o Sentimento do E.T Halley

Eis que após 22 dias em hibernação, ele acorda e levanta lentamente, estala seus três únicos dedos da mão direita, um por vez e depois passa para os da esquerda, enxerga um vidro em sua frente e vê seu reflexo, analisando calmamente as pequenas dobras que sua pele sofreu devido aos dias de sono que acabara de despertar. Continua lá, parado e com os olhos fixos no espelho, suas grandes pupilas dilatam ao lembrar-se da nova jornada que terá de encarar, varias perguntas rondam sua mente, sente-se um tanto inseguro porem muito ansioso para começar sua primeira expedição.

Dois dias se passam e HLQ13 se prepara para apresentar-se a nova tripulação, o garoto reagiu muito bem às provas e aos testes de aptidão e por estar entre os mais bem avaliados pôde escolher um planeta tranquilo e vasto para iniciar novas pesquisas em sua área preferida, a “ciência dos Comportamentos mentais de raças inferiores”.

A saída está marcada para as 40 horas da tarde com previsão de um dia quente e temperatura próxima dos 200° graus, a viagem deverá ser muito tranquila e durar vários dias.

Faltam poucas horas para a partida e o jovem participa de uma refeição especial com os membros mais próximos de sua família. Após a refeição todos o acompanham até a estação de lançamento que fica a alguns quarteirões de seu lar.

Tudo segue como um dia quase normal, mas faltando apenas 30 minutos para o embarque HLQ13 começa a sentir um aperto no coração, talvez já seja saudade, pois o maior tempo que ficou longe da família foi há dois anos quando passou quatro semanas em um satélite próximo ao planeta natal, porem agora é diferente, terá de ficar 3 anos há milhões de anos luz de distancia, tudo bem que as conversas via aparelhos tecnológicos ajudam mas para ele ficar sem o contato físico principalmente com a mãe é algo muito difícil, sempre fora muito mimado e de todos os vinte novos tripulantes certamente é o menos independente.

HLQ13 está entre os últimos da fila que começa a penetrar a nave, para ele este processo é tranquilo, assim como as atividades rotineiras nos treinamentos. As luzes da espaçonave brilham de uma forma única desta vez, e talvez ele nunca tivesse reparado no bonito contraste que elas fazem ao iluminarem a lataria cinza fosco do veiculo.

Ao entrar na nave o jovem logo anda até seu quarto e guarda os objetos que trouxera para se lembrar de casa nas horas difíceis, a saída é tranquila e a viagem sem turbulência, e o seu coração bate de uma forma que nunca sentira antes, mas ele agora já sabe o real motivo, está iniciando o maior teste de sua vida até então e passando para um estagio mais elevado de experiência.

Olhando pela pequena janela que fica em uma das laterais, vê todo o universo ao seu redor, toda aquela imensidão negra, assustadora, escura e cheia de mistérios o intriga, fazendo o refletir sobre tudo o que lhe rodeia e acaba dizendo baixinho para si mesmo:

- Existem centenas de planetas onde há vida, em cada um milhares de bilhões de vidas habitam, cada qual com sua personalidade, característica, espécie, forma de agir e de pensar – então ele para, pensa por um tempo, mas continua – Por que será que somos muito mais evoluídos do que os outros? Por que será que nós controlamos a galáxia? O que será que eu tenho de especial para estar aqui neste momento?

Agora ele sai da frente da janela, deita em uma poltrona e passa horas em imensa reflexão.

Os Dias passam e HLQ13 começa sentir um tédio dentro da nave, aliás, todos sentem, mesmo que o grupo completo de integrantes já esteja enturmado, as leituras, os jogos e vídeos instrumentais do novo planeta já não satisfazem e divertem mais. Mesmo seu povo tendo um avanço tecnológico milhares de vezes maiores do que todas as outras civilizações do universo, eles seguem doutrinas simples e preferem que as naves tenham somente os recursos necessários fazendo com quem seu interior fique vazio e espaçoso.

Há três meses a turma começou os estudos sobre o novo ambiente que viveriam por três anos e facilmente aprenderam sobre as culturas, línguas, dialetos e tudo que se possa imaginar sobre os seres que irão encontrar. O principal objetivo desta missão é entender o funcionamento e características mentais dos habitantes dominantes deste planeta, os mais inteligentes e únicos racionais entre as outras milhares de espécies presente por lá. Certamente todos na nave estão felizes por estarem vindo a esse planeta, por ser um dos mais propícios e fáceis entre todos que a sua raça costuma viajar, dominar ou colher informações.

HLQ13 e a turma conseguiriam dialogar facilmente com os habitantes locais, mas tudo tem de ser em sigilo, nenhum habitante se quer deve vê-los ou saber sobre eles, isso por que apenas poucas pessoas deste planeta sabem sobre a existência de outras raças no universo, até onde ele sabe são alguns governantes poderosos de lá que fizeram há muito tempo uma espécie de acordo com a raça de HLQ13. O acordo dizia que eles podiam utilizar de todos os recursos e pesquisar como quisessem o planeta desde que não fossem avistados pelos seus cidadãos, segundo esses governantes isso traria sérios problemas e um grande impacto para todos que lá vivem.

HLQ13 ao contrario dos outros em sua terra, sente certa curiosidade sobre as outras civilizações, adoraria poder conversar com alguns desses seres e não sente desprezo por eles como a maioria. Na visão de seu povo o contato com outros seres deve existir somente quando há um motivo maior.

Após quase um mês a nave chega próximo ao planeta, uma linda bola azul, com manchas brancas, todos ficam admirados olhando pelas janelas, fazem uma ultima reunião e entram em comum acordo, todos deverão mudar seus nomes neste novo período. Essa medida serve para entrarem no clima do planeta e por isso o novo nome deve ser o mais próximo possível das línguas usadas pelos nativos.

