NO VELHO OESTE

O cavalo de Ted com certa dificuldade sobe os últimos metros da colina, chegando ao topo Ted avista a outra colina e no fundo do vale a pequena cidade de Carson City, ele solta as rédeas de Gigante e deixa-o descer em passo cadenciado, percebe que o cavalo está cansado, bate de leve no pescoço do animal com a mão direita e diz carinhosamente.

-Firme companheiro, estamos chegando, um belo feno te aguarda.

À medida que desce para o vale, pensa que poderia seguir tanto para o sul como o norte, mas decidira pelo leste, agora era procurar um hotel isso se aquela cidadezinha tivesse um, ele poderia aproveitar e tomar um belo banho e Gigante poderia descansar, amanhã seria outro dia e seguiria em frete para qualquer ponto cardeal.

Enquanto descia um vento insistente levantava a poeira da terra ressequida, ao chegar ao vale e dar rédeas para a esquerda guiando Gigante para a Rua Principal da cidadezinha, passa pela placa na entrada da cidade que informava: Carson City, 1050 habitantes até ontem.

Ted sorriu ao ler a placa, eles devem atualizar diariamente o número de habitantes, há uma semana seriam mais ou menos habitantes?

Gigante aumenta seu trote, pois algo lhe diz que logo se verá livre da sela, Ted vai olhando tudo a sua volta, a rua está deserta, talvez por causa da poeira que o vento levanta e o sol escaldante, olha paro o céu e calcula pela posição do sol que deva ser umas duas horas e, sente a garganta seca, defronte o saloon desce, apenas joga as rédeas sobre o cavalete de madeira, bate as mãos na roupa para retirar um pouco da poeira encalacrada nas vestes, ajeita o cinturão aonde no seu lado direito um coldre agasalha um revólver Colt 45 cano curto.

Entra no saloon, onde apenas dois homens de idade avançada jogam preguiçosamente uma partida de pôquer sentados em uma mesa afastada , ele tem impressão que um dos jogadores está cochilando, deve ser por causa do calor concluiu.

Caminhou até o balcão.

-Uma dose dupla de whisky e toda agua do mundo para eu limpar minha garganta impregnada com essa poeira toda.

O taberneiro, sem dizer nada, serviu o whisky e, em seguida colocou sobre o balcão uma jarra com água.

Após beber o whisky e em seguida levar a jarra à boca, engoliu a água em grandes goles.

Após colocar a jarra sobre o balcão.

-Há alguém nesta cidade para cuidar e alimentar o meu cavalo?

O taberneiro não responde diretamente para Ted, mas grita para um dos idosos a jogar pôquer.

-John, água e feno para o cavalo do forasteiro.

O idoso levanta-se devagar caminha até o meio do salão.

-Fique tranquilo forasteiro, seu cavalo será bem tratado e estará em plenas condições para o senhor seguir viagem. E saiu para cuidar do cavalo.

-Porque ele acha que não vou ficar na cidade?

-Moço esta cidade não gosta de forasteiros.

Quando Ted ia retrucar, uma jovem desce correndo pela escada ao lado direito que ligava o saloon ao piso superior, sofre um tombo e desce rolando o restante da escada, atrás dela um brutamonte desce os degraus de dois em dois e levanta a jovem do chão pelos cabelos e prepara deferir-lhe um soco no rosto, quando tem o curso do seu braço impedido por uma mão que o trava como uma morsa.

O brutamonte olha para a pessoa que interferiu na ação, e recebe um potente soco no nariz que esfacela as suas cartilagens, após o golpe ele solta a moça faz um giro para a esquerda e cai de frente no chão, em seguida tenta se levantar ficando de quatro, quando então recebe um violento pontapé em seu rosto e Ted sente no peito do seu pé os dentes do infeliz desabarem, o homem com o impacto tem metade do seu corpo momentaneamente arcado para traz e fica estirado no chão.

Ted resmunga.

-Nenhum canalha bate em mulher na minha frente.

Em seguida levanta o homem do chão e o ajuda a caminhar até a porta do saloon onde o mesmo fica a cambalear como um bêbado, e lhe desfere outro violento pontapé no traseiro, arremessando-o ao meio da rua poeirenta.

