu interagir com a entidade, “como tu sabe?” “elas falam comigo e disse que é surubim” o pescador pensou : É acho que eu é que estou ficando demente mesmo onde já se viu falar com um boto. Tudo era muito intrigante, mas ao mesmo tempo curioso.

Com uma vontade porreta de pegar sua canoa e fugir de perto daquela situação. Já pensou! um maluco acompanhado de peixes enormes. Onde já se viu logo boto um dos bichos mais temidos pelos pescadores e ribeirinhos, animal místico cercado de lendas e historias. No entanto sua curiosidade o prendia ali olhando aquela Cena inacreditável, foi então que começou a interagir : “onde tu mora?” indagou“ no pirara”(pirara é um lago que tem na margens esquerda do baixo rio Maú. Rio que é fronteira entre Brasil e Guiana inglesa) apontou para o leste, lá onde o sol nasce. “Como tu veio parar aqui?” “vim pelo Maú quando agua subiu, remei em meu ubá, apontou pra canoa, agora ficar morando com parente na boca do rio bem ali em baixo (boca do mucajai), aqui nesse poção ser melhor lugar quando rio tá baixo ter muito peixe meu mulher o´caçari (boto em Makuxi) sabe onde os cardumes fica, foi ela que me chamou do pirara.

Como tu aprendeu a falar com eles “os botos”. Foi two yeas ago , entende, tois ano “faz gesto coma as mãos acenando para trás.( Dois anos atrás) Eu pescava no Maú perto do Good roope (antiga fazendadas margens do Maú) estava pegando muita mamuri (matrixâ) no lago pirara perto da maloca onde nasci, no lago apareceu vários O´cacari e começaram a tirar peixe da rede, fiquei com raiva peguei meu arpão de matar Arapaima (pira-urucum) e acertei um O’cacari o maior que tinha. Agua ficou suja de sangue, O´cacari parou de tirar peixe do rede, agua ficou silencio... Meu brother fala para mim zangado “ por quê faz isso com O’cacari? Respondi: “agora ele sabe quem mando no Maú”. Pancada na canoa parece bateu na pedra de cachoeira, mas foi O´cacari que bateu, eu caio dentro d’água, quando to voltando para a flor da agua, senti dente de O´cacari no meu braço, me levou para fundo do rio era dois, não ter forcas para lutar, eles muito forte dentro d’água.

Pensei agora vou virar sombra, não consegue respirar e água ser muito escura, não ver nada, eles vão me afogar. Então eu respira novamente, eles me levar para dentro do “loja” (salão submerso) lá eu saio da água e fico em prainha do salão, olha para lado e ver O´cacari ferido com meu arpão chorando de dor. Muito o’cacari boia perto, faz muito barulho ffffuuuuu!!! Ffffuuuu! Fffffuuuu! Eles zangado comigo. Entendi que tinha de cuidar o´cacari ferido, tirei ponta do arpão e segurei com mão para não sair sangue, foi quando apareceram mais outros o´cacari e trouxe “mukumúku” (aninga, uma planta aquática) deixou bolo de mukumúku boiando bem perto, então pensar, mukumúku bom para curar ferrada de arraia então também serve para colocar na ferida, eu pegar aquele aninga mastigar e colocar na ferida, sangue parar de sair, mas leite da aninga deixar meu boca arder e cabeça tonto, parece eu fumar tabaco brabo do guyana, não sei se foi veneno ou feitiço do Mukumúku eu começa a entender tudo que o´cacari dizer. Tuxaua deles falar que se Tox’imauite (nome do o’cacari ferido) virar sombra eu também vai virar sombra ali dentro daquele loja, então eu fiquei ali com o´cacari muito tempo até que ficou bom para pescar novamente.

O pescador estava de boca aberta, encabulado com aquela historia, resolveu tirar algumas duvidas: “como você enxergava lá no salão pra ver que o boto ferido estava do teu lado?” entrava luz por brecha nas pedras do cumeeira luz bate na agua e vai na parede que tava cheia de pedras que brilham (diamantes, O Maú sempre foi conhecido por esse mineral) então fica dia e fica noite dentro do loja. “E o que você comia” Os parentes de Toxmauite tangiam cardumes de curimatãs e sardinhas para dentro do loja e eles pulavam em terra no prainha de tanto medo dos o´cacari eu pegava e comia alguns dava outros pro meu doente o que sobrava jogava na agua de volta para não estragar, foi assim que fiz.

Foi enquanto eu cuidava do doente que conheci as suas irmãs, as vezes a noite eu ficava na água por que e quente e elas vinham falar comigo e eram muito brincalhonas foi assim que conheci. Quando tox´mauite ficou bom, me abandonou lá embaixo no loja para virar sombra ele ainda tava zangado comigo, foi elas que me tiraram de lá e trouxe pra cima.

voltei para meu maloca, mas meus parente tudo mundo fugir de mim achar que eu ser uma sombra então eu abandona o pirara e desce o rio com O´cacari e agora to aqui!

O quê teu parente faz para esse lado, tá caçando? Não ele tá lá no missão que tem no pé da serra do outro lado, trabalha com os Karaiuá de lá.

Parente tu sabe que ali embaixo dessa serra tem salão também? Salão grande, muito grande mesmo, lá dentro tá a sombra dos O¨cacari mais velho( ou seja, embaixo da serra grande tem um cemitério de botos). E Debaixo desse rio tem ôco com muitos outros rio com muito loja grande, mas não é todo O´cacari que viaja por esses lugar, se não ele não volta fica lá e vira sombra. Só os O´cacari mais velhos faz isso, aqueles mais sábido que conhecem o caminho que na seca fecha, e na cheia a forca da agua abre caminho, entende nê?

Gilberto pensa, “esse caboco e doido mesmo, onde já se viu um rio embaixo da serra e outro embaixo da terra”. Tu já foi lá embaixo da serra? Perguntou. Não, de jeito nenhum, lá só vai os que vão virar sombra, meu cunhada falou lá é morada de “rató” um bicho grande com rabo de sucurijú, na seca fica dormindo e na cheia quando a água fica suja ele sai pra comer peixe grande como o Pacamon, grande como esse ubá (canoa) ele come muito peixe que sobe esse rio e as vezes rató enganado pensando que é peixe batendo na agua rató engole gente! Eu não nado no rio quando água ta grande, tenho medo de "rató" me pegar.

O sol já estava se pondo, nesse momento um tucunaré da um bote na flor da água, Gilberto toma um susto. Também com toda aquela historia quem não se assustaria, percebe que a noite vai chegar.

É companheiro vai ficar noite eu vou me embora, quando você quiser aparecer eu moro lá embaixo na boca do quitalaú, até mais. Despediu-se do jovem que continuava dentro da água rodeado pelos botos. Em seguida passou no seu “espinhel” tirou o surubim e seguiu para casa.

No outro dia pela manha cedinho o pescador foi com seu irmão conferir o espinhel, tinha somente dois pintados, antes de recolher o seu material deu uma olhada em volta e nem sinal de gente, voltou para casa imaginando se aquela conversa que ele teve foi um sonho ou se foi real.

Uma coisa ele me disse que aprendeu, foi sempre temer as águas daquela região e nunca mais nadou com o rio branco cheio, lembrando sempre do tal rató...

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Lulajungle
Enviado por Lulajungle em 08/01/2015
Reeditado em 18/02/2018
Código do texto: T5094468
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