A Aldeia (XXXIV)
 
-Roan, hoje vamos iniciar uma nova fase de treinamento das nossas guerreiras, todas elas estão convocadas para a guerra que faremos para resgatar nossos guerreiros que estão aprisionados. 
- Mas majestade... Obstou Roan .
- Deixe-me concluir, Roan, pode parecer loucura, mas nosso guerreiro Amom está saindo hoje, juntamente com a nossa rainha e a guerreira Aulah, para procurarem os povos Maurid , Koré, Bores, Marucos e as demais tribos da região, para juntos criarmos um grande exército capaz de resgatar nossos guerreiros. Agora eles já estão a caminho da Aldeia Maurid, quero que você seja o instrutor das nossas guerreiras, eu também participarei no que puder ajudar, porque afinal também sou um guerreiro.
- Sim, senhor, majestade, vou colaborar e transformaremos as caçadoras em guerreiras...
 
Amom era um guerreiro de qualidades excepcionais,  além de ser um mestre na arte do uso da lança, tanto da forma defensiva quanto ofensiva, sabia usar o arco para atirar a flecha com uma exatidão de milímetros, e aprendeu também com um antigo guerreiro Van, a usar a espada. Na aldeia havia uma única espada, de aço brilhante como a prata polida, que esse velho guerreiro havia subtraído de um inimigo que ele matara com sua lança. Como Amom aprendeu a manipulá-la com esse guerreiro, inicialmente usando uma cópia feita de madeira de lei, bastante pesada para capacitá-lo nos movimentos de ataque e defesa, Radei, seu instrutor, quando morreu, deixou de herança, essa valiosa espada para Amom.
Naquela incursão para encontrar as outras tribos, Amom usava pendurada no ombro, a sacola com as flechas, na mão esquerda, o seu arco, na mão direita a sua inseparável lança, e na cintura, presa na bainha, a sua espada brilhante. 
As duas embaixadoras também portavam suas armas, os arcos, as flechas e as lanças. 
Até a terra Maurid era uma longa caminhada, teriam que passar por uma nesga do deserto onde os mauritanos dominavam, eles eram sanguinários e teriam de ser evitados e quando chegassem ao Oásis dos Gambas,  teriam que tomar a rota à esquerda em direção ao ocidente, como se fossem buscar o mar, e finalmente se embrenhariam na floresta até encontrarem a Aldeia Maurid.
No primeiro dia passariam por lugares parecidos aos quais  viviam, infestados por leões, zebras, girafas e elefantes, depois chegariam na outra margem do grande lago onde anteriormente tinham vivido, só depois entrariam no perigoso deserto dominado pelos mauritanos, até encontrarem o Oásis dos Gambas, que chegariam no final do segundo dia. Do Oásis em diante as coisas seriam menos complicadas, os Maurides não eram belicosos. 
No primeiro dia fizeram uma caminhada proveitosa e acamparam junto ao lago, de lá dava para se ver onde era a Aldeia Van original, onde hoje estavam os Cored que os haviam expulsados e tomaram seus lugares. Uma ponta de ódio tomou conta de Amom, com eles não faria acordo, porque quando os Van foram subjugados, parte dos guerreiros foram escravizados pelos Cored e soube-se depois que eles haviam negociado esses escravos com um traficante brasileiro de nome Francisco Félix de Souza que os embarcou para o Brasil. Entre eles estava um irmão de Amom. 
Quando eles acamparam, Amom alertou para Kally e Aulah  que aproveitassem e tomassem banho no lago e enchessem seus cantis porque no dia seguinte seguiriam por dentro do deserto e teriam que sair de madrugada, enquanto ainda estivesse fazendo frio, durante o dia eles sentiriam um calor abrasador. Assim foi feito, as mulheres se banharam , coletaram a água em seus cantis e se deitaram sobre uma palha. Quando o casal já estava dormindo, os dois acordaram com um grito agudo de Kally:
- Escorpião!
Ela sentiu o andar do inseto sobre sua coxa, deu um tapa nele mas não foi picada...
Daquele momento em diante ninguém conseguiu mais dormir, talvez naquela palha onde eles haviam se deitado, estivesse o ninho onde se multiplicavam.
Acenderam a lamparina, procuraram um novo local, mas ficaram de tal modo excitados que não conseguiram conciliar o sono. 
De manhã, quando o sol se abriu, eles mortos de sono, procuraram um novo local para descansar, dormiram até bem tarde e Roan preferiu acampar em novo recanto perto do lago, fazer uma pescaria e só prosseguir viagem no dia seguinte.