A Aldeia (XXI)
 
Um dia Ormec estava replantando samambaias e pendurando os vasos na varanda do palácio real, quando chegou Kally  e lhe perguntou:
- Ormec, você que entende tanto de plantas, não poderia colher na mata, alguma erva que eu pudesse fazer um chá para levantar as forças do Auan?
 - Um revigorante, um energizante, é isso que a minha rainha quer dizer, não é?
- É, um energizante sexual, eu queria ser mãe novamente e nem sempre ele tem desejos na época certa, mas não quero dizer que ele deixa de me dar prazer, entende?
- Eu compreendo, pode deixar que eu vou providenciar, majestade.
- Por favor, Ormec, esse nosso diálogo é sigiloso, ninguém precisa saber.
- Eu compreendo, majestade.
 
Roan reuniu os meninos da aldeia para lhes ensinar técnicas de ataque e defesa pessoal. A iniciativa fez o maior sucesso, e logo as guerreiras quiseram se inscrever também no curso, de modo que ele teve de fazer duas turmas, de crianças, que funcionavam segundas, quartas e sextas e das guerreiras, terças e quartas.
- Professor, porque tenho de aprender a cair?
- Para quando tiver uma queda não se machucar, você está aprendendo a se proteger.
- Mas quero aprender a derrubar os outros...
- Você vai aprender, tenha calma Oriano!
- Vocês vão ter de aprender direitinho porque quando já estiverem conhecendo bem os golpes, nós vamos fazer um torneio.
- Um torneio?
- Isso, um torneio para saber quem está lutando bem. E os que estiverem lutando melhor vão ganhar um prêmio.
- Que prêmio?
- Eu também não sei, quem vai dar o prêmio será o rei.
Olhou para um dos meninos e perguntou:
- Você não quer ser um guerreiro?
- Eu não, quero ser um rei!
- Mas para ser um rei igual ao Auan, primeiro terá de ser um guerreiro e saber muitas outras coisas.
- Que coisas?
- Saber mais que os outros, dar conselhos, ser um sábio.
- Então o Auan é um sábio?
- Você não sabia? Além de rei é um sábio...
Roan tinha uma paciência de Job para com as crianças, e elas o adoravam.
Durante as aulas com as guerreiras, notava-se facilmente que as suas mulheres tinham uma ponta de ciúme, quando as outras recebiam uma atenção especial, seja numa explicação ou num golpe, quando havia a necessidade do contato físico,  mas ele não se abalava com a variação dos humores femininos, e seguia em frente.
 
Antes do palácio real ficar pronto, Ormec havia preparado um jardim na parte frontal do prédio e jardineiras nas laterais, e ficou de tal modo bonito que os anciãos, foram reclamar com ele, querendo que o jardim circundasse todo o prédio e não só a frente e as laterais. Então ele procurou outros tipos de mudas e com a ajuda dos próprios idosos preparou um jardim que nada ficou a dever à parte da frente.
Ele recolhia todo o excremento das cabras  para servir como adubo, e as plantas, e em resposta, as plantas vicejaram muito rapidamente, com rara beleza.