João sem sobrenome. (primeira parte.)

João sem sobrenome.

As aventuras e desventuras de um João ninguém.

Por. Beto Rami.

& Antônio juceli.

Ainda iam dar seis horas da manhã mais o sol já se fazia presente e muito

forte naquela manhã de segunda feira.Foi quando um senhor

cego carregando uma velha viola enfeitada de fitas, foi conduzido

por um garoto aos degraus da velha igreja da Sé.

Ele então tirou os chapéu,ergueu as mãos para o céu e então começou.

_Senhoras e senhores ,Permitam que me apresente.

sou Zé do norte.Sou

doutorano nas ciências ocultas do povo.

Mais, num sou daqui.

Eu vim de lá do sertão.

Eu não vim pra confundir.

Nem pra fazer confusão.

Mas se pensar um pouco.

Há, de me dar toda razão.

Pois o que seria da cidade.

Sem a força do sertão.

Pois não se planta em asfalto.

Nem se colhe espigão.

Bem agora que fomos devidamente apresentados, permitam

que continue.

essa é a história do João sem sobrenome ,as aventuras e desventuras de um João ninguém.

Deus senhor da humanidade.

Dono e senhor da nossa nação.

Peço-te que por caridade.

Que clareie a minha visão.

Para narrar uma verdade

Acontecida lá no sertão.

Por isso meu amigo

Preste bastante atenção.

O caso que conto agora

Não é uma invenção.

E te servirá de conselho

Num momento de aflição.

Há tempos houve uma seca

Como nunca houvera igual.

E o sofrimento era tanto

Que não parecia ter final.

E é no meio disso tudo

Que destaco um casal.

Comum como tantos outros.

Filhos da seca e da fome.

Assim como tantos outros

Que não tem nem sobrenome.

Que vivem pelo amor de Deus.

E do que a seca não consome.

Tinha o nome de José

Este pobre velho amigo.

Que com Maria sua mulher

Sofria esse castigo.

De trazer um filho ao mundo

Já em cima do perigo.

Agora vou explicar

Como foi o nascimento.

Dessa pobre criança

Que chegava num momento.

Onde a pobreza era a sina

e escasso o alimento.

Seu José num canto rezava .

Agradecendo a Jesus.

Pois iria diminuir

O peso de sua cruz.

Pois o filho tão esperado

Sua mulher já dava a luz.

___É agora!Gritou ele.

Chegou meu filho querido.

Sua mulher do outro lado

Com o menino já nascido.

Disse bem baixinho

Coitado do meu marido.

O José de lá ouviu

A Maria se lamentando.

Foi logo dizendo:

__Oque! que tu tá falando?

__É da fome, José!

Que a gente anda passando.

José vou te falar.

Tu tens de entender.

A fome que passamos

Só Deus a de saber

Que nasceu mais uma boca

Pra nos ajudar a comer.

Sei que o nosso filho.

Nasceu em hora errada.

O José lhe respondeu;

_Você não sabe de nada.

Esse menino muié,

Vai me tirar da enxada.

(Recebeu o nome de João

Pois nasceu ´´menino home. ``

Fraco, feio e franzino.

Já nasceu com cara de fome.

Mais ficou conhecido no mundo

Como´´João sem sobrenome.)

Agora vamos saber

Como foi seu nascimento.

O pai esperançoso

Do seu primeiro rebento.

Enquanto a mãe lamentava

O triste acontecimento.

Não que ela fosse assim

Uma mulher sem coração.

Mais como toda mãe

Ela tinha intuição.

E sabia muito bem

O que esperava o João.

Sua casa era de bambu

E barro mal rebocado.

No telhado de sapê

Via-se o céu estrelado.

Se chovesse então.

Água por todo lado.

A cama era de vara.

Capim seco seu colchão.

A mesa de sua casa

Tinha três pernas no chão.

A miséria ali morava

Pobre triste barracão.

Já deu pra entender

O que o esperava.

Voltemos à história

Onde mesmo eu estava?

Ah sim, o José

Em um canto rezava.

E tomou uma atitude

Jurou de coração.

Que o primeiro que avistasse

La no meio do sertão.

Ia ser seu compadre.

O padrinho do João.

E pegando seu chapéu

Foi logo saindo.

Maria então gritou

_Onde tu tá indo?

Ele nada respondeu.

Continuou seguindo.