Cada um pode escolher o nome que quiser, HLQ13 pensa muito e define que o seu será HALLEY, o motivo é um famoso cometa conhecido pelos nativos, o jovem adora cometas e todos riem do nome, mas ele não muda de ideia e afirma que esse será o seu. O grupo também escolhe um novo nome para o planeta, a partir de agora será chamado de “bola de agua” devido à vasta quantidade deste mineral.

A nave sobrevoa um lugar totalmente vazio, um deserto. Ao se aproximar da superfície, um grande buraco se abre e o veiculo entra tranquilamente em um complexo subterrâneo, o buraco rapidamente se fecha e o objeto voador continua a descer, só que agora em uma velocidade muita lenta, reduzindo gradativamente até parar á aproximadamente 1,5 km abaixo do solo. A estação é muito organizada e dispõem de aparelhos de ultima tecnologia, a nave é estacionada e todos se preparam para descer. A turma anterior que passara três anos ali espera do lado de fora, todos se cumprimentam com um gesto corporal tradicional entre eles e de imediato os iniciantes são levados para conhecer as dependências. No restante do primeiro dia todos trocam informações e a equipe antiga explica os cuidados e alertas que a nova equipe deve saber.

Neste planeta o sol não chega com a mesma intensidade como no planeta natal, aqui a temperatura varia de oito a doze vezes menores e um dia é aproximadamente três vezes menor, também há uma grande diferença na quantidade de gases no ar o que causa certa dificuldade para eles.

O sol ainda nem havia raiado no segundo dia e a antiga equipe já se despede dos novos tripulantes e parte em viagem de volta ao planeta. Todos parecem muito felizes e dizem sentir grande saudade da terra onde nasceram.

Alguns dias passam e ninguém havia saído para a superfície até então, e uma curiosidade enorme toma conta da cabeça de Halley que começa a sentir um grande desejo de entender os seres nativos, em especial a espécie dominante chamada entre eles de “espécie racional”. O garoto não entendia por que sentia tanto afeto por aqueles seres, talvez dó por serem tão arrogantes e ingênuos ao mesmo tempo, mas enquanto a emoção gostaria de conhecê-los melhor a razão lembra que não podia desobedecer e infringir os acordos sigilosos da missão.

Até onde o jovem sabe, essa espécie adora mostrar a sua dominância ilusória perante aos outros, além de ser um povo dividido entre si vivendo diversas guerras que costumam gerar milhares de mortes, Halley pertence a um povo muito pacifico e não entende tudo isso. Como uma espécie tão ignorante, atrasada tecnologicamente, hipócrita e perversa consigo mesmo acha ser tão imponente? É como se eles achassem que o universo gira em torno deles. A maioria dos indivíduos da “espécie racional” não acredita em outras vidas fora de seu planeta e não entenderiam o fato de outros seres virem com o intuito de buscar conhecimento, mas eles não percebem que da mesma forma que a raça de Halley, eles também costumam fazer pesquisas e testes científicos com outras criaturas menores e menos evoluídas.

Os dias continuam passando e o tédio começa a aparecer dentro do complexo de pesquisas. No vigésimo quarto dia Halley é escolhido para uma missão especial fora do complexo. A turma precisa de uma cobaia da “espécie racional” para fazer testes fisiológicos e aplicações tecnológicas, o objetivo de Halley é captura-lo sem deixar rastros, nenhum outro ser ao redor deve vê-lo.

Halley fica muito feliz e parte sozinho em direção a nave, liga os aparelho e o veiculo começa a subir, o buraco novamente se abre e ele já está na superfície, agora sobrevoando a uma altura próxima de 30 metros do chão onde começa sua procura.

Rapidamente vê um ser sozinho que parece estar distraído e talvez esteja perdido, ele desce e sai da nave, aquele momento é incrível e seu peito bate como nunca antes, suas mãos começam a formigar, continua seguindo em direção ao ser que já o viu e a essa altura está intacto, talvez esteja com medo de Halley, talvez admirado, talvez os dois estejam se admirando e com medo ao mesmo tempo. Halley sabe que não deve demorar e fazer tudo sem dizer uma palavra, mas a sua curiosidade toma uma forma maior a cada milésimo de segundo que passa e vai ficando mais próximo do ser. Para Halley aquele ser é diferente dos outros, ele não parece ser malvado, pelo contrario, seu rosto mostra uma inocência genuína, agora parado em sua frente a menos de um metro de distancia Halley percebe que é uma menina, os dois trocam olhares que já duram alguns segundos, é como se uma força misteriosa pairasse entre os dois.

A troca de olhares já durara quase um minuto, mas para Halley parecia uma eternidade, com certeza o momento mais especial da sua vida, e por algum motivo não queria que a menina se ferisse, não queria levar ela para a nave, mas ao mesmo tempo queria ficar próximo dela para o resta da vida, o seus olhos esverdeados e cheios de vida e a sua pele lisa como seda combinavam perfeitamente com as sardas de sua pele. Halley não entendia como aquele simples e rápido momento fazia sua vida ter sentido, toda sua curiosidade estava se libertando, tudo que vivera antes agora fazia sentido num simples olhar, estava entre a obrigação de completar a missão e o sentimento de afinidade, amor e compaixão que nunca sentiu antes, talvez nunca alguém de sua raça tenha sentido isso por outra espécie e quase que de repente em uma atitude de impulso, Halley comete uma infração ao dizer:

- Olá amiga, tudo bem?

Léo Queiróz
Enviado por Léo Queiróz em 04/01/2015
Código do texto: T5090805
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