211 - A LENDA DE SACAGAWEA
A louca perseguição levava o grupo de cavalos diretamente para o canyon, que cercava a planície pelos três lados, encurralando os mustangs. Os hidatsas eram hábeis cavaleiros orgulhosos de suas habilidades. O ar frio do começo da primavera batia em seus rostos e peitos, cortante como uma faca, animando-os e inebriando-os. As montarias haviam sido, tempos atrás, cavalos selvagens como os que agora perseguiam. Obedeciam com presteza aos comandos: com um leve aperto dos joelhos sobre os flancos ou um cutucão com o calcanhar na barriga, os homens de pele cor de cobre e adereços de penas e peles dirigiam seus animais com tal perícia que a dúzia de cavalos selvagens ficou presa dos hábeis peles-vermelhas.
Uma figura se destacava entre o grupo: protegida por longas vestes, uma tira de pele mais larga a cobrir a cabeça e as tranças, muito longas, batendo em seus ombros e chegando à cintura, era uma cavaleira intrépida e tão ou mais ágil que seus companheiros homens. A alta e esguia “Mulher de tranças longas”, ou Sacagawea, era admitida pelos homens nas sortidas para pegarem cavalos selvagens. Aceitavam-na e até a respeitavam, graças à sua destreza, coragem e habilidade em amansar cavalos selvagens.
Na verdade, a valente companheira era um tabu na tribo hidatsas. Ela sabia disso, tinha noção da sua condição de estrangeira . Não nascera ali. Fora roubada quando tinha cerca de treze anos. Nascera na tribo shoshone ou “serpentes”, que viviam sempre em estado de guerra com os hidatsas. Sua condição não era de escrava: estava sob a guarda do chefe “Cabeça de Águia” e tinha liberdade dentro e fora da tribo. Poderia fugir, se quisesse. Por vezes, cavalgava até as altas montanhas do oeste e seu olhar se perdia na escarpada paisagem. Mas jamais pensara em abandonar os seus captores.
A chegada de novos cavalos selvagens na tribo foi saudada com gritos de alegria e entusiasmo. Eram da comunidade, mas cada índio podia escolher um para amansar e eventualmente, ser sua montaria predileta. Sacagawea já tinha o enorme “Focinho Gelado”, que dominava com maestria. Desse novo grupo de mustangs separou uma linda égua branca, que pretendia deixar com o negro garanhão, a fim de obter boas crias. Para tanto, ela mesma construíra um rude cercado de toras de álamo, onde manteria os animais juntos.
— Melhor ficar juntos durante a estação de cruzamento. Depois deixei o macho ir com os outros. — A recomendação sábia do velho chefe foi acatada por Sacagawea, que o obedecia como a um pai.
Os cavalos serviam de montaria e ajudavam nos serviços de arrastar troncos para a construção das toscas cabanas de madeira e barro, usadas pelos hidatsas. A valente índia acompanhava os homens nos grupos que iam à mata cortar madeira, preparar armadilhas para apanhar animais e ajudava a amassar o barro para taipar as cabanas. Forte, valente e alegre, tinha um riso franco de alvos dentes, sempre brincando no rosto.
Não tinha companheiro. Por ser uma shoshone, jamais seria escolhida para coabitar com um hidatsa. Por isso, não apresentou nenhuma resistência quando foi praticamente “negociada” em troca de uma espingarda e vários pequenos objetos curiosos, com o homem branco chamado Charbonneau. O mercador chegava sempre no verão. Descendo o rio em sua canoa de fundo chato, tal como a dos próprios peles-vermelhas, vinha em busca de peles. Magro e alto, Toussaint Charbonneau, o mercador franco-canadense, era um elemento estranho que se incorporara na vida dos índios: trazia armas de fogo, que matavam com estrondo, trazia a água-que-queima, uma bebida que deixava os índios fora de si, e comprava todas as peles que a tribo conseguia armazenar nos meses anteriores. Era um homem vivo, falava alto e dava boas gargalhadas. Devido a esse temperamento extrovertido, não inspirava muita confiança nos selvagens, que prezavam mais o silêncio, a discrição e o os atos comedidos, principalmente em se tratando de um estrangeiro.