Saiu para o deserto

Com disposição e alegria.

Sem saber que vinha vindo

Um imprevisto em sua guia.

E que sua vida ia mudar

A partir daquele dia.

Sem pensar na promessa

Continuou seguindo.

Com o sol cegando os olhos

Ia quase desistindo.

Quando ao longe avistou

Que um cavalo vinha vindo.

Assim esse se aproximou

É que ele reparou.

O cavalo era de fogo.

Sua perna então travou.

Ao olhar para o vaqueiro

O pobre quase desmaiou.

O cabra bem montado

Vestia um lindo terno.

Era branco, bem vistoso.

Mostrava ser bem moderno.

Mais o cavalo era de fogo.

Pois vinha do inferno.

Ele então se viu perdido .

Em hora de muito aperto.

Depois de feito a jura

Não tinha outro jeito.

Pulou na frente do cavalo.

Que quase lhe queima o peito.

José ficou ali parado

Nem conseguia falar.

O cavaleiro mal encarado.

Resolveu apiar.

E seguindo em sua direção

Começou a gritar.

_Que é isso cabra frouxo!

Vê se para de tremer.

E vá dizendo logo.

O que veio aqui fazer.

Sou muito ocupado

Não tenho tempo a perder.

Vou fazer minha maldade

Por que esse é meu destino.

Nunca faço caridade

Para pobre ou peregrino

E vai tirando do caminho

Esse seu corpo franzino.

E montando seu cavalo

Saiu dali esfumaçando.

Jogando longe seu José

Que acabou se machucando.

Maldizendo a si mesmo

Voltou pra casa xingando.

Quando chegou a casa

Já havia perdido a fé.

Maria então perguntou;

_Onde tu tava José?

Ele respondeu.

_Num quero conversa muié.

Sem saber do acontecido

A mulher experiente.

Disse._Tô estranhando,

Parece que tá doente!

_Sei lá, estou.

E vou sair novamente.

José foi pra cidade

E encontrou um conhecido.

Passou então a lhe contar

Todo caso acontecido.

O cabra quando ouviu

Ficou de queixo caído.

E foi logo dizendo.

_tu deu com o cão de testa.

Tava é muito louco.

Ao fazer uma promessa desta.

Já que fez eu explico.

Como renovar sua festa.

Depois daquele morro.

Você passa uma cancela.

Não há como errar.

Siga o caminho de vela.

Chegando a casa, não bata.

Abra porta, entre nela.

Mais saiba que esse lugar

Não é de brincadeira.

Pois esse é o lar .

De uma velha feiticeira.

E ela é do dito cujo,

Sua fiel companheira.

Chegando ao barraco .

Você vai encontrar.

Uma placa junto à porta .

Com letras de arrepiar.

Escrita com sangue vivo .

De gente que ia lá.

O José pensou um pouco

Pra tomar uma decisão.

Agradeceu o amigo

Por aquela informação.

E seguiu o seu destino

Em busca de solução.

Quando chegou ao terreiro

Ele se arrepiou.

Ao olhar para o letreiro

Seu sangue congelou.

Mais não tinha outro jeito

Na casa ele entrou.

Foi quando ela apareceu

Com uma vela preta na mão.

Toda vestida de negro

Parecendo uma assombração.

O José quis correr.

Seus pés pregaram ao chão.

Quando olhou pro outro lado

Avistou logo um altar.

A velha soltou um grito

Que fez o José se cagar.

_Quem não sabe o que procura,

Não deve procurar!

O pobre tremia tanto

Que nem conseguia falar.

A velha então lhe disse.

_Não precisa explicar.

O mestre esteve aqui

Já me deixou a par.

Espero que esteja ciente

Deque pode acontecer.

Quem mexe com o desconhecido .

Não conhece seu poder

É bom que tenha certeza

Do que veio fazer.

Então gritando disse

_Mestre eu lhe conjuro!

Houve um grande estrondo

E tudo ficou escuro.

Foi quando ouviu-se uma voz.

´´Chegou o pai do futuro. ``

José assim que o viu ,

ficou branco e gelado.

_Desculpe a tremedeira,

É que estou emocionado.

A razão de eu insistir

É que estou desesperado.

O cujo então perguntou.

_O que tá te incomodando?

José coçou a cabeça e disse;

_Bem, como ia falando,

É que meu filho nasceu

E estou te convidando.

