A Aldeia (XXV)
 
De noite, após a festa, os homens e mulheres estavam insaciáveis, fizeram sexo até alta madrugada, por onde se andava ouviam-se os gemidos e os gritos de prazer das mulheres.
Ormec depois de satisfazer Maab, N'Alida e Caaj, continuou a receber carinhos de suas mulheres e continuava fogoso, foi então que lhe deu o estalo:
- Temperaram a capivara com o energizante do Auan! Um remédio que é feito para ser usado como chá, altamente diluído, foi colocado em alta concentração como tempero na carne da capivara... Eis o resultado!
Essa planta é a preferida dos macacos e elefantes quando querem se excitar, e nós tomamos a danada da erva na mesma dose que é usada para elefantes...
 
Amom um homem forte como um touro, era o marido de Aulah...  Com um metro e noventa e cinco de altura, era o mais bravo e respeitado dos guerreiros Van, conhecia todos os tipos de lutas, usava suas armas com maestria. Com uma lança na mão ele defendia-se e atacava como um leão, e por isso esse era seu apelido. Na tribo ninguém o chamava de Amom, mas como o leão Van. Seus feitos eram contados por muitos guerreiros, passavam de boca em boca, de tribo em tribo e já tinha se tornado lenda.
Quando os guerreiros Van não retornaram, um dos idosos disse para as mulheres que elas podiam esperar porque Amom retornaria, e iria salvar a todos, que ele havia sonhado com isso e seu sonho se tornaria realidade. Mas por Amom ser um vencedor em torneios e lutas, por ser venerado por adultos e crianças, o sonho do ancião foi relegado ao mito que havia sido criado em torno do seu nome, e depois de algum tempo ninguém mais falou nisso.
Quando os rapazes criadores de cabra vieram para a Aldeia Van,  certos assuntos viraram tabus, ninguém falava, por exemplo nos guerreiros desaparecidos, nos seus feitos e nem se cogitava também do retorno de algum deles.
O luto havia acabado e os guerreiros agora estavam enterrados na memória de suas mulheres, era melhor assim, elas não sentiriam remorsos, a vida se encarrega de enterrar seus mortos.
Rei morto, rei posto!
 
Ormec agora tinha de voltar ao local onde recolhera os temperos, porque bem perto de lá ele encontrara o revigorante para Auan, e seria melhor ele trazer logo antes que a rainha Kally tivesse um dos seus ataques de fúria e descarregasse contra ele. Dele, afinal, como ela bem disse, estava dependendo a continuidade no reinado, da dinastia Auan.
Dessa feita Ormec tinha saído sozinho, e para melhor aproveitar a caminhada e incursão no bosque, colocou pendurado, dois embornais, cada um pendendo sobre um ombro. O que ele encontrasse, ervas medicinais, flores, o energizante, todas e quaisquer  mudas que servissem, ele traria.
Afastando galhos à sua frente, ele ia buscando e recolhendo o que lhe interessava, mas ainda faltava encontrar o energizante do rei, e enquanto ele não o encontrasse não voltaria.
Enfim, quando já estava desaparecendo o sol no horizonte, Ormec encontrou o arbusto que tanto queria, mas enquanto recolhia as folhas,  viu algo se mexer numa moita ao lado, pensou  tratar-se de algum animal,  já havia até armado sua lança, mas ao reparar bem, era um homem.
Seu estado era lastimável, suas costas todas laceradas por chicotadas, uma grande cicatriz no peito, se ele fosse deixado ali certamente morreria, mas ferido como estava, não teria forças para caminhar até a aldeia, nem ele teria condições de carregá-lo por ser muito pesado. Ele era um homem alto e forte, mas seu estado era tão débil que não conseguia nem falar, mas certamente entenderia.
- Se você me entende, amigo, acene com a cabeça.
E ele balançou fragilmente com a cabeça.
- Eu vou na aldeia Van pedir socorro para você, me entendeu?
Ele fez novamente um gesto com a cabeça demonstrando ter entendido e Ormec voltou correndo para a aldeia, tentando marcar bem o local em que o estranho se encontrava, mas logo veio a noite e quando ele chegou na aldeia já estava escuro.