O explorador descia o rio Missouri com sua piroga já carregada de peles, negociadas rio acima. Detinha-se, por uma quinzena ou mais, na aldeia dos hidatsas, na confluência dos rios Missouri e Knife, reforçando seu estoque. Dali, descia direto a Saint Louis, onde negociava a mercadoria, passava o inverno e subia de novo na primavera. Naquele final da primavera de 1803, Charbonneau adquiriu o direito de posse da bela e intrépida shoshone. A jovem aceitou a transação com a mesma resignação com que aceitava sua condição de pária. Coabitaram por mais de uma quinzena na pequena choça de taipa e paus, que ela construíra com suas próprias mãos e onde ficou morando quando o explorador a deixou, para dirigir-se, com sua colheita de peles, ao mercado de St. Louis.
Sendo o mais avançado entreposto comercial no oeste americano, St. Louis fervilhava de notícias e boatos sobre a recente transação de terras: os Estados Unidos haviam comprado — ”comprado, sim senhor!” — o vasto território conhecido por Louisiana. A imensa planície a oeste do Rio Mississipi, cortada pelos rios Missouri, Arkansas, Colorado, que ninguém sabia exatamente onde terminava, fora trocada de “proprietários”: dos franceses para os americanos.
Aos nativos era totalmente estranha essa idéia de “propriedade” da terra e jamais compreenderiam a transação. — “Como vender a terra, a água, o ar?” — mais tarde se indagaria um sábio chefe tribal em carta ao presidente dos Estados Unidos. . As tribos nômades transitavam livremente pelo território. Os índios estabelecidos em aldeias viviam ali desde tempos imemoriais, pescando nos rios tranqüilos ou caçando búfalos nas extensas pradarias. Nunca compreenderiam essas coisas dos brancos: possuir terras, cercar os campos, cercear a liberdade de andar, cavalgar e viajar por onde bem entendessem.
Uma grande expedição estava em organização, rumo a noroeste, a fim de encontrar uma passagem fluvial ou um passo entre montanhas, que desse acesso à costa do Pacífico, “do outro lado do mundo”. Dois homens importantes estavam na cidade, a fim de organizar essa expedição: Merriwither Lewis e William Clark. Procuravam intérpretes, guias, homens experientes em viagens pelo interior, pelo sertão bruto que iriam enfrentar. E foi assim, como intérprete, que Charbonneau, contratado pelos senhores Lewis e Clark, subiu o Rio Missouri, em maio de 1804.
A expedição era bem organizada. Subindo o rio em barcos do tipo keelboat — embarcações de fundo chato, um mastro com três velas e conjunto de até vinte remadores — chegaram, no final daquele ano, sob os rigores do inverno, ao Forte Mandan. Nas proximidades desse forte ficava a aldeia hidatsas.
— Quero que os senhores conheçam minha mulher. — Com seu jeito alegre e cordial, o francês convidou os dois chefes da expedição.
Lewis e Clark aceitaram o convite. Mesmo porque fazia parte de sua missão estabelecer as melhores relações entre as autoridades americanas, que eles representavam, e os índios por cujas terras estavam viajando. Jamais poderiam pensar, contudo, que o conhecimento de uma índia pele-vermelha iria ser de importância crucial para o êxito da expedição.
O reencontro entre Sacagawea e Charbonneau, testemunhado pelos dois brancos, foi de ternura e de trocas de abraços, afagos e carícias. A jovem mulher do francês, que devia ter, nessa ocasião, dezessete anos, estava grávida. Lewis ficou fortemente impressionada com a jovem, pela sua coragem, habilidade na caça e na pesca, não obstante a prenhez. Nos meses de inverno, que a expedição passou entre os hidatsas, a figura da índia shoshone se impôs: companheira do francês em todas as atividades, ajudava os brancos com presteza e boa vontade.
Os hidatsas eram notórios por serem amistosos com os brancos. A aldeia em que Sacagawea vivia era um conjunto de casas rudes, as paredes feitas de taipas ou pau-a-pique, cobertas por troncos e barro. O conjunto do aldeamento era, naquela época, mais populoso que St. Luis.