Sabe ,fiz uma promessa.

Que não devia ter feito.

A questão da insistência,

É que não tinha outro jeito

Por isso vim aqui .

Pedir com muito respeito.

Quero que o senhor .

Seja o padrinho do João.

Fiz uma promessa .

Hoje vivo em aflição.

Se acaso não aceitar .

O moleque fica pagão.

O cujo respondeu

_Vou fazer sua vontade.

Mais tem de entender

Que fui feito pra maldade,

E não vai ficar barato

Essa minha caridade.

Prestar favores .

É o que mais gosto de fazer.

Mais tem uma condição .

Você tem de prometer.

Que serei o dono da alma

Depois que ele morrer.

_Depois da morte,

Faça o que quiser.

O que prometo eu cumpro.

Aceito o que vier.

Assim entregou seu filho

Ao demônio Lúcifer.

O cujo lhe apertou a mão

E disse;_estamos conversado.

Mais existe uma coisa

Que não ficou bem explicado.

Precisamos combinar.

O local do batizado.

Não gosto de igreja

Apesar de estar sempre perto.

Não beijo mão de padre

Nem gosto do que for certo.

E o batizado do menino

Será no meio do deserto.

Esse local escolhido

Posso modificar.

Com minha magia negra .

Tudo posso transformar.

Ergo uma fazenda linda .

Faço o padre se enganar.

Ao lado faço um salão

Onde será realizado.

Uma festa animada

Seguida do batizado.

Agora vá se embora .

E estamos combinado.

Enquanto isso você

Volte pro seu cortiço.

É bom não esquecer

Selamos um compromisso.

Agora vou ao deserto

Começar o meu feitiço.

Quando terminar

O que tenho de fazer.

Mando um dos meus

Ir correndo te dizer.

Enquanto isso vá ao padre

E tente lhe convencer.

Apertando a mão do cujo

O José foi falando..

_Ói, já vou indo. !

A muié tá me esperando.

O senhor já tá sabendo

E pode ir começando.

E depois de agradecer

A velha feiticeira.

O demônio explodiu

Fumaçou a casa inteira.

O José nesse momento

Saiu na maior carreira.

Com isso Maria

Preocupava-se com marido.

Que desde logo cedo

Havia desaparecido.

Achando que pela demora

Algo tinha acontecido.

Sentada junto à porta

Maria logo avistou.

O José que vinha longe

Tirou o chapéu e acenou. .

E abrindo o sorriso mostrando .

Os dentes que lhe restou. .

Maria muito zangada

Foi logo dizendo;

__Vamos , desembucha!

Que qui tá acontecendo?

Por onde tu andou?

Que só agora tá aparecendo.

Ele disse;_Maria,

Eu fui à busca de alguém.

Pra ser padrinho do João.

E tu ,sabes bem.

Custo tanto achar

Que quase não acho ninguém.

Mais depois de muito andar

Encontrei o ideal.

Um homem rico. honesto .

Cheio de plantação e animal.

E sua sede na fazenda .

Parece ser de cristal.

É lá na fazenda dele

Que será o batizado.

Ele insistiu tanto

Que me deixou envergonhado.

Cê sabe, ou atendo o pedido

Ou ele fica zangado.

Maria então lhe disse;

_Zé tu foi distante.

Porque nunca ouvi boato

De arguem tão importante.

Ou tu tá pensando

Que sou ignorante.

No meio da discussão

Foi chegando um agregado.

Um jagunço do cujo

Trazendo um recado.

Que estava tudo pronto

Pra fazer o batizado.

Maria abaixou a cabeça

E começou a agradecer.

Já estava convencida

Pois acabou de ver.

Agora só tinha o padre

Pra ele convencer.

O batizado do João.

Foi marcado pro outro dia.

Achava-se bem contente .

A pobre da Maria .

Sem saber que o futuro.

Ia acabar com sua alegria.

Deixando a Maria contente

Saiu bem satisfeito.

Foi então a igreja

Imaginando um jeito.

De convencer o velho padre

E deixar o serviço feito.

Depois de andar várias horas

criou coragem e na igreja entrou. .

O padre que arrumava o altar ..

Parou com tudo e gritou.

_Você aqui na igreja?

É milagre ou se enganou.

José então respondeu

_O padre, nem te digo.

Apesar de estar ausente.

Sempre lhe tive um amigo.

Ficar sem seu sermão.

