A Aldeia (XXIV)
 
Refresco de tamarindo, aquele azedinho do último gole, é hora de brindar a construção do palácio real!
Auan, na cabeceira da grande mesa, onde estava no centro, colocada a capivara como prato principal, acompanhado por um creme de feijão branco, angu de milho verde, inhame, mandioca, batata roxa e amendoim torrado.
O cheiro da capivara despertava o apetite e o tardar da refeição a tornava mais esperada.
- Quero levantar um brinde aos construtores do nosso palácio, e a todos os que direta ou indiretamente estiveram envolvidos em fazer os canteiros, plantar essas preciosas flores para nos alegrar, mas principalmente para esses jovens que vieram para aqui a nos ajudar a reconstruir a nossa Aldeia Van! A todos um brinde! Não quero que sobre nem um pedaço dessa capivara, que todos tenham bom apetite! As gamelas com os diversos tipos de comidas foram passando de mão em mão, as pessoas foram se servindo, as mulheres repartindo a capivara toda tostadinha, deliciosamente condimentada para cada um dos comensais. Alguns serviam seus pratos e iam se sentar junto da gameleira, outros junto ao portal da casa, ou num toco que faziam de banco. E todos se regalaram e elogiaram o tempero maravilhoso da carne. O único cachorro da aldeia, latia constantemente pedindo sobras.
Algumas mulheres beberam um fermentado de ervas com abacaxi, ficaram tontas e começaram a trocar as pernas, enquanto as galhofeiras zombavam da situação. No final algumas delas deitaram numa sombra, ali mesmo, e dormiram sob o efeito do álcool. Entre elas estava a rainha, que sem nenhuma compostura real, dormira, deixando à mostra a sua nudez.
- Que diabo de bebida foi dada para esse povo que deixou todo mundo dormindo?
Auan passou entre as guerreiras que dormiam, puxou a curta saia de Kally   e foi também tirar a sua sesta, sem imaginar a causa de tamanho torpor que aconteceu com suas guerreiras. 
O pessoal ficou de tal forma dopado, que a comida ficou exposta atraindo moscas que rondavam a mesa. Quando as guerreiras começaram a acordar, olhavam espantadas à volta pedindo uma explicação para o acontecido.
 
Ormec voltou à cozinha para procurar as suas ervas para plantar as mudas e não as encontrou, perguntou para Aulah, uma das poucas que estavam acordadas, e ela lhe disse que não sobraram ervas, elas faziam parte do tempero que fora usado no preparo da capivara. As cozinheiras pegaram as ervas que ele trouxe e fizeram uma vinha d'alho na qual mergulharam a capivara, e por isso é que a carne tinha ficado tão gostosa. 
- Que droga, pensou Ormec, usaram a erva que separei para energizar o Auan e fizeram com ela o tempero da capivara...
 
Aos poucos as guerreiras acordaram, limparam a mesa, retiraram as sobras e a vida foi voltando ao normal e foram fazer os preparativos para a inauguração do palácio real. A mudança já tinha sido feita, as tralhas das anciãs foram transferidas para a casa nova causando reclamações, elas não gostavam de mudanças.
De noite, Isaac e Malec comandaram a festa, tanto Malec quanto Isaac sabiam tocar divinamente a flauta, Malec era mais desinibido, mas Isaac foi seu professor. Enquanto Malec tocava a flauta, Isaac lia suas poesias dirigidas para suas quatro musas.Ora ele dedicava a uma, ora dedicava à outra, e todas foram fontes inspiradoras para ele. 
Aulah tinha estendido uma fita na porta da casa e Auan foi convidado a desatá-la inaugurando o palácio real.
- Está inaugurado o palácio real!