A aventura romântica que vou narrar é baseada em fatos reais.

Uma velha amiga, após uma demorada amizade colorida, se tornou minha namorada. Acho que estávamos nos dando bem.
Eu diria que, entre beijos e abraços, os seios dela são deliciosos.
 
Outra pessoa, uma amiga que mora na mesma rua da outra amiga que virou namorada, telefonou para mim e deu uma informação a qual me deixou bastante inquieto.
_ Ilmar, você precisa colocar a barba de molho, tem um gavião rondando a sua área, querido!
_ Minha fofinha (sou muito carinhoso com minhas amigas), você sabe que não crio barba, portanto o que pode me fazer colocar o bigode de molho?
_ O ex de Fulana (peço licença para não revelar o nome da namorada) me garantiu que vai reconquistá-la. Ele mandou dizer que logo, logo você verá a galinha cacarejar.
 
Confesso aos senhores que a revelação bombástica da amiga fofoqueira tirou a minha voz.
Não me assustei com a frase tão pouco inspirada, pois a metáfora faria sentido se ele, o gavião, dissesse que eu veria a galinha miar ou latir.
Imediatamente percebi que o Ricardão não era nada habilidoso usando as palavras, mas o risco de perder a namorada para o babaca causou enorme apreensão.
 
A amiga fofoqueira também informou que ele não trabalha, apenas está se preparando para tentar um curso técnico. Fiquei sabendo que o malandro costuma telefonar para minha namorada nos fins de tarde.
Minha amiga fofoqueira perguntou se eu desejava ter o CPF e o RG do Ricardão, preferi não anotar, expliquei que já estava satisfeito com as informações obtidas.
 
Quase não dormi tramando qual seria a melhor estratégia para impedir os vôos perigosos do gavião e conservar a namorada gostosa.
Imaginei que, nesse momento inicial, precisava evitar pressionar a namorada, exigindo o fim das conversas com o safado. Se eu agisse assim, estaria marcando um gol contra.
Ameaças e ordens, dizem os sábios, sempre provocam os chifres.
 
O que fazer?
Como vencer essa parada?
 
Ficou claro que minha inocente namorada não escolheria quem tivesse melhores atributos estéticos, ou seja, o fato de eu ser mais bonito que o gavião não deixava serena a situação.

Ilmar, como você sabe que é mais bonito que o reconquistador barato?
Essa é fácil! Sempre me disseram que sou o mais bonito, logo não há adversário nesse tipo de disputa.
A boniteza acaba sendo irrelevante, pois as mulheres gostam da beleza, porém elas querem mais. Observadoras e elevadas, as princesas vêem acima das aparências.
Dessa forma, o cara mais feio do planeta passa a ter totais condições de cativá-las.
 
Eu precisava, então, marcar o território de outra forma.
Primeiro, passei a visitá-la quatro vezes diariamente.
Não perdia o café matutino, no almoço sempre repetia o prato (minha sogrinha cozinhava bem). À tarde, hora crucial, ela interrompia para conferir um misterioso telefonema, contudo minha deusa não demorava (Ricardão sobrou! Ricardão sobrou!) e trazia um suco de manga com biscoitos redondos. Durante a noite, antes de ir embora, ainda provava a sopinha especial preparada pela gentil sogrinha (detesto sopa).
 
Além da marcação homem a homem, passei a oferecer poesias, mas minha namorada, acostumada a ler Capricho e a ouvir Luan Santana, nunca mostrava o menor interesse no tema.  
 
Um dia perdi a paciência, falei duro e firme:
_ Não quero que você converse com seu ex ou qualquer outro cara.
_ Você está pensando que manda em mim, seu bigodudo bruto?
_ Nada disso, apenas quero exclusividade!
_ Exclusividade uma ova, eu converso com quem eu quiser. Não vou ficar mais ouvindo suas poesias chatas, acho melhor a gente terminar.
_ Você vai ter a coragem de me trocar por um imbecil igual a você, um cara que lê Capricho e curte Luan Santana?
_ Além de Luan Santana, a gente também gosta de Anitta, seu mané! Saia da minha casa já!
 
Após o agradável diálogo, o namoro acabou, não teve jeito, fiquei sem a sensível namorada.
 
Um mês depois, minha amiga fofoqueira contou que ela retomou o namoro com o gavião, que assim concretizou a ameaça realizada.
Realmente eu escutei a galinha cacarejando.
 
Conversa vai, conversa vem, notei que, além de uma língua comprida, minha amiga fofoqueira possui seios bem apetitosos.
Marcamos um cinema, lá deixei a mão boba agir à vontade.
Começamos a namorar.
 
Nas madrugadas, entre outras frases, a fofa costuma sussurrar:
_ Ah, Ilmar! Adoro quando você usa uma figura de linguagem!
_ Que bom, vou te mostrar a minha melhor metonímia.
_ Ohhhh, meu bigodudo gostoso! Vaaiii! Mostra que eu quero ver!
 
No meio de belas prosopopéias e pleonasmos criativos, sem apresentar qualquer hipérbole, posso dizer que a inteligente namorada do passado não está fazendo falta alguma.
 
E os ardentes versos seguem quentes...
Até que uma nova fofoca nos separe!
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 03/09/2014
Reeditado em 03/09/2014
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