Enquanto permaneciam no vilarejo, Sacagawea deu à luz a um menino. A alegria de Charbonneau, o pai, foi intensa, a ponto de sair gritando pelo povoado, como um maluco, dando risadas e abraçando os índios. O que foi tomado, pelos índios, como indício de loucura, pois aquela euforia só podia ser mesmo produto de demência. Mas, ao mesmo tempo, o emotivo pai sentiu quanto seria difícil continuar com a expedição, deixar a mulher e a criança para trás.
— Vou com vocês. — determinada, Sacagawea nem esperou aquiescência do marido. — Conheço bem a região. Posso ser útil.
O chefe da expedição concordou. Já tivera provas do espírito indômito da jovem mãe. E foi dessa maneira que Sacagawea foi incorporada à comitiva dos famosos exploradores Lewis e Clark.
A expedição seguiu avante tão logo o degelo permitiu. Os rios transbordavam, as correntezas tornavam-se mais perigosas e a natureza retomava suas cores brilhantes após o período hibernal. Subiram o Missouri até o local das Grandes Quedas, ou Great Falls. Exatamente um ano após a partida de St. Louis, ou seja, 14 de maio de 1805, o dia transcorreu tranqüilo, até que pelas três da tarde o tempo começou a mudar. O keelboat da expedição foi lançado contra a margem do rio, onde encalhou.
A piroga de Charbonneau e Sacagawea, que acompanhava o barco maior a uma certa distância, balançava-se perigosamente no meio do rio. Na piroga do francês estavam, além dos pertences do casal, os papéis, registros da expedição, mapas, desenhos, enfim, todos os documentos relativos à grande empreitada.
Charbonneau, o grande mercador, era emocionalmente instável. Entrava em pânico com facilidade. E, pelo fato de não saber nadar, nessa ocasião se viu tomado de um pavor inominável. O vento fazia o barco rodopiar sobre as ondas que aumentavam sempre em tamanho e intensidade. O barco enchia-se rapidamente de água. Charbonneau gritava, suplicando pela misericórdia de Deus. As margens desapareceram da visão, pois a chuva começou a cair em bátegas.
Lewis tomou uma espingarda e disparou para o alto, sinalizando a presença do barco maior. A piroga estava próxima, mas o francês não mantinha o domínio do leme. Os importantes papéis flutuavam na água, afastando-se cada vez mais. Ao ouvir o tiro, Sacagawea obrigou o marido a tomar o leme da embarcação, que estava à deriva. Em seguida, orientou o marido para que dirigisse a embarcação na direção de onde se ouviam gritos dos homens. Em seguida, debruçou-se sobre a água e recuperou todos os documentos que flutuavam. O marido gritou com ela, que ficasse quieta, ou o barco viraria. Mas ela sabia da importância que aqueles papéis tinham para a expedição e coletou todos. Inclusive algum objetos de couro, que também estava boiando, foram recolhidos pela indômita pele-vermelha.
No dia seguinte, Lewis anotou em seu diário: “A mulher índia. a quem atribuo coragem e determinação, equivalentes às de qualquer outro a bordo por ocasião do acidente, salvou a maior parte dos artigos leves que haviam sido arremessados à água.”
Em junho, o verão sucedeu-se à primavera nas latitudes setentrionais. Sacagawea ficou doente. Ninguém sabia diagnosticar a causa dos acessos de tremores, da febre intensa e dos suores abundantes. Clark, que tinha noções de algumas doenças, aplicou à índia o único tratamento possível: sangrias. A índia enfraqueceu e no curto espaço de uma semana, entrou a delirar. Mas, nos intervalos entre tremores, suores e febre, teve lucidez de mandar o marido em busca de algumas ervas, que ele encontrou com certa dificuldade. Do cozimento das ervas a índia tomou chás e se fez banhar. A dedicação de Charbonneau foi exclusiva: permanecia ao lado da mulher durante o tempo todo, nos dias em que a expedição permaneceu bivacada às margens do rio. Graças às infusões das ervas e a essa dedicação total, Sacagawea superou o estado febril, as convulsões cessaram, e em poucos dias voltou a caminhar, acompanhando a expedição.
