O SERVIÇAL DA INDEPENDÊNCIA - PARTE FINAL

O príncipe mais uma vez viajou para o litoral paulista, com a desculpa de resolver problemas naquela província. Lysanne e “chalaça” acompanharam-no desta vez. Deixou em seu lugar a princesa como regente interina. Não se passaram muitos dias em que o príncipe viajara e a princesa Leopoldina obteve notícias que Portugal preparava uma ação contra o Brasil.

Três navios chegaram ao Rio com ordens de reduzir D. Pedro a simples delegado temporário e mais uns outros tantos de medidas para o Brasil. Ela então resolveu encaminhar uma carta para o marido incitando-o a tomar uma decisão e anexando a esta, outra de José Bonifácio com alguns dos comentários de Portugal que criticava o comportamento do príncipe.

Alheio a tudo o que acontecia no Rio, D. Pedro ainda se encontrava na casa de sua mais recente paixão, a quem mais tarde chamariam de “a Marquesa de Santos”:

- Não te preocupas a situação em que as coisas estão se complicando no País? - Perguntava-lhe a mulher, passando os dedos por seus cabelos;

- O que sabes à respeito dos assuntos da Corte? - Perguntou ele;

- Em todas as camadas sociais comenta-se sobre a intenção de Portugal querer recolonizar o Brasil! - Disse ela;

- Provavelmente, estamos à beira de uma guerra! Mas a única guerra que eu quero agora é estar em teus braços! - O príncipe segurou Domitila pelas mãos;

- É sério Pedro..., se tu perdes o governo do Brasil, terás que ir embora e eu não tereis mais à ti em meus braços!

- Mesmo que percas o governo, não voltarei para Lisboa!

- Devias dar ouvidos aos teus amigos quando te falas que deverias proclamar a independência do Brasil!

- E declarar guerra abertamente a Portugal? - Frisou Pedro;

- Tu não compreendestes ainda que proclamando ou não a independência, Portugal tentará retomar o País? - A futura Marquesa de Santos, falava como alguém conhecedora da situação. O príncipe sabia que no fundo ela tinha razão, mas não queria pensar naqueles problemas no momento.

Lysanne e “Chalaça” se encontravam hospedados em um pequeno chalé à parte da casa de Domitila e comentavam sobre a repercussão que aquele romance, mais um na vida do Príncipe Regente, iria causar tanto na corte brasileira, como na portuguesa.

Estavam eles a refletir na maneira que poderiam fazer o príncipe voltar as suas atenções, quando chegou um membro do gabinete de José Bonifácio, trazendo as últimas notícias; era o dia 6 de setembro:

- O príncipe precisa voltar urgentemente para o Rio de Janeiro! - Disse ele assim que acabou de relatar as notícias;

- E a princesa Leopoldina, qual foi a ação que ela tomou? - Perguntou Lysanne ao rapaz;

- Ela reuniu-se com o Bonifácio e o Conselho, para tomarem uma decisão! - Respondeu ele;

- Precisamos levar D. Pedro de volta ao Rio o quanto antes! - Disse “Chalaça”.

Os dois amigos mandaram chamar o príncipe e pediu para que o recém-chegado, voltasse a relatar as últimas para ele. D. Pedro ouviu atentamente e na mesma noite, decidira que voltariam no dia seguinte.

Enquanto que o membro do partido de José Bonifácio relatava os fatos no litoral paulista, ao mesmo temo, a princesa Leopoldina já tinha designado a Paulo Emílio Bregaro, como o emissário responsável para levar as cartas a D. Pedro. Junto a este, seguiu a Guarda de Honra, fazendo a escolta dele e a posterior escolta do próprio príncipe.

As duas comitivas acabaram por se encontrar às margens do riacho Ipiranga, no dia seguinte, 7 de setembro. A Guarda parou à distância, enquanto que o emissário se encaminhou até o príncipe, entregando-lhe as cartas. Pedro afastou-se de todos e começou a ler uma por uma. Lysanne acompanhou de perto o príncipe e percebeu a resignação surgir em sua face. Este, após tomar conhecimento do conteúdo das mesmas, entregou-as ao amigo para que as lessem:

- “O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece”. - Repetiu Lysanne em voz alta a frase escrita na carta pela princesa Leopoldina;

- Estás vendo a situação em que agora me encontro? - Perguntava o príncipe para ele, puxando o cavalo de um lado para outro;

- Tua esposa tens razão! Precisas agir agora ou não terás mais País para governar! - Insistiu Lysanne;

- Querem tirar-me primeiramente o governo, as províncias, as terras, e por último a liberdade! - Pedro falava sem no entanto, deixar de andar para um lado e para o outro com o cavalo.

O emissário juntamente com “Chalaça” e a Guarda de Honra, aguardavam à distancia a decisão do Príncipe Regente. Observavam o comportamento do príncipe e percebiam que ele estava bastante nervoso. “Chalaça” quis se aproximar mas Lysanne fez-lhe sinal para que permanecesse onde estava:

- Vossa alteza precisa aproveitar a ocasião e o favor da população que está ao seu lado! - Insistia ele com D. Pedro;

- Precisaremos mais que o favor da população! Deixe-me sozinho, preciso pensar no que fazer!

Lysanne puxou as rédeas do cavalo e começou a se dirigir para perto das margens do rio, quando ouviu o príncipe em um ato de raiva, esbravejar para ele:

- “ISTO É UMA IMPERTINÊNCIA À MINHA SORTE”!

A Guarda de Honra e o emissário cercaram à Lysanne e perguntaram-no, o que o príncipe havia gritado. Ele, em um estalo de raciocínio, ergueu o punho direito e gritou:

- O príncipe disse: “INDEPENDÊNCIA OU MORTE”!

Imediatamente a Guarda, “Chalaça” e o emissário desembainharam as suas espadas e as erguendo para o alto, repetiram a frase: “INDEPENDÊNCIA OU MORTE”!

O príncipe ao notar a gritaria, resolveu se aproximar do grupo. Logo foi cercado pela Guarda de Honra que empunhando as suas espadas, continuavam a gritar: “INDEPENDÊNCIA OU MORTE, INDEPENDÊNCIA OU MORTE”!

O príncipe olhou para Lysanne sem entender nada. Este aproveitando o momento, fez sinal para que o príncipe também erguesse a sua espada e no calor da incitação, D. Pedro levantou a sua espada e passou a bradar: “INDEPENDÊNCIA OU MORTE,

INDEPENDÊNCIA OU MORTE”! Sendo imitado pelos demais.

Lysanne aproximou-se do emissário e de “Chalaça”, e falou-lhes que voltaria o quanto antes para o Rio de Janeiro à frente deles, para dar a notícia de que o Príncipe Regente havia declarado a Independência do Brasil, às margens do rio Ipiranga...

EMANNUEL ISAC