A CUMPLICIDADE DE ANGÉLICA

A natureza havia sido generosa com ela. Rosto de pele sedosa, olhos com cílios volteados, boca de lábios grossos, cabelos lisos e brilhantes, compridos até a cintura. Quando passava, ouvia os assobios. Sorria, coquete, aumentando discretamente o balançar dos quadris. Gostava quando os olhares masculinos faziam escala em seu corpo. Sentia um arrepio, como se estive sendo desnudada.

No trabalho, conheceu Eduardo. “Meu nome é Angélica”. Segurou a mão dele demoradamente, de propósito, passando a língua com suavidade sobre os lábios, consciente do efeito que provocava. “Muito prazer”. Sentiu um frêmito de alegria somente de ouvir aquelas palavras, pronunciadas por ele. Sacudiu os cabelos. Um fio ficou preso nos lábios do rapaz. Ambos riram. “Vou gostar de trabalhar contigo”. Na verdade, queria dizer outra coisa. Parece que ele captou a mensagem. O olhar deixou de ser discreto e foi direto para as curvas dos seios, que se esforçavam para ficarem presos na blusa apertada. Sentiu que os bicos empinavam. “Podemos tomar um suco, na saída?” “Combinado”. Ao trabalho. Tudo foi rápido. Mas podia antever o resultado. O que mais a excitava: uma argola de ouro na mão esquerda. “Gosto assim. Fica preso e não tenho compromisso”.

Olhou o relógio. Na hora. Viu que Eduardo levantava-se do lugar. Saíram. Escolheram um cantinho no segundo piso do bar, onde não havia ninguém àquela hora. Foi direta. “Gosto de ti. Desejo à primeira vista, digamos. Senti que ofereces o que preciso. Sei examinar um bom... quando vejo um”. Ele riu. “O teu nome e o teu rosto enganam. Pareces angélica. E no entanto...” Não queria conversa. Levou a mão sob e mesa e encontrou rigidez. “Assim que gosto!” — exclamou. “Menina! Que fome! Desde quando tens tanta disposição?” — brincou. “Não te interessa! Quero assim. Se te serve...” A mão não deixava dúvida, agia, tomando a iniciativa. “Somente tem uma coisa. É quando eu quiser e como eu quiser. Aceitas?” Já não falava. Apenas balançava a cabeça, enlouquecido, sorvendo na boca as delícias e imaginando o que seria a cumplicidade entre colegas de trabalho.


 
MADAGLOR DE OLIVEIRA
Enviado por MADAGLOR DE OLIVEIRA em 14/12/2013
Reeditado em 16/01/2014
Código do texto: T4611457
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