É pra mim como um castigo.

Beijando a mão do padre

José continuou a dizer.

_Sabe seu padre,

Meu filho acabou de nascer.

Ele é a coisa mais linda.

Não vejo à hora do Senhor o benzer.

Sabe seu padre .

Numa coisa tu tá certo.

Só pode ser milagre

Ou por que sou muito honesto.

Preu conseguir um compadre rico

Numa fazenda aqui perto.

_Ah, agora entendo

A razão do milagre.

Veio falar que encontrou

Alguém rico pra ser compadre.

E quer que eu batize o menino

Com a bênção da santa madre.

__Seu padre, eu nunca vi

Um homem mais generoso.

Confesso que nunca encontrei

Um coronel tão bondoso.

Não pode ver necessitado

Que já se mostra caridoso.

No momento tá viajando

Mais hoje mesmo ele retorna.

E que sabe ele

Te ajuda, de alguma forma.

Se sabe que a igreja

Precisa de uma reforma

Ao ouvir falar da reforma

O padre se transformou.

Abraçou o José, e rindo

Com a voz branda lhe perguntou.

-Quem é essa santa alma

Que ninguém me apresentou?

José abraçado ao padre

Disse logo a verdade.

Que o tal do compadre

Não morava na cidade .

Só vinha cuidar de negócios

Quando tinha necessidade.

-É que ele viaja muito .

Tem muito compromisso.

Ele ajuda tanta gente .

Caridade, é seu serviço.

O padre disse. __Tudo bem,

Onde é que eu entro nisso?

Diga logo o que deseja

Sem ter de exaltar ninguém.

No que posso ajudar

A ele, e a você também.

E quem é esse sujeito,

Que nem aqui vem?

José olhou o padre

E desatou a falar;

__Ele é muito ocupado.

E logo irá viajar.

E nem ele mesmo sabe

Quando dará pra voltar.

Então ele pediu

Que eu dissesse ao senhor.

Diga pro padre

Fazer um grande favor.

E batizar o menino

Lá na fazenda resplendor.

Ela não fica longe

E o senhor ira gostar.

É a coisa mais linda

Faz gosto de se olhar.

É só ir lá amanha

E o menino batizar.

O padre falou. _Não posso!

Amanhã é sexta feira.

Tá certo que preciso

Reformar a igreja inteira.

Isso tá mais parecendo

Deboche ou brincadeira.

Batizo só no domingo.

Pois é dia santificado.

Dia de sexta feira

Nunca faço batizado.

Só se o bispo autorizar

Pra alguém necessitado.

_Pois seu padre eu necessito

Batizar o meu João.

Eu fiz uma promessa

Hoje vivo em aflição.

E o senhor será o culpado

Do moleque fica pagão.

Ainda tem outra coisa

Que preciso falar.

Na fazenda do compadre

Foi montado um altar.

O senhor só precisa

Amanha me acompanhar.

Lá tá tudo preparado

Não há com que se preocupar.

Amanhã logo cedo

Eu passo pra te pegar .

Ninguém ficara sabendo

Se o senhor não contar.

O padre coçou a cabeça

Depois consultou o sacristão.

Esse muito eufórico

Demonstrou aprovação.

_Essa é uma causa justa

Até o papa daria a bênção.

__Já que é assim, tudo bem.

Disse o padre ainda pensativo.

Enquanto o sacristão com o polegar

Fazia sinal de positivo.

José então lembrou-se do ditado.

(No mundo só vive, quem for mais vivo.)

Vamos pro outro dia

Na hora do batizado.

José sabendo tudo

Permaneceu calado.

Torcendo em pensamento

Que nada desse errado.

Ainda estava pensando

Quando pela porta alguém entrou.

E disse._vista o menino!

A roupa meu patrão mandou.

E vamos logo embora.

Pois à hora chegou.

Maria muito eufórica

Mostrava-se bem contente.

Subiu na carroça sem notar

Que essa era diferente.

O José tanto notou

Que preferiu ir à frente.

Maria foi atrás

Com o menino agarrado.

José seguia tranquilo

Nem ficou preocupado.

Foram então buscar o padre

No lugar já combinado.

Quando o padre avistou

A carruagem chegando.

Esfregou bem os olhos.

Sem crer no que tava enxergando.

(A carruagem era de ouro

E não havia cavalo puxando.)

