Medo Mal Terrivel

O medo é terrível, e por muitas vezes causa desgraça. O medo que se apossou do ser de Manoel foi devastador. Desde pequeno, com apenas cinco anos o garoto sentiu um medo terrível ao se deparar com a figura de seu pai (morto por bandidos) a sua frente, sorrindo com língua de fogo. Desde este fatídico dia Manoel tornara-se uma criança muito medrosa, sentia receio da sua própria sombra.

Aos dezesseis anos o garoto era motivo de chacota para os seus amiguinhos da escola, todos diziam que era muito medroso e gostavam de assusta-lo continuamente. Certa vez, durante uma briga de Rua Manoel sentiu medo de apanhar e recusou brigar, mesmo assim acabou apanhando. Foi uma briguinha boba, poderia dizer que em nada mudaria o seu comportamento pacato. Assim Manoel seguiu sempre com medo, não podia encontrar o tal garoto do qual havia apanhado que logo saia em disparada. Certa vez, durante um baile na escola Manoel decidiu levar consigo uma faca, se sentia mais protegido, achava que estando armado ninguém mexeria com ele. Na verdade queria apenas intimidar no intuito de se livrar de uma eventual “segunda” e constrangedora surra. Tudo parecia normal, até que Severino garoto muito briguento, habituado a provocações resolveu provocar uma briga, ele sentia prazer em demonstrar sua valentia perante toda a escola. Manoel então o advertiu:
--- Se você tentar me bater eu te furo!
O provocador, neste caso, o Severino riu daquele lampejo de coragem, e partiu para o ataque bradando:
--- Agora é que você vai levar uma cosa com faca e tudo!
Severino o agrediu em cheio no rosto com possante soco quebrando-lhe o nariz. Ao levantasse Manoel partiu para o inesperado revide, de faca em punho desferiu quatorze facadas no tórax do seu adversário. Todos ficaram surpresos, jamais poderiam imaginar que o garoto medroso pudesse ser tão cruel. Isso com certeza Manoel fora. Após ter desferidos os golpes de arma branca ele arrancou um dos olhos de sua vítima e o mastigou diante de todos. Foi naquele momento que morreu, não só apenas o Severino, mas também o medroso Manoel para nascer o mais sanguinário dos assassinos, o “Arranca-Olho”.

Esse foi o codinome aplicado ao Manoel depois do acontecimento inusitado do qual acabara por matar, a facadas um jovem briguento. Desde este fatídico dia Manoel passou a matar por qualquer motivo. Tornou-se integrante de uma quadrilha de traficantes de drogas. Em poucos meses assassinou seu próprio chefe, assumindo o seu lugar logo em seguida. Estava no comando geral no trafico do morro canta galo. O medo não mais existia em seu ser, agora estava dominado por uma fúria avassaladora e sanguinária. Tende noticia que Manoel chegou a matar cerca de oitenta pessoas, dentre homens, mulheres e crianças. Foi preso mais de trinta vezes conseguindo sair livre por falta de provas. Sempre que conversava com seus comparsas, narrava o motivo pelo qual arrancara um dos olhos e a língua de suas vítimas. “Arranco o olho por quer é reflexo do medo, a língua por falar demais”. Manoel permanecia cruel, haviam passados vinte e dois anos desde o trágico acontecimento na escola, então, durante uma noite de farra resolveu retornar ao bairro onde um dia morou com sua mãe e seus dois irmãos, Joaquim e Adonias. O último tinha apenas um aninho quando aconteceu o tal episódio, nunca veio a conhecer o irmão protagonista desta triste história, pois o Manoel havia se transformado em um assassino frio e cruel. Desde então o “Arranca Olho” nunca mais havia retornado aquele local. Não queria relembrar de sua antiga fama de medroso, não se importava com sua mãe e muito menos com os seus irmãos. Porém, o Sr. Destino o trouxe de volta aquele bairro. Ao adentrar em um Bar 24 Horas deparou-se com um grupo de jovens jogando sinuca, dirigindo-se a eles indagou com sarcasmo: --- Qual das maricas é a mais medrosa? --- Um dos jovens replicou --- Não enche velho, ninguém aqui é bicha, sai fora!. Foi neste exato momento que Manoel sentiu o sangue ferver em suas veias e, puxando do revólver calibre 38 disparou três tiros no crânio do rapaz, matando-o instantaneamente. Outro jovem, que estava próximo de Manoel partiu para cima dele, tomando o revolver com golpe rápido e decidido, em seguida disparou dois certeiros e mortais tiros no peito de Manoel, que ferido ainda encontrou fôlego para balbuciar... --- Quem é vo...cê?... --- Adonias é meu nome. Manoel enquanto moribundo pode contemplar o medo estampado na face daquele jovem, então teve a convicção que o mesmo o matara, não por que era valente, mais sim por puro impulso do medo. Ali jazia inerte, atirado ao chão, o temido bandido do Canta Galo, o Arranca Olho sem saber que o seu algoz fora seu próprio irmão caçula Adonias.


Marcos Antônio Lima
Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 06/01/2015
Reeditado em 09/09/2017
Código do texto: T5092665
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