AS AVENTURAS DE MANDIOQUINHA

Era uma tarde quente de um mês de janeiro. O sol escaldava as pedras da calçada queimando as minhas delicadas patinhas.

Na avenida que beirava o mar estávamos passeando eu, minha mãe e meu pai quando avistamos um gatinho magro e feio debaixo de uma marquise.

Não gostei nem um pouquinho quando vi mamãe se abaixando para tomar nos braços aquele bicho feio. Tentei protestar, lati insistentemente, mas não teve jeito, mamãe aconchegou-o em seus braços sob os olhares de papai.

Juro que fiquei com vontade de fugir, de sumir pelas ruas de minha cidade. Eu não acreditava no que via; aquele colinho só meu estava tomado por um intruso, um desconhecido, feio, magro e com cara de quem está muito triste.

Vi mamãe comentar com papai que eu estava com ciúmes. Eu não sei o que é isso, mas se é uma sensação de que você não é importante tanto quanto pensa então eu estava sentindo ciúmes. Eu não queria dividir quem eu gosto com mais ninguém.

Fomos para casa e aí eles colocaram aquele bicho feio na lavanderia. Puseram também uma caixinha com areia e, pasmem, deram uma porção de minha ração para ele. Fiquei furiosa e tentei chamar atenção de meus pais mordendo-os no calcanhar. Cúmulo da ingratidão: eu, o petezinho da casa, fui colocada de castigo na varanda.

Passaram-se vários dias e eu aguentando aquele bicho insolente se lambendo e se espreguiçando. De tanto comer minha ração já estava com outra aparência, até meio gordinho.

Não sei se foi de tristeza, mas comecei a me sentir muito mal. Não tinha fome e nem vontade de nada, até que certo dia amanheci muito ruim e não consegui levantar de minha caminha de veludo. De manhã cedinho senti uma coisa molhada na minha cara. Acordei com o gatinho me lambendo. Olhei para ele e vi sua carinha mimosa e seu jeitinho meigo fazendo ronrom . Deitou-se ao meu lado e dividimos a caminha.

Desde esse dia dormimos sempre juntos e nas noites frias de inverno nos aquecemos mutuamente.

Aprendi a lição. Hoje, somos muito amigos e sinto sua falta quando à noite ele sai passear pela vizinhança.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 26/01/2014
Reeditado em 28/01/2014
Código do texto: T4665968
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.