Retorna para o balcão, a jovem ao pé da escada olha-o murmura um agradecimento e sobe pela escada desaparecendo no piso superior.

Ted pede outra dose de whisky, mas recomenda que desta vez a dose seja simples.

O taberneiro enquanto servia a bebida.

-Forasteiro o homem que você surrou, o Brady é comparsa de gente muito perigosa, te aconselho beber seu whisky e dar o fora da cidade.

-Você acha que eu deveria apenas assistir aquele covarde surrar a mulher?

-O que você fez é louvável, mas com isso compraste briga com gente perigosa, não demora muito eles estarão entrando por aquela porta para um acerto de contas.

Ted pagando o whisky.

-Agi dentro da lei, os incomodados que se manifestem, existe um hotel nesta cidade?

-Sim é duas quadra a frente aqui rua principal, então vai permanecer na cidade?

-Já te falei os incomodados que se manifestem.

O taberneiro olhando para a porta do salão demonstrando medo.

-Parece que os incomodados já estão chegando.

E se afastou de Ted se dirigindo para o extremo do balcão.

Ted ouviu o som de passos atrás de si, se virou devagar e permaneceu encostado no balcão.

Acabava de entrar três pistoleiros no saloon, eles avançaram alguns passos e pararam a uns 5 metros à sua frente.

Ted observa atentamente as três figuras, mas o do meio chamou mais sua atenção. Era bem alto, talvez 1,95m ou mais, era muito magro, parecia um ser desprovido de músculos, tinha os olhos cinzento como uma lápide de túmulo e carregavam duas grossas sobrancelhas que teimavam em se juntarem em cima de seu nariz fora de centro, deslocados de seu eixo natural talvez por uma forte pancada em algum momento de sua vida, sua boca inexpressiva era emoldurada por um bigode do tipo chinês cujas pontas desciam ao lado de sua boca até dois centímetros abaixo de seu queixo, seus braços eram extremamente longos, essa anomalia justificava seu cinturão cruzado da direita para a esquerda com o coldre quase a altura do joelho onde acomodava um Colt 45 de cano longo, sua indumentária era toda preta.

Pela figura Ted achava que sabia quem era ele.

Os outros dois coadjuvantes não mereceram sua atenção especial.

O pistoleiro da direita questionou Fred.

-Então você é o valentão que arrebentou com o Brady?

Ted com um sorriso sarcástico.

-Apenas lhe dei um corretivo, para aprender de uma vez por todas, de que numa se deve bater em uma mulher.

O da esquerda se manifestou.

-Só por isso?

-E você acha pouco?

Quando o da direita ia retrucar, o magro fez um leve sinal com a mão o interrompendo e perguntou.

-Tu estás pronto para morrer pelas minhas mãos?

-E para essa façanha você precisa da companhia de capangas ao seu lado?

O magro fuzilou com o olhar seus dois parceiros e com um gesto de cabeça deu a entender que era para os dois saírem do saloon.

Os dois foram se afastando de costas para a saída, enquanto a cena se desenrolava Ted pode perceber que na rua já havia uma pequena aglomeração de pessoas e podia jurar que uma delas tinha uma estrela no peito.

-Não preciso de ajuda para mandar um verme como você para o inferno.

-Ainda bem.

Você sabe que sou eu?

-Apenas desconfio.

O magro tentou decifras as emoções de Ted.

-E então?

Então o que?

-Está pronto para morrer?

Ted desencostou-se do balcão.

-A hora que você quiser.

O magro chamou o taberneiro fazendo dele um mestre de cerimonia improvisado.

-Pablo diga ai para esse verme que eu sou.

O taberneiro sempre atrás do balcão aproximou-se de Ted.

-Ele é o Nick do Missouri: A MÃO ESQUERDA DO DEMÔNIO.

Ted permaneceu impassível.

O magro esperava uma reação de medo de Ted ao saber seu nome e o título que ostentava, pois ele era uma lenda viva no oeste americano. Não percebendo qualquer alteração de emoção em seu oponente perguntou.

Qual é o seu nome? Quero saber, por que costumo pagar pelas lápides de meus desafetos.

-Ted the Kid.

O taberneiro que estava agachado atrás do balcão ao ouvir o nome de Ted, apoiou ambas as mãos na borda do mesmo e só apontou sua cabeça até a altura de seu nariz e, olhando para o magro falou afobado.

