Lembranças

Fechei meus olhos, bem forte. Não queria nunca que aquela sensação acabasse. Parecia que o Carrossel levava tudo embora, todas as sensações ruins pelas quais eu já tinha passado, sumiram. No lugar delas, o vento calmo da noite, me acariciava. Há alguns anos, quando era criança, eu andara num carrossel desses, com meu pai. Lembro-me quando ele me pedia para não soltar do cavalo, pois eu poderia virar para trás, e cair.

E agora, sentada novamente, no mesmo carrossel, no mesmo cavalinho prata acinzentado, eu me lembrava exatamente do dia em que não segui o conselho do meu pai, e distraída, caí do cavalo. As crianças que estavam próximas, começaram a rir, riram alto. Meu pai, que estava conversando com alguns amigos, parou quando me viu, caída no chão, arranhada. Eu estava chorando, e ele foi a única, dentre as milhares de pessoas, que me ajudou a levantar:

- Calma, querida. Vem, vamos pra casa.

Naquele instante, percebi o quão doce e calmo olhar ele me direcionava. Fomos embora, mas ainda ouvia algumas crianças sorrirem, quando eu passei por elas. Oh, tenho de descer do cavalinho, já foi esgotado meu tempo, mas as lembranças ainda me acompanham. Caminho em direção á minha casa, e lembro-me de quando chegamos em casa, depois do ocorrido no Carrossel:

- Se não fosse tão desastrada, não teria caído - Minha mãe, passando gelo na minha perna, resmungou.

- Não culpe a menina, mulher!! Foi um acidente! - Meu pai, tentava me defender da ira da minha mãe.

-AI! -Gritei, ela apertara meu joelho com força, estava bem arranhado.

Bruscamente, me levantei e saí mancando para a varanda.

-Larissa, volte aqui! - Minha mãe gritou - Essa menina não tem jeito mesmo.. também, com o pai que tem! - Ela resmungara alto

Continuei meu percurso, ainda lembrando daquela noite:

- Lá (era assim que meu pai me chamava), você está bem?

-Sim, estou... ainda dói um pouco, mas estou bem, papai.

Ficamos calados. Ele se levantou e se encaminhou para a porta:

-Não fique muito tempo aí! Sua mãe pode dar um ataque! - Ele sorriu

Ainda fiquei um longo tempo, sentada, olhando pras estrelas, talvez. Senti um enorme desejo de ser uma delas, de brilhar. Tudo bem, eu tinha apenas 11 anos pra entender algumas coisas, mas sentia que meus pais estavam se afastando. Eu sabia disso, mas não queria admitir. Olhei pro meu joelho, arranhado. Já não doía mais. Levantei-me e andei, ainda mancando em direção a porta. Quando entrei, lembro-me, de ver meu pai, adormecido no sofá, minhas irmãs dormiam, e minha mãe, pelo que parecia-me, ainda estava acordada, em seu quarto. Ela falava algo, muito difícl de entender. Pareciam xingamentos. Tive de ignorá-la, fechei a porta e fui pro meu quarto. Mas antes, fui até o guarda-roupa, peguei um cobertor, e cobri meu pai. De repente, sorri. Simples assim. Talvez aquela fosse a última vez, que teria toda a minha família em casa. É o destino.

Ainda continuo caminhando pra casa ( quão longe ela é?). As lembranças foram pouco a pouco desaparecendo. Agora, era a imagem do meu pai que aparecia. Não sei, de repente, me senti tonta, com uma vontade de chorar. Cheguei em casa, e essa vontade não passava. Tive de me agarrar ao travesseiro, para poder dormir.

Isto é o poder que uma simples volta de Carrossel teve em mim: Me trouxe lembranças.

Larissa Siqueira
Enviado por Larissa Siqueira em 09/10/2013
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