Folha em branco.

Mesmo depois de tantas derrotas nao desistira, iria tentar novamente, estava mais experiente, calejado; aperfeiçoara inclusive sua arma, tinha que sair vencedor.

Tenho que sair recheado, tenho que preencher esse vazio, esse branco - pensava consigo. Chegada a hora derradeira, seus dedos pareciam derreter em suor, sua boca tornara-se um deserto, silencioso, seco e craquelado. Mesmo assim vestiu sua armadura de "coragem falsa", daquelas que só os medrosos e teimosos em não recuar conseguem forjar, empunhou seu lápis na mão esquerda e partiu ferozmente em direção a batalha. Avançou com a violência de um mouro, nada poderia detê-lo agora, sabia que finalmente preencheria aquele vazio, mas tremeu diante da magnitude de seu oponente, o vazio branco e assuntador que se apresentara diante de sua face esfacelou a frágil armadura do guerreiro que se viu nu. O oponente do guerreiro tinha a dimensão de uma folha de papel, (tinha o tamanho de um sulfite A4 para ser mais exato). O guerreiro novamente foi derrotado pela folha em branco, sabia que não preencheria o vazio, sabia que continuaria tomado por esse vazio que a cada derrota ficava maior e mais branco. A folha por sua vez continuava lá, cínica e branca... vazia.

Rafaello Merisi di Caravaggio
Enviado por Rafaello Merisi di Caravaggio em 22/10/2013
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