Campos de calêndulas para sempre

Na manhã fria de primavera, ela pedalava rápido de volta para casa, em meio aos campos tomados por calêndulas alaranjadas. O pai viria no trem de Londres para Oxford, passar o fim de semana com a família, e a mãe quisera preparar algo diferente para o almoço de domingo, numa tentativa de espantar a tristeza pela morte do filho sobre o mar da Noruega.

- Mãe, como vamos fazer um "almoço de gala" com as nossas cadernetas de racionamento? - Questionara Priscilla.

E Helen a mandara ir ao campo com uma lista. A azeda, o agrião e as cebolinhas haviam sido fáceis. Os rabanetes, nem tanto. Um pato ou ganso? Impossível!

- Você é da polícia? - Perguntou uma fazendeira desconfiada.

- Madame, eu tenho cara de policial? - Retrucou altivamente Priscilla, montando de volta na bicicleta e retomando o caminho.

Ao passar em frente ao "cottage" onde os avós maternos haviam vivido, não pode deixar de parar por alguns instantes. A casa, rústica mas acolhedora, estava abandonada há muitos anos e o mato crescera onde antes existiam canteiros de campânulas. Viam-se furos no telhado de palha e um ninho de cegonha vazio ocupava o topo da chaminé de pedra. Priscilla viu-se a si mesma e ao irmão em criança, correndo por ali atrás de borboletas.

- Simon! - Gritou, assustando algumas gralhas que levantaram voo de uma árvore próxima, grasnando em protesto. O campo voltou a ficar silencioso e ela retomou seu caminho, pedalando com mais força.

Ao entrar na cidade e deparar-se com uma fila de garotas em frente à mercearia dos Perkins, parou novamente para inteirar-se do que acontecia:

- Qual é a novidade? - Perguntou para a última da fila. - Laranjas? Queijo? Presunto?

- Nada disso - respondeu a garota sorridente. - Meias de nylon!

- Uau! - Exclamou Priscilla. - Acho que ainda tenho alguns cupons de roupa que posso usar!

E, equilibrando a cesta de verduras, tomou o rumo de casa feito uma flecha.

A primeira coisa que viu ao entrar na rua foi a mãe, na porta de casa, mão em pala sobre os olhos.

- Priscilla!

Ela parou a bicicleta de chofre, em frente à casa.

- O que foi, mãe?! Estou aqui!

- Priscilla - repetiu Helen. - Ela se foi!

- Ela... foi?

- Para Minster Lovell. O aeródromo.

Priscilla largou a cesta de vime no chão e gritou:

- Vou atrás dela, mãe!

- Não adianta, Priscilla! É inútil!

Priscilla não a ouvia. Concentrada, pedalava cada vez mais rápido rumo à estrada que a levaria à Minster Lovell.

[05-07-2013]

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