Ted the Kid: A MÃO DIREITA DE SATANÁS.

O idoso que ainda estava sentado na mesa de pôquer de onde esperava assistir ao duelo, se levantou e saiu rápido do saloon e, ao chegar à rua gritou.

-O DUELO VAI SER COM O TED THE KID: A MÃO DIREITA DE SATANÁS.

Ao ouvir a notícia as pessoas na rua se afastaram mais da frente do saloon e, o xerife disfarçadamente também acompanhou o movimento delas.

Após o anuncio de seu nome, Ted estuda a reação de magro, cujos olhos estão mais semicerrados, e percebe um leve tremor do lado direito de sua boca, fazendo com que a ponta do bigode executa-se um leve movimento de subida e descida provocando o desnivelamento entre as duas pontas.

-Então você veio até aqui para me desafiar?

-Muito pelo contrário, foi por acaso que entrei nesta cidade, aí fui obrigado a dar uma surra no seu comparsa, e agora você esta aqui para me matar, e acho melhor acabarmos logo com isso, espero que você não pense em desistir.

Ted percebeu um tremor percorrer o corpo de Nick, que poderia ser de receio ou de ódio, as pontas do bigode agora subiam e desciam alternamente numa cadência lenta.

Um silêncio total imperou dentro e fora do saloon, os contendores se olhavam mutuamente diretamente nos olhos.

Tanto a mão direita de Ted, como a esquerda de Nick, próximas aos coldres, insinuavam movimentos imperceptíveis dos dedos, a tensão existente naquele momento entre os dois atingira o clímax e, talvez excitado pela alta dose de adrenalina, Nick deu inicio ao duelo levando sua mão a arma sacando-a do coldre, na mesma fração de segundo Ted repetiu o gesto, por uma questão matemática, a arma de Ted se viu livre do coldre um milionésimo de segundo antes da arma de Nick:

Nick = A onde A é a incrível rapidez para sacar a arma.

Ted = A onde A é a incrível rapidez para sacar a arma.

Revolver de Nick um Colt 45 cano longo = -A.

Revolver de Ted um Colt 45 cano curto = +A.

Portanto

-A # +A.

Ou no lapso de tempo: -A < +A.

Tanto Ted quanto Nick, pistoleiros experientes, antes de sacarem totalmente suas armas já estavam com elas engatilhado e, o milionésimo de segundo a favor de Ted permitiu que ele atingisse com o disparo o centro da testa de Nick um pouco acima de onde suas grossas sobrancelhas teimavam se juntar.

Ao receber o impacto em sua testa que atravessou sua cabeça provocando um rombo da parte posterior do crânio por onde esborrifou parte de sua massa cefálica, Nick arregalou os olhos de forma esbugalhada dando a impressão de que vislumbrara o inferno e, antes que suas pernas perdessem a sustentabilidade caiu de costas com os braços abertos em forma de cruz e acabou de arrebentar o crânio com o impacto no piso. Ao redor de sua cabeça começou a formar uma poça compacta de sangue.

Enquanto as pessoas que se encontravam na rua em frente ao saloon começaram a entrar vagarosamente para ver o resultado do duelo, Ted municiou sua arma e enquanto a devolvia ao coldre se aproximou do corpo de Nick e notou algo diferente na sua expressão que além dos olhos arregalados e esbugalhados, algo estava diferente, observando bem, Ted se deu conta que às pontas do bigode de Nick estavam niveladas um centímetro acima do final do queixo.

O salão ficou tomado por populares e saindo do meio deles o xerife se aproximou do corpo ficando ao lado de Ted.

-Foi um belo tiro.

-Obrigado.

O xerife encostando de leve a ponta da bota de seu pé direito no corpo.

-Esse aí costumava pagar as lapides de suas vítimas, você vai pagar a dele?

-O que você acha xerife?

O xerife deu um sorriso.

-Pensa em ficar muito tempo na cidade?

-Não, talvez uns três dias, o tempo de descansar os ossos.

-E vai para aonde?

-Não tenho ideia, talvez para o norte ou o sul, ou..

Continua...

Roberto Afhonso
Enviado por Roberto Afhonso em 05/08/2013
Código do texto: T4421102
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.