Jacaurélio e os Filhos do Nilo
Enquanto o dia bocejava, lá vinha ele... Jacaurélio, no olhar brilho de esmero, ele vinha com sua bengala, cortando pensante o chão da estrada, de olho na embaúba, de olho na criançada esperando alvoroçada pela história de hoje.
- Lá vem ele! Está chegando – grita o pequeno Jacarlinho, filho do velho Jacarlão III, que era bisneto de Jacaurélio e tinha quatorze irmãos.
Jacaurélio se achegou embaixo da embaúba, com sua mão acenou para saudar a criançada que com brilho no olhar, veio em coro perguntar:
- Qual história será contada? - Jacaurélio com sorriso diz:
- Hoje falarei do Nilo, onde formei a minha prole, falarei de quando formei família, falarei dos pais dos seus avôs, que ao todo foram doze e que formaram seis casais, e digo além do mais, formaram a família que somos hoje.
- O filho mais velho é Jacoleão, grande orgulho, meu varão, trouxe glórias à família e casou-se com minha segunda filha, para estender a nossa prole... Minha amada filha Jacarta!
Jacaurélio foi mais a fundo, lembrando de todo mundo, foi em mergulho profundo em direção a sua casta. Jacaurélio antigamente comandou toda essa gente lá pelas bandas do Nilo, mas fez isso com certeza e se tornou a realeza, o Grande Rei dos Crocodilos, com a ajuda de seus filhos.
Voltando do devaneio, Jacaurélio continua com a história que encanta, pois sua genealogia espanta, com tanta gente ainda viva.
- Vamos indo criançada, vou de volta com a toada e, a história vou continuando, falarei dos outros filhos, que também tiveram brilho na história da família, os próximos são Jacobias e Jacleópratra, o terceiro e quarto filhos, que formaram um casal, e reinaram contra o mal pelas areias do Egito.
Jacauréio extasiado com o que era recordado continuou a narrativa:
- Depois me veio outro casal, de muitas glórias, muitas conquistas, eram eles, Jacalexandre, também conhecido como “O Calda Grande” e Jacaroxana, eles também tiveram filhos, foram oito se não me engano, mas a histórias desses filhos, deixarei a outro plano.
Jacaurélio não se cansava e a narrativa continuava, lembrando os tempos de plenitude; pois, hoje só lhe restavam essas lembranças, compartilhadas com as crianças nesse seu ato amiúde.
- Logo após já me vieram os filhos sétimo e oitavo, esses dois tem muitas histórias, construções, feitos e glórias pelas bandas lá do Nilo, governaram essas terras, com mão de paz, sem haver guerras, foram célebres aos olhos do povo; o varão Jacancamon e àquela que foi sua esposa, Jacansenamon, tiveram filhos que reinaram em seu lugar e sua prole prosperou por muitos anos.
- Agora me falta falar somente dos meus últimos quatro filhos, que me seguiram pelos trilhos por onde a vida me levou, eles ainda estão aqui conosco, para a minha grande alegria. – ouve-se um buchicho entre as crianças, e Jacarlinho todo orgulhoso, diz:
- Um deles é o avô do meu pai! – e Jacaurélio então sorrindo concorda com a cabeça, e antes que ele se esqueça, continua com a história:
- Vou lhes dizer sobre os últimos quatro, depois disso vou me despedindo, pois o dia também está partindo e amanhã eu continuarei; mas agora como prometido, vou falar quem são os quatro filhos, que sempre amarei demais; o nono filho é o Jacarlão I que se casou com a filha Jacinta, o próximo que veio foi Jacarandú, o esposo da caçula Jacaúva, que é doce como uma pequena uva, daquelas que eu colhia em minha antiga vinha.
Jacaurélio sem fazer rodeios, empunhou sua velha bengala, vestiu a cartola amarelada e com semblante emocionado, saiu com as pálpebras marejadas, na caminhada de volta para casa, ainda remoendo em saudade, do tempo, da idade, daquelas bandas das suas recordações da mocidade.