Os poemas desconhecidos de Eduardo - Cap.2
Eu e Ton fomos até a mesa próxima à pista de skate. O gêmeo de Ton não usava barba e estava prestes a acender um cigarro. Foi quando Ton disse:
-----Pessoal esse é o Eduardo, veio andar de skate conosco, ele curte Pearl Jam.
-----Bom gosto Ed, não é hipster né? Muitas das pessoas que conheci que gostavam de Pearl Jam eram hipsters embora não assumissem. Deve achá-los a melhor banda do mundo. (risos).
Fiquei surpreso com a liberdade com que o Emerson falou, diferente do irmão ele não era tão tímido, e tinha um ar de independente. Que às vezes parecia suavemente forçado.
-----Ele é sempre um porre assim mesmo, não liga pra ele, meu nome é Clara, praticamente a irmã desses vermes.
Minha promessa de não se apaixonar estava indo para o ralo, por mais que eu tentasse não ter esses pensamentos. Era impossível com aquela voz meiga, suave e hospitaleira. Uma menina morena com longos cabelos pretos, uma boca perfeitamente desenhada e lindos olhos verdes. Nem sua roupa mais ou menos masculina que ela estava usando pra andar de skate escondia a maravilha de sua feminilidade.
-----Oi pessoal, prazer em conhecer vocês.
Mais que idiota foi essa minha resposta, “prazer em conhecer vocês”. Todo mundo sendo informal e eu jogo essa como se fosse alguma reunião de negócios. Fiquei bravo comigo mesmo naquela hora, eu era sem dúvidas a pessoa mais tímida do mundo.
Até irmos andar de skate.
Emerson que me ensinou, Clara me emprestou o skate rosa dela. O guri era bom professor, por mais que não parecesse ele tinha paciência e ia me ensinando a ficar em cima do skate sem cair. E conseguia fazer tudo isso sem tirar o cigarro da boca. Foram três que ele fumou enquanto me ensinava. Everton ficou parte de cima da pista do lado de Clara, e às vezes arriscava uma manobra e voltava a se sentar.
Eu estava feliz naquele momento. Eu era uma pessoa muito fechada, não saía nunca de casa, o que me dava à impressão de que eu estava jogando a minha vida num rio e deixando-o levar. Ali eu estava sentindo nascer uma amizade, pessoas pra conversar, coisas pra fazer.
No final daquela tarde fomos andando ao ponto de ônibus, eles moravam na cidade vizinha, há uns 30 minutos dali. Enquanto esperávamos o transporte deles para casa Clara puxou conversa.
-----Por que estava sentando naquele banco sozinho Eduardo?
-----Eu queria pensar em algo pra fazer, digo, alguma coisa que eu possa realizar pra não depender mais da minha mãe. Mas pelo jeito terei que trabalhar com algo que não gosto.
-----Fazer o que não gosta nunca é a reposta ----- Respondeu Clara de forma que parecesse um conselho.
Emerson se intrometeu ----- É a resposta quando se está desesperado, melhor que ficar parado sem fazer nada.
-----Concordo, e se ele precisa urgentemente trabalhar, vai ficar esperando o que gosta? ----- Disse Ton.
Clara fez uma cara de que estava pouco se lixando pros dois e perguntou ----- Deve ter alguma coisa que você seja bom Eduardo, não existe nada que goste de fazer?
-----Bem ----- Como eu ia dizer que não sabia fazer nada sem parecer um idiota? ----- Gosto de música, arte, gosto de filmes e livros.
----- Pois bem ----- ela falou animada ----- junte tudo isso e crie algo que você possa se dedicar.
-----Como assim Clara? ----- Perguntou Ton com as palavras que estavam na minha boca.
-----Eduardo, sabe tocar algum instrumento? ----- Ela perguntou.
-----Eu queria, mas não ----- Não adiantaria mentir né?
-----Hum... ----- Ela estava pensativa ----- Escrever, você sabe?
-----Também não ----- Meu, aquilo era triste. Mas de repente ela me deu uma dura.
----- Você escreve seu nome? ----- Me perguntou irônica. -----Então você sabe escrever. Pense em algo que goste.
----- Vamos deixe o cara Clara ----- Falou Emerson como se a atitude dela fosse algo comum para eles.
----- Chegou o ônibus moçada ----- Alertou Ton.
----- Quando tiver algo interessante em mente me mande um sms, a gente pode se encontrar de novo também, pra se conhecer melhor.
----- Claro, vou pensar em alguma coisa ----- respondi.
----- Valeu Eduardo, a gente se vê! – Gritou Ton
--- Bom te conhecer Ed – falou Emerson e saiu correndo pra porta.
----- Quando o texto estiver pronto me avise ---- Clara me deu um beijo no rosto e entrou no ônibus com um último tchau para trás.
Eu fiquei ali pensando. Enquanto eu aprendia a ficar em cima do skate, trocamos números de telefones, gostos musicais e hobbies.
Ton, rapaz quieto e gentil, gosta muito mesmo da banda The Doors, insistiu que eu escutasse quando chegasse em casa.
Emerson, jeito de gente que gosta de zoar, fã incondicional de Bob Marley. Dos três o que manda melhor no skate, e conseguiu me ensinar a ficar em cima dessas quatro rodinhas sem cair.
E Clara, a menina que realmente eu me apaixonei, gosta dos mesmos livros que eu, Dan Brown, é romântica e gosta muito de Lulu Santos. Tem um jeito muito pessoal de encarar tudo, não liga pra provocações e tem personalidade.
E eu? Durante as conversas pude me soltar mais do que de costume, falei minhas interpretações das músicas que ouço, o que deixou Clara fascinada, falei dos filmes que gosto e das mensagens que eles me passam, e novamente Clara ficou fascinada e também dessa vez os meninos.
----- Você uma mensagem em tudo, admiro isso ----- Disse Clara naquela hora.
----- É de se admirar Ed ----- Elogiou Emerson de um jeito bem sincero pra quem parecia ser sempre sarcástico.
Quando o ônibus partiu, eu só queria ir pra casa e escrever alguma coisa. Mesmo ainda sem saber sobre o que seria exatamente.
Foi quando da Janela do ônibus Clara gritou.
-----Eduardo! Escreva sobre mim pode ser?
Eu devolvi o grito enquanto o ônibus ia se afastando ----- Claro!
E ela deu o sorriso mais lindo que eu já vi na vida antes de desaparecer na janela daquele mágico ônibus.