Moleques Vermelhos

Moleques Vermelhos

Terra de poeira vermelha, areia movediça brincando entre os dedos dos pés descalços, moleques travessos correndo rumo ao riacho. Mergulhos, piruetas, empurrões e a água tingida de vermelho, o sangue da terra, devolvendo a pueril cor de cada pele.

Meninos de todas as cores, de todos os dinheiros, de toda esperteza única, de mentes sãs e puras, dividindo a mesma água, no mesmo banho, lavados pelas bênçãos da natureza.

Éramos mesmos moleques de sorte, a maior violência que enfrentávamos era a nossa própria, afinal brigar entre nós era nosso vício, começava por qualquer motivo e nos esmurrávamos por prazer, afinal curar feridas também era gostoso. Que moleque de verdade que nunca “cutucou” ferida quase cicatrizada só pra ver jorrar de novo o sangue.

Depois do banho e das brigas corríamos ao campinho pra maltratar um pouco mais os corpos e a bola, mas não era tão divertido quanto provocar o “Trabuco”, touro bravo do seu Jamil.

Todos em pé ao lado da cerca.

O mais corajoso, ou melhor dizendo, menos ajuizado, pulava dentro do cercado e enquanto nós do lado de fora provocávamos o bicho ele tratava de puxar o rabo do bruto.

Bando de malucos.

Entrar no mato pra colher marmelos, roubar laranja no pé, fugir dos tiros de sal, caçar passarinhos, é, não éramos ecológicos nessa época, moleque de verdade andava com estilingue no bolso, feito de forquilha de goiabeira e tripa de mico. A munição era feita de barro, bolinhas perfeitas que colocávamos pra secar no fogão a lenha, depois ia tudo pro “emborná” e lá íamos nós atrás das Juritis, das Codornas, das Pombas do Bando, e as vezes das galinhas da dona Jurema.

Quando voltávamos pra casa, de novo a poeira vermelha entre os dedos.

Bacia grande de alumínio e banho de caneca, esfregava com bucha, daquelas que nascem nas cercas, esfrega aqui e acolá, fica limpinho de novo.Pronto pra mais poeira vermelha amanhã

Hoje vendo toda a minha Fronteira asfaltada sinto muita saudade daquela poeira fina que era o tormento de minha mãe, de todas as mães de moleque na verdade...

Tudo bom demais!