Introdução à História Fantástica de Jacaurélio
Jacaurélio vinha pela estrada, com sua bengala e sua boca pluridentada, entre as ramas das folhagens as luzes anunciavam o final da madrugada; e lá vinha Jacaurélio, com sua cartola amarelada.
Todos os dias Jacaurélio, se arrumava bem cedinho, com seu terno de puro linho e muita história para contar; e quando avistavam Jacaurélio, a molecada se amontoava embaixo do pé de embaúba, alegres a lhe escutar.
Jacaurélio vinha vagaroso e contente, palitando dente por dente e, em sua mente buscava lembranças, Jacaurélio se achegava e com sua mão acenava para a roda de crianças.
Jacaurélio já estava velhinho, sua barba era de desalinho, mas era cheio de conhecimento;
Jacaurélio em sua destreza, sabedor do olor da beleza, distinguia as flores nos perfumes do vento.
Eram dias longínquos no tempo, onde havia na floresta paz e abundância, onde as noites de estrelas eram o retrato da bonança, Jacaurélio então se lembrava dos seus tempos de criança;e as crianças a sua volta, que cresciam com revolta, pela destruição que assola a floresta sem demora, pelas mãos do homem e sua ganância, escutavam calados Jacaurélio, que falava de campos belos e de rios que eram de abastança, e falava do amor entre os bichos, e vez ou outra se ouvia um cochicho, curiosidade da infância.
Passou o tempo, passaram anos; Jacaurélio já não tinha planos, as crianças haviam crescido e, Jacaurélio sem mais um amigo, se achegava à embaúba, despedia a madrugada e acolhia o novo dia, agora trazia consigo uma pena, um presente da Seriema Ana, trazia também um cadinho, embebido em tintura urucum... Jacaurélio já sem alegria, transpassava os augures do dia, solitário a escrever poesia; vez em quando cantava um passarinho, internado tranquilo em seu ninho... Jacaurélio acudia seu canto, versejando o trinar de encanto e, assim terminou a sua vida.