Jacaurélio e a Lenda da Casa Feita de Doces
Lá vem ele pela estrada, faça sol ou faça chuva, vem pela relva molhada pra debaixo da embaúba onde espera a criançada pra contar suas aventuras. Vem com passos vagarosos se apoiando na bengala, vem com seus olhos brilhosos e sua cartola amarelada, muitos já o conhecem com sua calda esverdeada, lá vem ele Jacaurélio com sua boca pluridentada.
Ele chega e a criançada já vai logo perguntando:
- Qual é a história de hoje? Nós estamos esperando. – E Jacaurélio paciente, palitando os seus dentes começa um conto novo.
- Hoje eu contarei a história de um tempo pavoroso, quando dois jacarezinhos abandonados na florestas em meados de agosto encontraram uma casa, colorida e enfeitada, toda feita de doce.
- Eles eram irmãozinhos, uma menina e um menino, Jacamaria e Jacajãozinho nasceram muito pobrezinhos e por falta de alimento seus pais sem pestanejo os deixaram ali sozinhos.
A criançada escutava com toda atenção do mundo e Jacaurélio continuava o seu conto quase absurdo.
- Os dois estavam famintos e vendo aquela casinha, suculenta e saborosa, caíram de mordidinhas, foi então que lá de dentro saiu uma velha jacaroa, seu nome era Cuca e fingia-se de boa, ela vendo os dois pequenos foi logo os convidando:
- Entrem cá meus dois pequenos que um bolo estou assando. – Os dois então maravilhados com um gesto inocente, passaram a língua nos dentes e com a boca cheia de água a Cuca foram acompanhando.
Jacaurélio concentrado e imerso em recordação continuou a narração:
- Então lá dentro da casa os dois se fartaram de guloseimas, eles pegaram no sono com suas barriguinhas cheias, então quando acordaram ficaram pasmos e assustados, Jacajãozinho estava enjaulado e a menina feita escrava, cozinhava para a Cuca malvada e seu irmão ia engordando.
Jacaurélio que era esperto foi fazendo seu suspense e a história de outros tempos deixava as crianças contentes.
- A intenção da bruxa velha era de comer o menino, mas primeiro deveria alimentar a reveria aquele franzino pequenino, mas sua visão era fraca e todos os dias apalpava do menino a sua pata, para saber se o coitado já havia engordado para depois entrar na faca.
-O menino era velhaco e encontrou um pé de pato que dava para ela apalpar, e a Cuca inconformada apalpava e resmungava:
- Que diacho de menino, tanto come esse franzino e não há meio de engordar.
- Jacamaria que era esperta foi bolando um dos seus planos e em um dia ensolarado enquanto a Cuca estava cochilando libertou seu irmão querido, então os dois depressa fugiram e a Cuca se revoltou, seu estomago gritou e ela ali ficou sozinha.
E a criançada com ar curioso quis saber qual foi o fim da velha bruxa da floresta, se ela viveu ou se morreu. Jacaurélio então de pronto aos pequenos respondeu:
- Hoje em dia da velha Cuca inda ouvem-se histórias, mas a casa na floresta foi devorada pelas formigas e já onde hoje a Cuca mora, não existe quem o diga.
Jacaurélio sorridente da criançada foi se despedindo, já era tarde de domingo e o sol logo se deitaria, já aquela criançada esperaria a próxima alvorada para se juntarem debaixo da embaúba, fizesse sol e até chuva para escutarem uma nova história.