510-FLOR DEL MAR-A Nau desaparecida-3a. parte
A Nau desaparecida- 1a. parte - conto 502 - As Tábuas da Lei
2a.Parte - conto 503 - O Santo Tesouro da Ordem de Cristo
Capítulos desta parte
Dom Pedro A.Cabral conversa com Vasco Ataíde
A Nau de Vasco Ataíde – Flor del Mar
A Partida
O Desaparecimento de Flor del Mar
Dom Pedro Álvares Cabral conversa com Vasco Ataíde .
Vasco Ataíde era, como todos os capitães da armada comandada por Cabral, membro da Ordem dos Cavaleiros de Cristo. Sendo o segundo na hierarquia, só devia obediência a Cabral, e procurava passar desapercebido.
Vasco Ataíde concordou em ser capitão de uma nau, que será abarrotada com os tesouros e relíquias. Onde chegarem com estes tesouros no Novo Mundo, ai será erguida uma nova cidade faustosa, que será o símbolo da Ordem no novo mundo.
No princípio do ano de 1500, Cabral e Vasco conversam sobre o carregamento da Flor del Mar, que estará sob o comando deste último.
=Não temos tempo a perder, dom Ataíde. Os dias estão correndo e restam apenas
algumas semanas para a partida.
Dom Pedro Álvares Cabral caminhava de um lado para o outro, enquanto falava. Estavam na biblioteca e sala de armas do castelo ocupado por Cabral, local tranqüilo e à prova de serviçais bisbilhoteiros. Em voz firme, Cabral mostrou sua preocupação pelas últimas providências necessárias a fim de cumprir o prazo determinado por El-Rei Dom João II.
=Bem sei que não devemos titubear = responde Dom Vasco de Ataíde. = Mas só fiquei sabendo da data há cerca de quinze dias atrás.
=Eu também não esperava tanta urgência. Contudo, será até bom para nossa missão secreta. A nau que ficará sob vosso comando já está no porto. É a Flor Del Mar. Já determinei o recrutamento da tripulação. Competirá ao nobre capitão providenciar a colocação da preciosa carga o mais rápido possível.
=Tudo terá de ser feito na calada da noite = explicou Dom Ataíde. = Não podemos correr qualquer risco.
=Que assim seja. Comece esta noite o transporte do Tesouro. Não poupe esforços. Tenho soldados ao meu dispor que vão assegurar a segurança. E use os elementos de sua confiança, já recrutados para a tripulação, para este serviço.
Estendeu a mão para o amigo, num gesto amigável demonstrando que a visita estava encerrada.
A nau de Vasco Ataíde
“Flor Del Mar” era uma nau igual às outras da frota de Cabral. Entretanto, foi aprestada rapidamente. Sua tripulação, escolhida a dedo por Vasco Ataíde, compunha-se de cerca de 120 homens dos mais experientes e confiáveis. Tal seleção rigorosa não passou despercebida aos outros capitães.
Os porões tinham sido adaptados para receber uma carga especial: o fabuloso tesouro dos Templários. Sendo o próprio capitão Ataíde membro da Ordem de Cristo, foi com grande cuidado que mandou proceder ao embarque das centenas de caixas, caixotes,baús, arcas, malas e sacas de couro. O carregamento foi feito por uns poucos homens, da máxima confiança do capitão. Nas noites e madrugadas dos primeiros dias de março, grande foi o trabalho para transportar a preciosa carga dos porões do castelo de Dom Pedro á nau.
O carregamento também se diferenciava na grande quantidade de materiais diversos, mais apropriados para um estabelecimento mais do que temporários, onde quer que a nau deitasse a âncora. Tecidos, lonas, instrumentos de carpintaria, ferragens de construção e armamento leve. Tudo indicava que os desígnios de Flor Del Mar e de sua gente eram bem diferentes do restante de toda a frota de Pedro Álvares Cabral. Mas apenas o comandante da frota e o capitão da nau diferenciada sabia quais seriam estes intentos e aonde levaria o projeto da décima primeira nau.
