O casamento na fazenda
O CASAMENTO NA FAZENDA
O meu irmão mais novo, resolveu casar; resolveu não né! Quem iria dizer não, depois de engravidar a moça, e ver o tamanho dos cinco irmãos que ela tinha!
—Mana vou me casar e quero que você seja a minha madrinha! O que você me diz?
— Oba! Vamos ter casório meus parabéns! Fico muito feliz! E lógico que eu aceito! Por que tão de repente?
—É que...
—Nem precisa terminar, e é pra quando o neném?
—Acho que pra Maio!
—Tudo bem, o importante é o bebê vir com saúde, e vocês serem felizes! Parabéns!
Combinamos tudo. O casamento do Civil ia ser no sábado às 11horas em Varginha que era a cidade mais próxima com Cartório, e onde chegaríamos pela manhã. Depois iríamos para a casa da noiva em Três Pontas, e lá ficaríamos na fazenda. Domingo seria o casamento do religioso na igrejinha da cidade.
Depois de uma noite inteira viajando, fomos para o Cartório. O casamento correu maravilhosamente bem... Os noivos estavam felizes da vida. E nós também!
Fomos pegar o ônibus para Três Pontas. Esperamos muito tempo, afinal, o ônibus só passava de duas em duas horas. Já estávamos muito cansados, e doidos para chegar à casa da noiva,
Quando finalmente o ônibus chegou, já estava lotado! Mas não só de gente! Cada passageiro tinha um animal, até dois! E o pior, ocupavam as cadeiras do ônibus! Parecia mais um zoológico ambulante. Tinha cachorro, galinha, papagaio, cabra, peru... Apesar de tentar disfarçar o riso, tinha hora que não dava. Não estávamos acostumados com aquela situação! O barulho de bichos era muito grande; o cachorro latia e era acompanhado pelos outros animais! E o cheiro! Era muito forte! Tudo era muito engraçado. Depois de uns trinta e cinco minutos, chegamos finalmente, foi um alívio!
Saltamos do ônibus; a rua era de barro e uma casinha aqui, outra lá. Fiquei olhando pra ver se entendia, e perguntei finalmente pra o meu irmão.
—Menino, cadê a fazenda?
— Tudo isso é a fazenda!
—Mas e a casa principal, não é lá que vamos ficar?
Paramos em frente a uma casinha, tipo; de barro...
—Mano, é aqui a casa que vamos ficar?
—É! Disse ele sem graça.
—Mas essa não vai dar pra todo mundo!
—Relaxa mana, à noite tudo se ajeita!
Eu e meus irmãos nos olhamos e concordamos—esse é doido mesmo!
Qual não foi a nossa surpresa ao vermos a turma que chegou do Rio a noite. Eram amigos de infância, amigos do trabalho... Mais vinte pessoas. E acabou que não deu mesmo pra todo mundo. Nem com a boa vontade de uma vizinha que morava mais ou menos perto. Resolvemos que o jeito era revezar, uns dormiam a noite e outros de manhã. Sobrou para os homens ficarem acordados. Beberam cachaça, e ouviram Zezé de Camargo e Luciano a noite toda, com aquela música; Pensa em mim. E ainda cantavam juntos! O barulho não permitiu que alguém dormisse e a reclamação foi geral. O pior de tudo foi o cheiro da cachaça
O domingo começou com a mulherada indo fazer o almoço. O casamento ia ser às 18 horas e tudo tinha que acontecer cedo. Imagina como ia demorar pra toda aquela gente tomar banho...
Enquanto fazíamos o almoço, o meu filho de seis anos chegou correndo.
—Mãe, olha, é o meu bichinho de estimação
E foi abrindo uma caixa de fósforos pequena. Nós que estávamos fazendo a comida, vimos quando algo pulou direto pra panela do macarrão, foi uma gritaria, procuramos de todo jeito; reviramos o macarrão, olhamos atrás do fogão e nada! Era uma perereca e que acabou sumindo não se sabe pra onde! O meu filho por sua vez ficou chorando a perda do bichinho de estimação, e foi atrás do meu irmão...
Não comentamos sobre o fato ocorrido pra o resto do pessoal, com medo de que o povo não quisesse comer. Eu grávida e enjoada que era, acabei não comendo comida nenhuma. Eu e as crianças devoramos os biscoitos recheados. A tarde chegou, foi uma correria com todos se arrumando e no final como sempre, deu certo! E
Aí apareceu a questão de como ir tanta gente pra o casamento. Só tinha carro pra noiva. Mais uma vez perguntei para o meu irmão.
—E aí, como vamos pra cidade?
—Espera, a nossa condução já está chegando!
—Ai que bom que você já tinha pensado nisso!
—Já está tudo resolvido, eu sou o cara!
—O cara é! (risos)
E de repente encostou um caminhão, desses de caçamba! O povo começou a subir, todo mundo de roupa nova... Na boleia já estavam à mãe da noiva e a tia. Não tinha mais lugar. E eu disse grávida de seis meses disse.
—Tudo bem, é rezar pra o meu filho não nascer dentro do caminhão!
A rua era de barro seco e toda esburacada. O caminhão dava pulos e eu segurava a barriga e rezava!
Graças a Deus chegamos à igreja, e foi o maior alívio! A cidade em peso estava presente. Foi linda demais a cerimonia, a emoção aflorou em todos, até esquecemos os atropelos. Minha filha e minha sobrinha foram as damas e estavam que era só alegria.
O casamento acabou, mas nós não voltamos pra casa da noiva. Resolvemos levar toda a nossa bagagem para cidade e tentar uma pensão ou qualquer coisa assim! Duas amigas da noiva ofereceram abrigo pra gente. Na manhã seguinte pegamos aquele ônibus; o zoológico ambulante e aportamos na rodoviária de Varginha. Lá embarcamos para o Rio de Janeiro. Hoje, vinte e um anos depois, quase morremos de chorar, de tanto rir, nos lembrando do casamento.