A História de Pingo
                              Para Eligold

 
   Pingo, um cãozinho muito inteligente e vivo, nasceu de uma ninhada de três irmaos. Teve mais sorte do que os seus outros dois irmãos que não sobreviveram. Sua mamãe Jollye  ficou, desde o seu nascimento, preocupada com a falta de fome de Pingo. Suas tetas enormes e cheias de leite eram todinhas de Pingo, o pequeno Pingo, entretanto, não querer nada com o leite farto e gostoso de sua preocupada mãe.
  Mamãe Jollye se aborrecia muito, pois Pingo tinha sido o sobrevivente de sua gravidez, e ela queria vê-lo forte, bem nutrido, correndo e brincando feliz nas ruas de sua cidade.
    Este era o sonho, o último sonho de uma mãe zelosa e preocupada. Seus outros filhos, de outras ninhadas, jão não se encontrava junto dela. Haviam partido para outros lugares, fazia tempo. Com ela estava o pequeno e único Pingo. Um era a companhia do outro. Pingo buscava a liberdade, a aventura. Sua mãe buscava a mesma liberdade de Pingo, só que uma liberdade de mãe já cansada e sozinha, que tinha em Pingo a sua mais querida companhia. 
   Pingo crescia e se desenvolvia rapidamente. Parece até que a ausência de leite que sobrava de sua mãe, e que ele pouco sugava, não lhe estava fazendo falta. Era peralta, gostava de aventuras... Quantas e quantas vezes deixara sua mãe muito desgostosa. Pingo voltava sempre. Voltava sempre para o aconhego da mãe. Voltava de suas travessuras e andanças de quem se sente o dono de seu pequeno mundo. Fome? Muito pouca. Alimentavva na medida de suas necessidades, para tristeza de Jollye, que não entendia e repreendia, muitas vezes, o Pingo.
                                            
                                                 II

  Um dia Pingo se viu sozinho. Sua querida e devotada mãe havia morrido.
   Que fazer então? Sabia ele que a vida continuava. Estava sozinho e não tinha mais o carinho e o leite que tantas e tantas vezes recusara, na ânsia de brincar, para tristeza de Jollye. Seus outros irmãos? Aonde estavam eles?
   Pingo pensou... pensou até se cansar e adormeceu...

                                                     III

                                      Os sonhos de Pingo

   Ele se encontrava crescido. Jovem e crescido Pingo. Não sabia direito o rumo que tomar. Tinha dentro de si a lembrança de sua boa e preocupada mãe com suas tetas enormes, cheias de leite e de carinho para o seu filho querido.
   Ah... Pensara ele, recordando, vivendo sonhos e realidades. Realidade de sua nova vida, sem a companhia, sem o leite, quente, gostoso e forte que, um dia, ele havia recusado de sua mãe. Pobre Pingo. Suas aventuras de ontem sempre tinha o retorno no aconchego de Jollye, que lhe esperava sempre a qualqur hora do dia e da noite. 

                                                     IV

                                      A sobrevivência de Pingo

   Pingo está sozinho. A fome bateu a sua porta. Sentiu-a no seu estômago vazio. Essa desconhecida e amarga realidade . Ele, entretanto, não se deixou vencer. Procurou alimentar-se nos lixos jogados às portas das casas da cidade grande, para onde se mudara. Aquilo que lhe faltava, sobrava a muitos outros. 
   Pingo não queria sobreviver à custa destes lixos que encontrava em seu caminho. Teria que enfrentar a vida de outra forma, com o seu próprio trabalho. Que fazer entâo, Pingo?

                                                  V

                                    O Trabalho de Pingo

   Foram tantas e variadas as ocupações dele. Guia de cego, por exemplo. Aprendera com sua mãe a ser zeloso e responsável. Isto lhe parecia muito fácil. Sabia, contudo, da responsabilidade de se novo trabalho, iluminando com os seus olhos os caminhos e atalhos de seus donos, a troco de casa e comida.
   Esta ocupação, entretanto, o entediava. Queria mais. Queria ser alguém. Sentia em si a vida que passava. Lembrava-se de sua mãe e de seus irmãos que não conhecera. Precisava aprender muito. Sentir-se adestrado, qualificado para enfrentar as lutas da vida. 

                                                  VI
                 
                                       A Sorte de Pingo

  Encontrou ele, um dia, velho e experimentado companheiro. Gostou do seu cheiro, de seu calor,sentiu confiança. Tornaram-nos amigos fraternos e verdadeiros. Pingo se sentiu mais seguro, mais confiante. Ele tinha agora um amigo. Seu amigo e mestre Leão, estava sempre ao seu lado. Este é o nome e o amigo que Pingo encontrou em seu caminho. 
   Leão, com paciência de velho avô, ensinou-lhe tudo o que sabia. Deu a Pingo o que sua mãe Jollye lhe havia dado um dia: carinho, proteção.