Aquela jornada iria revelar um mundo novo para a corajosa pele-vermelha. Mas de todas as revelações, a mais importante, e, por certo, a mais surpreendente, aconteceu em agosto. Os dias longos do verão ensejavam longos trajetos rio acima. O Rio Yellowstone entrava agora por terrenos desconhecidos até mesmo de Charbonneau, afeito mais às terras ao norte daquela região. As informações de Sacagawea se tornaram, então, preciosas para orientação da expedição.
— Estamos entrando nas terras dos shoshone. Bom ter cuidado. Eles não estão acostumados com homem branco.
Pelas cristas dos morros que acompanhavam o rio, os expedicionários viam, aqui e ali, as silhuetas dos habitantes da região: altos e imponentes em suas montarias, empunhando lanças, os arcos cruzados sobre os peitos desnudos e as aljavas, prenhas de flechas, amarradas às costas.
— Eles estão vestidos para a guerra. — Sacagawea informou. — Cuidado, muito cuidado.
Permitiram, entretanto, que os brancos encostassem as embarcações na praia e, sob a orientação de Sacagawea, chegasse até a povoação dos shoshones. O ingresso dos brancos foi permitido somente após um diálogo entre a índia e o chefe da aldeia. O processo de comunicação não era fácil. Sacagawea falava os idiomas hidatsa e shoshone, mas não se expressava nem em inglês nem em francês. Assim, ela iria traduzir as palavras do chefe shoshone para a língua hidatsa, entendida por Charbonneau, o qual passaria para um dos membros da expedição, o francês Labiche, que, finalmente, comunicava-se em inglês com os capitães americanos.
Estabelecidas as posições protocolares, sempre sob os olhares atentos dos fortes índios, todos sentados em torno do totem tribal, eis que aparece o chefe da tribo. Quando o vê, Sacagawea levanta-se de um salto, corre e abraça o chefe shoshone, “cobrindo-o com seu xale e derramando copiosas lágrimas”. Ele era o irmão de quem ela havia sido separada cinco anos antes.
O encontro foi providencial, pois estabeleceu, imediatamente, uma camaradagem entre os índios e os membros da expedição. O chefe quer que a irmã permaneça com ele, oferece-lhe (bem como ao marido) uma cabana nova, na tentativa de mantê-la junto de si. Inutilmente. Mesmo advertida, ela prosseguiu com os brancos, levando o filhinho agarrado ao corpo, protegendo-o de todas as vicissitudes do longo percurso.
Setembro de 1805. Tendo deixado as terras dos shoshones, chegaram às nascentes do Rio Yellowstone, nas montanhas conhecidas por Bitterroot. Desmontaram os barcos e iniciaram a escalada. Nevascas precoces fustigaram a expedição, que prosseguia sob orientação de Sacagawea, a quem foram passadas, pelos shoshones, informações sobre as principais trilhas. Num momento crucial, nos elevados páramos da cadeia de montanhas, estiveram por mais de uma quinzena à mercê dos caprichos do tempo. Fortes nevascas, alguns deslizamentos, os homens e os animais perdendo as energias. Tudo estava contra. Os mantimentos esgotaram-se. Não era possível encontrar plantas selvagens que pudessem servir de alimento, como o inhame branco ou a alcachofra-brava.
Mais uma vez a determinação de Sacagawea orientou os brancos.
— Vamos sacrificar um animal. Com a carne teremos sustento por mais alguns dias.
Os brancos, não afeitos a alimentarem-se de seus animais de monta ou de serviço, não concordaram, em princípio, com a idéia. Os expedicionários brancos tinham asco à carne de cavalo. Mas, mediante a promessa da índia de que poderiam preparar o animal à maneira dos peles-vermelhas, acederam em sacrificar uma mula. Agregando algumas folhas de árvores que ainda permaneciam com brotos em meio à nevasca que cobria de branco a escarpada região, ela deu um toque especial ao sabor da carne, tornando-a palatável ao gosto dos brancos. No decorrer do percurso montanhoso, outras duas mulas foram sacrificadas, a fim de que todos os expedicionários sobrevivessem naqueles onze dias de escalada da montanha da Raiz Amarga. .
