JULIE E PEDRO -uma amizade sem medida
Julie era uma pequena mulher, pequena no sentido de minúscula, media apenas 63,4 centímetros. Parecia um bebê de tão pequena que era. Quando pequena, ou melhor, quando ainda criança, Julie sofria bulling, as pessoas tinham muito preconceito com sua altura, brincavam que ela nunca poderia sair pelas ruas porque poderiam te pisar e se tentasse gritar ninguém ouviria sua voz.
Julie já tinha 23 anos, mas sua altura ainda era a mesma de quando era criança. Ela não crescera. Tinha muitas dificuldades e encontrava muitos obstáculos em seus caminhos, mas com o passar do tempo já se acostumara a conviver com eles. Subir numa cadeira ou algo assim tão simples era um desafio para ela, tão pequenina.
Bem longe dali vivia Pedro, um grande homem, no sentido de ser enorme, cumprido. Media 2,55 metros. Ele sofria de gigantismo, não parava de crescer. Quando criança, era chamado de infinito, pois ninguém sabia até onde ia parar.
Ele era conhecido por Pedrão. Quando os amigos o viam gritavam "Pedrão!". No começo foi difícil ele conseguir um emprego por conta de sua altura, mas acabou conseguindo uma vaga no supermercado, onde ele era bem vindo e útil, principalmente para alcançar os produtos que ficavam no alto das prateleiras.
Julie gostava de se produzir, adorava bijuterias e jóias. Gostava de dançar e vivia sorrindo. Certo dia, Julie foi convidada para se apresentar num programa assistido pelo mundo todo, as pessoas queriam ver aquela pequenina mulher e Julie, claro, aceitou.
Foram horas e horas de viagem, até ser recebida por muitos curiosos que sorriam e cumprimentavam Julie, pediam autógrafos e até tiravam foto junto com ela. O que Julie não sabia é que teria uma surpresa no programa. Foi quando lhe apresentaram Pedro, que também havia sido convidado. Dava para imaginar? Julie, uma mulher tão pequena ao lado de Pedro, tão grandão. Julie olhava para ele, levantando bem a cabeça e sorria, bem assim era Pedro que olhava para baixo e surpreendia-se com Julie.
O apresentador pediu então para que Pedro segurasse Julie nos braços, e neste momento Julie via tudo diminuir lá de cima, parecia ter crescido. O apresentador então perguntou à Julie qual a sensação de estar distante do chão? E Julie sorriu e disse que era engraçado, ao mesmo tempo estranho, porque parecia maior que todos que ali estavam, que imaginava erguer os braços e poder tocar as estrelas, brincou ela, pois sabia que isso ainda era impossível, mas que sabia que estava um pouquinho mais perto. Pedro ficou encantado com Julie, para ele ela era uma pequena mulher com um grande coração e que era divertida e uma boa amiga, imaginou. Era encantador ver duas pessoas de características tão opostas ali, juntos. Foi uma grande experiência para os dois.
Depois de saírem do programa, o repórter teve a ideia de fazer uma reportagem com os dois, onde cada um mostraria sua casa e como era sua vida. Julie gostou da ideia e a acompanharam de volta para casa. Chegando lá, parecia ser tudo normal, por fora era uma casa como qualquer outra, Julie morava com seus pais. Entrando na casa foi que Pedro pode ver algumas modificações, que facilitavam a vida de Julie. Mas ainda parecia muito difícil para Julie realizar sua tarefas, pois encontrava dificuldades, mas para sua alegria Pedro estava ali e a ajudava a alcançar algo, ainda que tivesse de se esquivar contra o teto. Para Pedro aquilo era algo bem parecido com o que ele vivia, o que era muito grande para Julie era pequeno demais para ele.
Agora era a vez de Pedro os levar até sua casa. Logo de cara era possível ver uma casa diferente do normal, com portas gigantes e um teto que para Julie era como as estrelas no céu, muito distantes. Julie ficava surpresa com cada coisa que via, e quanto mais grande mais pequena ela se sentia em meio à tudo aquilo. Pedro a convidou para se sentar à mesa e Julie sorria porque não conseguia de jeito algum subir na cadeira gigante de Pedro, ele então a ajudou. Tudo aquilo era um castelo para Julie, uma diversão. Passar por entre a mesa, deitar numa cama enorme, onde caberiam milhares de Julies, abrir o guarda-roupa, enfim.
Ao fim da gravação eles seguiriam cada um para sua casa, mas Julie pediu por uma última vez para que seu amigo Pedro a colocasse nos braços. Era uma alegria para ela, sentia imensamente crescida, via a baixo de seus pés um chão inalcançável, via o vento mais forte bater em seu rosto mas permanecia firme. Pediu então um abraço do amigo, pois aquela seria a última vez em que eles se veriam, por enquanto. Pedro a abraçou com cuidado, pois como ela era tão pequena imaginou que poderia a esmagar com um forte abraço. Ele a coloca de volta ao chão e sorrindo dá tchau para Julie que está indo embora, mas com um grande sorriso.
Ninguém imaginava que nasceria uma grande amizade entre eles, pois é, eles tinham se tornado grandes amigos, mas como moravam distantes um do outro, para matar a saudade mandavam notícias através de cartas ou conversavam pela internet. Julie postava fotos de suas viagens e seu dia-a-dia, assim como Pedro, que a enviava fotos e cartões postais, entre estas fotos havia uma muito especial, onde estava Pedro com Julie nos braços e uma assinatura que dizia "de seu amigo Pedrão para uma pequenina estrela dos céus".