Eu, um dia, Engenheiro!

Anos se passaram até que você concluísse com sucesso todos os cursos a que se submeteu. Em seu coração ardia o desejo de ser um Engenheiro. Não um Engenheiro qualquer, um bom engenheiro. E foi assim pensando que recortou um anuncio do jornal de domingo que dizia “ Engenheiros superqualificados Procuram-se “ Não havia nenhuma indicação da empresa o que o privava de conseguir informações sobre ela, assim, buscou preparar-se para o grande dia. O dia de sua participação num processo seletivo.

Sentou-se à sua mesa em seu quarto e foi anotando tudo o que precisaria fazer nesse importante dia.

Primeiramente tinha que estar bem barbeado, vestir-se com uma roupa social discreta, e lembrar-se de manter um comportamento empático, transferindo ao seu interlocutor a visão do interesse sob o que estava sendo dito. Se de pé, acautelar-se quanto à posição das mãos e das pernas, uma posição ereta e olhando diretamente nos olhos do seu interlocutor denotando interesse. Nos momentos de realização de tarefas individuais, procurar entender todas as questões e só depois passar a respondê-las, com calma. Caso fosse realizada uma dinâmica de grupo, buscar interagir com os participantes ajudando e contribuindo com seu ponto de vista em todos os momentos. Evitar a polarização e discussões desnecessárias, buscar sempre a harmonização dos interesses.

Lembrou-se de ter lido sobre o quanto esse momento é importante. Pouco adiantaria todo o seu histórico escolar, exemplar, se naquele momento, diante de um recrutador cometesse algum deslize. Toda a sua dedicação ao longo de seu aprendizado focou os aspectos relacionados à engenharia, relações humanas não era uma matéria excludente por isso nem sempre a dedicação era exemplar. Mas agradeceu a um amigo, Molica que sempre o orientou a se desenvolver nas relações pessoais. Por causa dele procurou aprimorar-se na escrita, domou o medo de falar em público e desenvolveu técnicas de persuasão que o fizeram ser o melhor da classe.

Essas habilidades foram muito úteis não só na sua formação como Engenheiro como também na vida real. Percebia que quanto mais se exercitava mais as pessoas o admiravam. Por diversas vezes lhe pediram para construir discursos e isso o encantava, era a grande oportunidade de uma imersão em campos e culturas que ampliavam o seu conhecimento.

Um dos discursos mais complexos que realizou foi a pedido de um Gerente que precisava dissertar sobre a importância do capital humano em todos os empreendimentos econômicos. A idéia era a de valorizar as pessoas dentro de seu contexto e também reforçar no corpo diretivo da empresa que o elemento humano era o mais importante patrimônio da empresa. Para poder entender melhor o que se propunha fazer, durante duas semanas, após o expediente, entrevistou o Gerente para conhecer a realidade da empresa, sua missão, suas expectativas e como andavam as relações da empresa com os seus empregados. Foi se apercebendo que a nova diretoria deixou de realizar atividades sociais até então realizadas argumentando redução de despesas. Antes, todo o mês, os aniversariantes de um determinado setor, eram homenageados no final do mês com um pequeno coquetel oferecido pela empresa. Era um gesto que aproximava a empresa de seu colaborador. A nova diretoria cortou esse evento criando um clima desfavorável à pratica do “ vestir a camisa “ Essas e outras atitudes tomadas começaram a estabelecer um discreto “divórcio” entre o empregado e a empresa. Ele passou a não mais se sentir integrante, a supressão de diversas atividades antes aglutinadoras, deram causa a um sentimento de “desobrigação” do fazer “ um pouco mais “

Diagnosticada toda a situação, conversou com o Gerente alertando-o que era necessário mais que um texto discernido em sua palestra; precisava que a empresa resgatasse movimentos que integrassem novamente o funcionário à empresa.

Corrigidas as distorções, a palestra foi realizada e seus resultados puderam ser notados já no dia seguinte quando se via no rosto dos funcionários o sorriso de quem está fazendo o que gosta, e fazendo bem.

Agora seria o grande momento de testar todas as suas habilidades.

Pronto, releu novamente todo o seu script e julgou-se preparado.

Deu uma ultima checagem em suas roupas e sapatos para conferir de estarem em sua melhor condição, olhou o relógio e contrariando o que sempre fazia, naquela noite iria dormir mais cedo, sabia que descansado seu rendimento seria muito melhor.

E assim pensando, adormeceu.

Luiz Antonio Piccoli
Enviado por Luiz Antonio Piccoli em 30/12/2014
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