Me acorde quando chegar

A velha senhora cochilava em sua cadeira de balanço junto à janela, um livro aberto sobre o colo. Foi despertada subitamente pela campainha estridente do telefone na sala ao lado.

- Deixe que eu atendo, mãe! - Ouviu a filha gritar.

A velha senhora fechou o livro e colocou-o sobre a cômoda ao lado da cadeira de balanço. Cogitou levantar-se, mas pensou melhor e apenas ajeitou a manta sobre as pernas. Lá fora, o crepúsculo caía sobre o Brooklyn e se a janela estivesse aberta, provavelmente sentiria o vento frio que vinha do East River.

A voz da filha falando ao telefone parecia excitada, mas não conseguia distinguir as palavras.

- Quem é, Jennifer? - Indagou.

- Um momento, mãe! - Ouviu a filha gritar. - Já estou indo!

Pouco depois Jennifer entrou no quarto, expressão radiante.

- Mãe, tia Tussy está vindo!

- A sua tia Tussy? Mas ela não estava na Europa? De onde ligou?

Jennifer ajoelhou-se junto à cadeira de balanço e segurou as mãos da mãe.

- Mãe, ela ainda está no navio, no meio do Atlântico! Mas avisou que está chegando, provavelmente na quarta-feira!

- Jennifer! Que maluquice é essa? Como alguém pode telefonar de um navio no meio do oceano? - Protestou a velha senhora.

Jennifer ampliou o sorriso:

- Na verdade, não foi ela quem ligou - como poderia? O navio tem um desses equipamentos Marconi, que transmitem código morse sem fios... tia Tussy mandou um telegrama para o agente dela aqui, em Nova Iorque, e a secretária dele me ligou para dar o recado.

A velha senhora fez um muxoxo.

- A sua tia Tussy e suas extravagâncias! Não teria sido mais simples mandar um telegrama diretamente para nós?

- Acho que a tia Tussy quis nos impressionar - riu-se Jennifer. - Imagine, mamãe, telefonar de um navio no meio do oceano Atlântico!

- Enfim, - suspirou a velha senhora - precisamos nos preparar para receber a sua tia. Eu presumo que ela ficará hospedada conosco.

- Naturalmente, mamãe! Tia Tussy não perderia essa oportunidade, é tão difícil ela vir aqui...

- Bem, amanhã ainda é terça-feira; teremos um dia inteiro, portanto - ponderou.

- Sim, mamãe.

- E nós iremos esperá-la no porto?

- Não será necessário, mamãe. O agente vai mandar uma limusine trazê-la até aqui.

- Isso é bom - aprovou a velha senhora. - Não estou mais em idade de ficar horas plantada num cais, esperando um navio chegar.

E, em seguida, subitamente curiosa:

- Por falar nisso, como é o nome desse navio tão moderno, que tem até telégrafo sem fio?

- Ah, mamãe - disse Jennifer enlevada. - É um sonho de navio: o "Titanic"!

- "Titanic"... - repetiu a velha senhora.

E fez um muxoxo.

[31-08-2013]