CAP: V. MUNDO X X V I I



                         
                            ENLACE DE JÚ E MARIA TEREZA

  
































 
 

     Deitada ali na tarimba coberta de penas no cômodo de Jú, Maria Tereza dormia placidamente e nem notou quando ele abriu sorrateiramente a porta de bambu. É que Jú, aproveitando a distração de seus amigos poetas, das pessoas da aldeia e, sobretudo do mestre Jacó, havia entrado ali para ver como Maria Tereza estava. Além da preocupação, a vontade louca de ficar perto dela era tanta e com tantos acontecimentos ele não tivera tempo nem de olhar direito pra ela. Tudo que queria era tomá-la logo nos braços e matar aquela angústia e saudade que havia tomado conta dele todos aqueles dias. Aproximou- se lentamente do catre onde ela estava e ficou por instantes olhando aquele corpo tão frágil ali estirado. Estava linda dormindo. Suas vestes meio desarrumadas mostravam suas coxas alvas e lisas estiradas de qualquer jeito naquela tosca cama. O coração de Jú pulou no peito e o juzinho acordou num frêmito. Abaixou-se junto ao catre e quase correu suas mãos por aquelas planícies alvas que pareciam convidá-lo a percorrê-las até encontrar o paraíso logo adiante. Controlou-se, pois ela se mexeu. Mas logo se aquietou. Controlando o desejo que ia tomando proporções maiores ele desviou o olhar para aquele rostinho emoldurado de mechas loiras, para aquela boca que parecia sempre estar convidando para um beijo. Beijo que ele conhecera a doçura por breves segundos naquele convés do transatlântico e desde então nunca mais esqueceu. Beijo que foi o alento e força para lutar pela vida naqueles últimos dias. Num ímpeto, e um pouco trêmulo, aproximou sua boca da dela roçando-a levemente. Os lábios quentes sentiram aquela textura de pétalas de rosas. Receou queimá-las. O juzinho se agitou... Maria Tereza se mexeu. – Jú... Tudo durou poucos segundos porque a portinha de bambu se abriu e a mulher do mestre Kainarí, como que adivinhando o que estava para acontecer, entrou e retirou-o dali dizendo que ela precisava descansar para se recuperar.
Trovador das Alterosas e Madame Bovary
Enviado por Trovador das Alterosas em 20/10/2014
Reeditado em 05/11/2014
Código do texto: T5006165
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