                                                  VII

                                               O Circo  

   Havia chegado à cidade grande, onde Pingo agora vivia, e sonhava novos sonhos, um circo. Acompanhado de seu sempre e inseparável e bom amigo Leão, souberame eles da novidade. A presença de um circo, era para ele, algo que a sua imaginação incontolável, tinha antes construído, com requintes de fantasia, os mais belos espetáculos de sua vida. Ele se emocionou. Diante de si, estava ali, ao alcance de seu desejo, o circo, desta vez um circo de verdade, diferente daquele criado por sua imaginação. Pingo mal cabia em si de felicidade. Não via a hora de poder entrar naquele ambiene mágico, de transpor aquela lona imensa, onde lá dentro, guardado, estava para ele um tesouro... um enorme tesouro de alegria, sedução, encantamento.
   Confidenciou ao seu amigo Leão toda a sua expectativa, a alegria indescritível de seu encontro com um circo de verdade. Leão, experimentado nas coisas da vida, ouvia, pacientemente, o seu amigo, não sem se recordar, também, de antigas emoções, das descobertas do mundo, que um dia, ele sentira igual entusiasmo. 

                                                VIII

                                         O grande Dia

   Uma noite mal dormida. O que significa isso, que importância pode ter uma noite sem a presença do sono, quando o que ele mais queria estava lá fóra à sua espera. Mil noites sem dormir compensariam o seu desejo.
   Pingo chegou a ter pesadelos nessa interminável noite insone: o circo havia partido. No seu lugar ficara apenas o vazio... Ah, não, não é possível meu Deus. Acordado, ainda noite, foi Pingo ver se era so um engano. Engano provocado por um desejo0 ardente, o mêdo de não vê-lo realizado naquele esperado dia que estava nascendo.
   Que alívio. O circo de seus sonhos, ali estava, imponente, inteiro, convidativo, aguardando para mais tarde a sua presença.

                                                   IX

                                        O Encontro Sonhado

   O deslumbramento de Pingo aconteceu logo após ele entrar naquele mundo mágico do circo, tantas e tantas vezes imaginado. Seu amigo Leão, leal e bom companheiro, sentiu-se sozinho, abandonado. Pingo parecia nada enxergar, nada ver à sua volta. Ele queria naquele momento saciar toda a sua fome e, o prato predileto, saboroso, estava diante dele. E ele estava faminto. Muito faminto, faminto de um mundo de sonhos. 

                                              Palhaço Chuchu

   Além  de tudo o que tem um circo o que mais lhe chamou a atenção foram as brincadeiras do palhaço Chuchu. De fato, Palhaço Chuchu, dominava, encantava e provocava em todos as mais gpstosas gargalhadas. "Respeitável público" dizia ele, entre uma e outra de suas contagiantes e sedutoras palhaçadas e zombarias. 
   Mestre na arte de enfeitar, o brincalhão Chuchu provocava delírio na imensa platéia que, ruidosa e alegre, fazia com que ele retornasse ao picadeiro do circo muitas vezes, memo depois de terminada a sua inebriante apresentação. 
   O coração jovem de Pingo batia forte. Pela primeira vez ele se deu conta de que tinha, dentro de si, um coração. Estava feliz. Muito feliz. Pingo se sentia mais do que isso. O circo tomara conta dele. Sentiu-se apaixonadodo pelo circo. Queria fazer parte daquele mundo de alegria, daquela fábrica de alegria. Havia encontrado o seu verdadeiro caminho, a vocação de sua vida. Nada lhe parecia mais belo, mais sério, mais importante do que a transformação do grave, do sisudo, numa permanente festa, numa oferend de alegria. E essa alegria ali estava, ela habitava o circo, era ali que ela morava, vivia, e não podia morrer nunca. 

                                                     XI

                                            Querer é Poder

   O mestre do circo, o encantador Palhaço Chuchu encontrou em Pingo um talentoso coadjuvante. Novas situações foram criadas, inventadas para que Pingo pudesse mostrar o seu talento, e Pingo se portava semre perfeito, brilhante, arrancando aplausos de todos e em todos os lugares por onde o circo passava.
   Pingo conheceu novas cidades.Dava e recebia alegria atravé de sua arte, da fábrica ambulante de fazer rir e de chorar de alegria.
   Algumas vezes, cansado, ele se punha a pensar na maravilha que é produzir o alimento mais desejado: o alimento que acalma o espírito e que dá paz ao coração — o riso da alegria que explode e mata a tristesa.
   Todos os outros alimentos estão distantes de nós, são produzidos e mantidos em lugares determinados.Temos que ir à procura deles, às veze andar muito e até se cansar para encontrá-los. 
   O circo não. Ele vende o que produz a preço barato, todos têm condição de consumir o "alimento" ali produzido. Ele vem ao nosso encontro faminto de todos aqueles que buscam a sua paz...Essa oaz está na roupa engraçada do palhaço, nas suas estrepolias, na pipoca que se come o mais delicioso alimento.No rosto da criança onde se ascendem luzes, iluminando o palco que apresenta o enredo do verdadeiro amor. Ali trabaha o palhaço, sobrevivente exclusivo deste mundo lúdico, puro, que registra emoções inesquecíveis, inesquecíveis alegrias

                                                 XIII

   Pingo encontrou no circo a razão de sua vida.Encontrou, também, a forma de expressão, criar e de comunicar a vida na sua ânsia de liberdade.  

                                     Roberto Gonçalves
Escritor
                                          


                    

   
RG
Enviado por RG em 01/03/2014
Reeditado em 25/07/2016
Código do texto: T4710908
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