Os poemas desconhecidos de Eduardo - Cap.1

No colegial fui um estudante razoável, muitas notas boas, poucas ruins e algumas ótimas. Amizades? Eu realmente tinha algumas pessoas com quem conversar, mas ninguém que pudesse chamar de amigo, ninguém que eu visitava e também nenhuma pessoa que me visitasse. Me apaixonei por algumas meninas, onze para ser mais exato. Mas não fiquei com nenhuma delas. Eu não era considerado estranho, mas também não era nenhum popular. Para todos os efeitos, eu era uma pessoa qualquer em uma escola qualquer no bairro de uma cidade qualquer.

Com dezoito anos terminei a escola. Metade da minha turma em pouco tempo já estava se encaminhando para suas respectivas universidades. Eu? Para mim não era tão fácil. Fiquei um ano pensando em que iria me formar, e não, não cheguei a nenhuma conclusão.

Sem amigos, sem trabalho, sem estudar. Eu estava pensando o que iria fazer da minha vida. Minha mãe divorciada ganhava bem com sua loja de roupa no centro da cidade e não me forçava a trabalhar. Mas eu me sentia mal, não queria ser o filhinho de mamãe.

Resolvi como por instinto visitar uma velha praça que ficava na parte comercial do meu bairro. E lá posso dizer que fiz meu primeiro amigo. Sim, aquela pessoa que você conta segredos, que você visita e que te visita também.

Ao chegar à praça eu estava determinado, “vou ficar aqui e pensar o dia todo. Quando eu sair já saberei o que fazer da minha vida.” Pra que esse processo fosse mais satisfatório levei minha coleção inteira de CDs do Pearl Jam no notebook, todos comprados no iTunes.

Ten, Vs., Vitalogy... Lá se iam passando as discografias, realmente estava difícil de decidir. Eu queria trabalhar, mas não em algo que eu não apreciasse. Porém para trabalhar em algo que eu gostasse, iria levar algum tempo. Eu gostava de games, mas não tinha conhecimento técnico em nada da área, gostava de música, mas não sabia tocar nada e nem cantar. Gostava de quadros e esculturas. Só gostava mesmo. Ou seja, se eu quisesse trabalhar com alguma coisa que me agradasse eu teria que estudar muito e pra isso teria que TRABALHAR, ou seja, fazer coisas que não gosto. E não, eu não aceitaria que minha mãe pagasse meus estudos.

Nesse mar de dúvidas e músicas cantadas por Eddie Vedder um jovem da minha idade, porém com muito mais barba apareceu. Eu sou moreno, altura mediana, cabelos longos e lisos, pareço um índio. Esse cara que se sentou do meu lado naquele banco de praça era branco como folhas de papel, tinha uma barba completa e era um pouco mais baixo que eu.

Aquela figura com cara de psicopata sentou-se do meu lado suado com seu skate na mão e perguntou.

-----Você está ouvindo Pearl Jam?

Eu então percebi que realmente o volume da música estava alto, o suficiente para sair do fone, com minha sempre atitude simpatizante eu respondi:

-----Sim estou, é minha banda favorita, na verdade, a única que costumo ouvir.

Era verdade, nenhuma banda me agradava mais que o Pearl Jam, o que mais me animava eram suas letras. Sou brasileiro, e não falo inglês, por isso fiz questão de buscar as traduções de suas músicas uma por uma. Elas falavam comigo, e me deu tanto trabalho conhecer tudo, traduzir, interpretar, comprar cd’s, que não tive empolgação pra fazer isso com qualquer outra banda.

Não, eu não me considerava rockeiro. Eu gostava de músicas do rock, ouvia as vezes músicas aleatórias de outras bandas. Mas não era fissurado no gênero.

Hoje sim posso dizer que sou.

----- Legal velho, a minha banda favorita é o The Doors ---- Disse o projeto de psicopata naquele banco de praça e fez um convite como se tivesse sentando do meu lado somente por esse motivo. ----- Sabe andar de skate?

Não queria dizer a ele que eu era um merda, não sabia andar de skate, não sabia desenhar, não era o mais excelente em matemática, não sabia dançar, pintar, jogar bola, traduzindo, eu era um merda em tudo que se possa imaginar, mas me contive e só respondi.

----- Não cara, não sei.

Essa resposta parecia ser óbvia pra ele devido à rapidez com que rebateu minha resposta.

----- Estou andando ali na pista com meu irmão e minha amiga, se quiser pode ir lá, a gente te ensina ou você só olha se não quiser aprender. Gosta de skate?

----- Claro, gosto sim, vamos lá ----- respondi.

Preciso dizer o quanto era estranho ver um cara que vem do nada e me convida pra andar de skate. O mais estranho é que ele parecia tão tímido quanto eu. E lá estava ele, deve ter me visto horas sentado ali sem fazer nada e me convidou num ato de caridade. Confesso que já tentei fazer amigos e não obtive sucesso, muitas vezes deixei de ser eu mesmo, e quando desisto dessa hipótese, surge um cara da minha idade barbudo, suado com skate na mão e me tratando com pena. Vai entender. Parece que quando você se contenta em ser você mesmo é que os amigos de verdade surgem.

Fomos andando até a pista de skate, em absoluto silêncio, foi nessa hora que percebi que foi difícil pra ele me convidar, ele queria ser bondoso, preparou as palavras certas e depois que elas deram certo, ficou sem muita coisa a dizer.

----- Aquele jovem idêntico a mim, porém sem barba é meu irmão Emerson, e a garota do lado dele é nossa amiga Clara. ----- Disse o cara que acabara de me conhecer ----- Emerson é meu gêmeo, só que tem gostos diferentes, ele gosta de Reggae, fuma e bebe. Eu gosto de rock, bebo, não fumo. Ele parece durão, mas faz tudo escondido da nossa mãe. Segundo ele pra não magoa-la, mas na verdade tem medo. (risos). ----- Enquanto ele falava, acenou para os dois, e eles vieram andando até uma mesa de concreto perto da pista. ----- Clara é uma garota muito adorável, quase nossa irmã, uma vizinha que praticamente cresceu conosco. E não, nunca ficamos. (risos). Gosta muito de ler livros de Dan Brown e é viciada em Lulu Santos. Vai gostar dela, só não se apaixone. (mais risos)

----- Pode deixar ---- respondi pra ele simpaticamente sem querer confessar que me apaixonava mais fácil que jogar guitar hero no easy.

----- Ah, e aliás, qual o seu nome? ---- me perguntou.

----- Eduardo.

----- Prazer Eduardo, meu nome é Everton, mas meus amigos costumam me chamar de Ton.

William Stevenson
Enviado por William Stevenson em 25/11/2013
Reeditado em 25/11/2013
Código do texto: T4586454
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