___Credo em cruz!

Disse o padre se benzendo.

___Só pode ser coisa do demo!

Disse o sacristão gemendo.

O José desceu do carro

E rindo foi dizendo.

_Não disse que o cabra

Era um rico fazendeiro.

Aposto que não existe

Um carro mais ligeiro.

Então, bora lá.

Quem entra primeiro?

_De jeito nenhum!

AÍ, eu não entro não.

Carruagem sem cavalo.

É coisa sem explicação.

Se um dia existir

Só sendo feita pelo cão.

__Que é isso, seu padre.

Assim tu me deixas mal.

Que o sacristão não saiba .

AtÉ que seria normal.

Admira-me o senhor

Que não sai da capital.

E vamos logo subindo

Que detesto chegar atrasado.

O compadre até deve

De estar preocupado.

Deus me livre de um dia

Ver aquele homem zangado.

A muito contra gosto

Os dois foram subindo.

O chofer mal encarado

Deu partida e foi saindo.

O padre então perguntou.

_Onde é que estamos indo?

O José deu de ombro

O chofer ficou calado.

O sacristão muito nervoso

Não consegui ficar parado.

Ficou falando coisas sem nexo

E apontando pra todo lado.

De repente ele deu um grito.

_É ali! Ali. ele apontou.

E puxou tão forte o chofer

Que o carro quase tombou.

O padre ao ver o local

Por pouco não desmaiou.

__Meu Deus eu não sabia,

Que existia esse reinado.

Olha só esse castelo?

Tem guarda por todo lado.

O sacristão disse. _me belisca!

Preu saber se tou acordado.

O José atendeu a deixa

E aplicou-lhe um beliscão.

Esse soltou um berro

E esfacelou se no chão.

E quase não se continha

Com tanta excitação.

Maria que estava quieta

Permaneceu calada.

Entrou no carro muda

Desceu sem dizer nada.

Pra ela tudo aquilo

Era como um conto de fada.

Assim que desceram do carro

Abriu-se um grande portão.

Que levava a um pátio

E seguia até um salão.

E o padre assustou-se

Ao ver uma grande multidão.

__Me diz aí ,José,

Tudo parente seu?

__Se o senhor não conhece

Muito menos eu.

__Pera aí, aquele é o prefeito, não é?

__Não pode ser, ele já morreu.

Os quatro ficaram ali

Quase sem nada entender.

Tentaram se enturmar, mas.

Ninguém quis saber.

Era como se eles

Não os pudessem ver.

O padre disse;

__Nossa ,que gente ignorante!

Pela roupa parece

Tudo gente importante.

Veja só aquele homem,

Nunca vi ninguém mais elegante.

__Aquele é o meu compadre.

Disse ele acenando.

Esse a passos curtos

Foi aos pouco se aproximando.

Tirando o chapéu com elegância.

Delicadamente foi falando.

__Bom dia, senhores.

Padre me de a bênção.

Por favor, me perdoe.

E peço sua compreensão.

Tive meus motivos

E Deus sabe a razão.

__Ah, Maria vem cá.

Dê-me um abraço.

Olhem só, que menino.

É o mais belo do pedaço.

Tudo que ele quiser

Com certeza eu faço.

Vamos lá pessoal

Não fiquem ai parados.

Peguem o garoto

E apresentem aos convidados.

Quanto ao padre, e eu.

Estaremos muito ocupados.

Saíram os dois dali .

Foram preparar o batizado.

O sacristão olhava tudo

E mostrava-se admirado.

O padre estava nervoso.

Sentia que algo estava errado.

Enquanto isso Maria e José

Andavam pelo salão.

Mostrando a todos o menino

Mais ninguém dava atenção.

Falavam um tipo de língua

Que parecia mais palavrão.

E a comida então

Não tinha gosto de nada.

As carnes estavam cruas

Fria e destemperada.

Tentaram comer as frutas

Não deu tudo bichada.

Com isso foi chegando

A hora do batizado.

No meio do salão

O altar foi montado.

O padre ficou estranho

E mostrava-se preocupado.

Então chamou o José, e disse;

__Eu não me sinto bem.

Melhor cancelar tudo .

Deixemos pra semana que vem.

Onde faremos tudo certo

Da maneira como convém.

__Que é isso seu padre!

Vamos deixar de besteira.

O senhor só pode...

É ta de brincadeira.