Finalmente, após tanto sofrimento, encontram a passagem de Lemithi. Do outro lado da montanha, está o rio Snake, descendo em cachoeiras e rápidos, rumo ao Pacífico, meta da expedição de Lewis e Clark.
O exemplo da determinação e fortaleza de Sacagawea, que carrega o bebê sempre ao colo ou às costas, à moda indígena, é sempre motivo de alento e de coragem para os homens brancos.
— Se ela agüenta, nós também agüentamos — era o que diziam e quase virou lema da expedição.
No início de dezembro, em pleno inverno, descendo pelo Rio Colúmbia, a expedição chega à sua meta: a costa ocidental do continente norte-americano, o litoral do Oregon. Estabelecem-se num acampamento de inverno, não longe da foz do caudaloso rio. No tronco de uma alta sequóia, Clark entalhou um marco que permaneceu histórico: “William Clark, December 3rd, 1805. By land, from the U.States, in 1804 and 1805.”
Estavam na região dos Chinooks: pacíficos e pescadores, foram cordiais com os homens brancos e especialmente com Sacagawea.
Em um nublado dia de janeiro, os Chinooks dão notícias de um “peixe-montanha” morto na praia, um pouco ao sul do acampamento dos brancos. Alguns brancos vão averiguar e verificam que uma enorme baleia morrera, encalhada a alguns quilômetros. Sacagawea também quer ver esse fenômeno para os índios do interior. Ao chegar ao local, apenas os ossos do enorme animal estão à vista, consumido que foi rapidamente pelos animais predadores e carniceiros.
Agachada ao lado do arcabouço do animal, os ossos brancos mostrando indelevelmente o tamanho gigantesco, pode-se imaginar a determinada índia pele-vermelha contemplando as ondas e os ossos. O filho, de quase um ano de idade (nascido em 10 de fevereiro do ano anterior) se firma nas pernas gordas e fortes. Quer dar uns passos.
Ao olhar para as “águas sem fim”, acodem-lhe lembranças da viagem. Na verdade, a jovem índia pele-vermelha, que estava agora com não mais do que dezoito anos, no período de um ano, havia dado à luz a uma criança, encontrado seus parentes e contemplava agora o “mar sem fim”. Disso, ela tinha noção. Mas escapava-lhe à consciência de que havia atravessado a metade de um continente e tinha contribuído efetivamente para o êxito da grande expedição.
Ficaram no acampamento de inverno até princípios de março de 1806, quando iniciaram a marcha de volta. Em junho, já tinha atravessado de novo as montanhas Bitterroot. Em julho, tendo chegado o local já conhecido de Three Forks, resolveram dividir a expedição: Clark seguiu por uma rota ao sul, pelo Rio Yellowstone. Sacagawea e Charbonneau foram com ele. Mais uma vez, Sacagawea revelou-se preciosa medianeira entre os homens brancos e os índios.
Numa sortida de surpresa, foram roubados pelos índios da tribo cro, que levaram a metade de seus cavalos, quatorze animais indispensáveis para prosseguirem a marcha com êxito. Conhecedora dos costumes índios, Sacagawea dirigiu-se, sozinha, montada no seu impressionante “Focinho Gelado”, negro como noite sem lua, e penetrou no povoamento dos índios ladrões. Foi recebida pelo chefe, com o qual teve uma longa conversa, (na qual, provavelmente, até tenha fumado o cachimbo da paz) e recebeu de volta os cavalos roubados. Esta recuperação foi crucial para o prosseguimento da expedição.
Em agosto chegam ao local conhecido como Forte Mandan, pois estão em terras desses índios, os Mandan. Ali, Sacagawea despede-se da expedição e do marido, que segue até Saint Louis.
Quando Charbonneau retornou, passaram a viver em Forte Mandan, onde ela permaneceria, enquanto o marido prosseguia como mercador de peles. Somente nos meses de inverno viviam juntos, pois ele passava no sertão a maior parte do ano.
Sacagawea morreu provavelmente com 25 anos, ao dar à luz a filha Lisette.
ANTONIO ROQUE GOBBO —
Belo Horizonte, 17 de março de 2003
Conto # 211 da serie Milistórias