A partida
A data marcada para a partida da frota foi o dia oito de março. O porto estava repleto de gente que se ajuntara desde o alvorecer. A notícia da frota de Dom Pedro Álvares Cabral correra pelo reino e os nobres de todas as regiões ali estavam para não só prestigiar a grande empresa de Dom Manuel, o rei estimado tanto pelos nobres como pelos mais humildes súditos.
Dom Manuel, mais tarde conhecido como “O Venturoso”, não pertencia à Ordem dos Cavaleiros de Cristo, mas estava completamente ligado à ela devido à imensa dívida assumida pelos antecessores, para financiar as importantes e dispendiosas viagens ultramarinas de Portugal.
Ao assumir o trono, herdou uma Coroa endividada. O império ultramarino carecia de novos investimentos, novas expedições, a fim de ser expandido e consolidado. Outra parte da estranha herança real era o Tratado de Tordesilhas, firmado entre Castela e Portugal. Firmado em sete de junho de 1494, o Tratado dividiu o mundo a ser descoberto e explorado entre as duas potências ultramarinas, com a bênção do Papa.
A personalidade de Dom Manual destacava-se dos seus antecessores imediatos: mais impetuoso do que o Infante Dom Henrique e mais ambicioso do que Dom João II, deu grande importância às viagens que iriam proporcionar a Portugal um lugar importante e na exploração colonial dos séculos futuros.
A corte de Lisboa se opunha a novas expedições, consideradas extremamente dispendiosas, mas Dom Manuel superou aquela oposição. Para consolidar as posições e os postos já conquistados pelos grandes navegadores Diogo Cão, Vasco da Gama e Nuno Alves, ordenou que uma grande expedição armada fosse enviada às Índias. Esta expedição, cujo comando foi confiado a Dom Pedro Álvares Cabral, foi idealizada em 1499 e, em pouco menos de um ano, a frota de dez naus e três caravelas estava pronta pra partir.
À finalidade principal de estabelecer definitivamente a posse de certas cidades da Índia e do sudoeste asiático, outras foram acrescentadas. Com o conhecimento apenas dos mais leais amigos do rei, a frota deveria estender sua viagem bem para o oeste, onde terras já haviam sido descobertas por Cristóvão Colombo. E, quase que na última hora, uma nau fora incorporada: a décima primeira nau, a misteriosa Flor Del Mar.
Todas as naves ostentavam em suas velas a Cruz de Cristo, vermelha em fundo branco, que anunciavam não só o espírito de cristandade que norteava todos os atos e empreendimentos da corte portuguesa, mas também o prestigioso patrocínio financeiro da Ordem de Cristo, a poderosa congregação sucessora dos Templários e fiel depositária do tesouro fabuloso dos Cavaleiros de Cristo.
desaparecimento da Flçor Del Mar
Apenas quinze dias havia transcorrido desde a partida da frota quando algo estranho aconteceu, Na tarde de 23 de março, a nau comandada por Vasco Ataíde sumiu no mar sem deixar vestígios. A embarcação e os 120 homens “foram tragados pelo mar”, conforme escrito no escrivão oficial Pedro Vaz de Caminha. Estavam a oeste da Ilha de Cabo Verde e já navegavam em águas até então desconhecidas. Para muitos, estavam próximos da borda do precipício onde as águas do oceano se precipitariam nos reinos dos Atlantes, lenda que povoavam a imaginação da maioria dos tripulantes.
O mar estava calmo. Não notaram sinais de naufrágio, nem havia motivo algum para que a nau fosse a pique. Apenas e simplesmente, navegando mais ao norte e mais a oeste, a Flor Del Mar desapareceu, como que tragada por alguma entidade misteriosa, dragão do mar ou gigante enfurecido, que povoavam as mentes dos navegadores de então.
O que mais deixou todos preocupados foi a indiferença do comandante para com o desaparecimento da Flor Del Mar. Nenhuma embarcação foi enviada na busca da nau desaparecida. Nem mesmo um vinco de preocupação marcou a face impávida de Dom Cabral. Os capitães das demais embarcações viram nisso um mau presságio, um sinal de que a frota estaria sob influências de forças desconhecidas, malignas ou nefastas.
No entanto, o desaparecimento da nau de Vasco Ataíde não foi acidental nem constituiria uma tragédia. Tudo estava dentro dos planos previamente estabelecidos antes mesmo de deixarem Portugal.