Não acredito que o senhor

Faria tal asneira.

__Veja como fala comigo.

Exijo mais respeito.

Aqui ta tudo errado

Nada foi montado direito.

Olhe essa cruz e bíblia

Tudo aqui tem defeito.

será`que não reparou .

Que aqui ,ta tudo errado.

Já olhou bem .

A cara dos convidados.

Sem falar nesse cheiro de enxofre

Que me deixa todo enjoado.

__Seu padre, deixe disso.

Olha só o que ta dizendo.

Essas coisas ai.

Só o senhor ta vendo.

Deveria é olhar o sacristão ,

Que há tempos está bebendo.

__Já reparei, sim.

E isso me é muito estanho.

Conheço esse rapaz..

Desde que era desse tamanho.

Vivia amarelo de verme.

E o nariz cheio de ranho.

Juro-te que nunca o vi.

Do jeito que agora to vendo.

Veja só, olhe.

Parece um porco comendo.

E com certeza ,não é água.

Aquilo que ele ta bebendo.

José meu filho .

Eu rogo pela razão.

Com certeza isso aqui .

Acabara em confusão.

Senão faz por você.

Faça pelo João.

__Vamos seu padre.

Batize o meu João.

Fiz uma promessa.

Hoje vivo em aflição.

Se não batizar agora.

O menino fica pagão.

__Está bem vamos lá.

Chame aqui o sacristão.

Traga também os padrinhos .

começar a celebração.

E prepare o menino

Pra receber a bênção.

O padre perguntou ao cujo

Se ele era casado.

Esse abraçando a feiticeira

Puxou-a para seu lado.

O padre achou-a bem feia

Benzeu-se e ficou calado.

Depois de chamar a todos

Começou a celebração.

Maria preparava o garoto

Para receber a unção.

O cujo acendeu a vela

Que estava em sua mão.

O padre disse._Escolham um santo.

Pra iluminar o caminho do João.

Um que ele possa orar.

Pedindo saúde e proteção.

___São Tanaz! Disse o cujo.

Esse é o da minha devoção.

__Que santo é esse?

Nunca ouvi falar.

Muito menos o vi.

Em cima de um altar.

E se existisse um

Com certeza iria lembrar.

-_De certo já ouviu.

Só não lembra mais.

Existem varias igrejas.

Dedicadas a São Tanás.

É a ele que todos apelam

Quando o mundo não satisfaz.

O padre não ficou convencido.

Mais resolveu continuar.

Já que tinha começado.

Era melhor terminar.

E já foi benzendo a água.

Pro menino batizar

Quando a água passou pelos cabelos.

E escorreu pela bacia batismal.

Aconteceu algo estanho.

E bem fora do normal.

Pra ser exato mesmo

Algo sobrenatural.

O cabelo que antes

Era negro e enrolado.

Tornou-se de imediato

Louro e alisado.

E o garoto foi desbotando.

Como se antes fora pintado.

A água tornou-se escura.

Como a mais negra escuridão.

O padre tomou um susto.

Derrubando a bacia no chão.

O sacristão gritou. _ É milagre!

E correu a beijar-lhe a mão.

O menino ficou branco.

E o José desconfiado.

Achando que a Maria.

O traíra no passado.

E que para enganá-lo

Tinha o menino pintado.

Com isso acabou o batizado

Em uma grande confusão.

Todos riam do José.

E esse com o filho na mão.

Prendia o choro na garganta.

Que o sufocava com a aflição.

Desse dia em diante.

Acabou-se a paz.

Achando que estava cego.

Deixou a alegria pra traz.

Jurando que em Maria.

Não confiaria mais.

Com isso não lembrava.

Quem era o compadre.

O cujo fez bem feito.

Enganando até o padre.

Que foi embora acreditando.

Que tinha acontecido um milagre.

Meu amigo nesse momento.

Já lhe dei explicação.

Não se devem falar coisas.

Ou prometer em vão.

Por causa da própria língua.

O homem vive em aflição.

Termino aqui uma parte

Dessa estranha história.

Continuo logo adiante

Se ainda tiver memória.

As aventuras e desventuras.

De uma gente simplória.

Contei tudo como aconteceu.

Não acrescentei um ponto.

Talvez tenha esquecido algo.

Se lembrar depois eu conto.

Minha memória já não é tão boa.

Por isso te peço um desconto.

fim da primeira parte.